São Paulo, sábado, 10 de abril de 2004

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CAPITALISMO VERMELHO

Enquanto Brasil patina, produção chinesa sobe 19,4%; governo teme inflação e tenta conter a atividade

Indústria superaquecida preocupa a China

France Presse
Fábrica de produtos têxteis na cidade de Haikou, na região sul da China; excesso de investimentos preocupa governo e analistas


CLÁUDIA TREVISAN
DE PEQUIM

A economia chinesa registrou nos primeiros três meses de 2004 um ritmo de crescimento superior ao esperado, apesar dos esforços do governo para reduzir o ritmo de expansão do país. O volume de investimentos teve alta de 50% nos primeiros dois meses do ano e a produção industrial subiu 19,4% em março.
No primeiro bimestre, a produção da indústria chinesa cresceu 17% na comparação com o ano passado. No mesmo período, a indústria brasileira cresceu apenas 2,7%, de acordo com o IBGE -em fevereiro, houve queda de 1,8% ante janeiro.
Enquanto no Brasil a economia ainda vacila, com uma queda de 0,2% no PIB no ano passado, na China o problema é o superaquecimento. Economistas alertam para riscos como a falta de energia e o descontrole da inflação.
O PIB chinês cresceu 9,1% em 2003 e o governo anunciou a intenção de desacelerar o índice a 7% neste ano. Mas tudo indica que o país caminha para manter o mesmo ritmo de expansão do ano passado, ou superá-lo.
Andy Xie, diretor do banco Morgan Stanley em Hong Kong, é um dos analistas que mais têm expressado preocupação em relação ao crescimento não-sustentável da China. Para ele, o aumento nos investimentos é o principal termômetro dessa tendência. Antes da expansão de 50% nos dois primeiros meses de 2004, os investimentos já haviam registrado alta de 30% no ano passado, para um total de US$ 667 bilhões.
"O investimento cresceu muito porque os lucros são muito altos e há muita especulação", afirma Xie, para quem uma das maiores "bolhas" existentes hoje na economia mundial envolve o mercado imobiliário chinês.
"Esse ritmo de crescimento nos investimentos não é sustentável e pode criar desequilíbrios no futuro", avalia Tang Min, economista-chefe do escritório chinês do Banco de Desenvolvimento da Ásia.
Diante da possibilidade de superaquecimento, é crescente o número de analistas que apostam em um aumento da taxa básica de juros da economia, que seria o primeiro depois de oito anos. A taxa básica para depósitos bancários de um ano está em 1,98%.
O risco mais evidente de um superaquecimento da economia é o aumento de preços. Em janeiro, o índice de preços ao consumidor chinês teve alta de 3,2%, o maior desde abril de 1997. Em todo o ano passado, o indicador teve expansão de 1,2%.
A crescente demanda chinesa por matéria-prima está afetando os preços de alguns produtos em todo o mundo. No ano passado, o país consumiu 30% do aço produzido globalmente e esse foi um dos fatores que pressionaram a cotação do produto no mercado internacional. Empresas brasileiras que usam aço tiveram de arcar com alta do preços do produto de até 15% apenas em janeiro.
Analistas acreditam que a inflação tem importância cada vez maior na política monetária chinesa, que até recentemente teve de lidar com o problema oposto, a deflação. A luz amarela acendeu na semana passada, depois que um economista do governo, Chen Dongqi, disse ao jornal "Shanghai Securities" que o PIB poderia ter expansão de dois dígitos no primeiro semestre deste ano.

Apagão
Xie, do Morgan Stanley, afirma que outro sério problema é o risco de falta de energia. Diz que a infra-estrutura não comporta um crescimento superior a 8% ao ano. Uma expansão acima desse índice pode levar ao racionamento e a uma redução brusca no ritmo de expansão do PIB, com conseqüências nefastas sobre a economia mundial, afirma Xie.
O governo adotou algumas medidas para conter a atividade econômica, a maior parte voltada ao setor financeiro. Entre elas, o aumento dos depósitos compulsórios dos bancos e restrições ao financiamento imobiliário.
Wang Jian, professor da Universidade Internacional de Negócios e Economia, não vê problemas no atual ritmo de expansão do país. "A China precisa crescer no mínimo 7% só para absorver as pessoas que entram todos os anos no mercado de trabalho."



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