São Paulo, terça-feira, 10 de abril de 2007

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Agrofolha

Febre do etanol nos EUA eleva liquidez do milho no Brasil

Expansão da procura entre norte-americanos deve elevar exportações e sustentar preços internos no Brasil, diz analista

Vantagem do Brasil é possibilidade de melhorar a produtividade; nos Estados Unidos, a produção está no limite, não há essa margem


Fernando Donasci/Folha Imagem
Amanhecer em plantação de milho no Estado de Mato Grosso


MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO

O crescimento da demanda por milho nos Estados Unidos começa a imprimir mudanças também no mercado brasileiro. Uma das principais, segundo Fernando Muraro, da Agência Rural, de Curitiba, é que o produto ganha liquidez.
Tradicionalmente, o milho não atraía muito a atenção dos produtores devido às dificuldades nas negociações. Com a produção praticamente voltada para o mercado interno, os produtores chegavam a receber preços inferiores aos de custo de produção nos anos de boa safra, como em 2000.
Muraro diz que o uso do milho como matéria-prima para a produção de álcool nos EUA cria novo cenário para o produto brasileiro. Na avaliação do analista, a liquidez -maior facilidade na comercialização do produto- vai permitir um avanço do plantio de milho na safrinha não só nas áreas tradicionais, mas também em novas regiões. Ele prevê que o país plantará, apenas no período de safrinha (a segunda safra de milho, que ocorre no inverno) 5,5 milhões de hectares em 2009/10. O plantio atual é de 4 milhões de hectares.
Leonardo Sologuren, da consultoria Céleres, de Uberlândia (MG), diz que a demanda por milho nos EUA, além de dar sustentação aos preços internos no Brasil, deve elevar as exportações. Na avaliação dele, em três anos o país deverá exportar 13 milhões de toneladas do produto, bem acima dos 7,5 milhões previstos para 2007.
Para José Pitoli, da Coopermibra (Cooperativa Mista de Agropecuária do Brasil), a resposta do produtor será rápida, em relação à área e à produção. Mas dependerá dos preços.
Com câmbio fraco e logística inadequada, o preço do milho deve permanecer ao menos nos patamares de US$ 3,80 por bushel (25,2 quilos) em Chicago para ser competitivo aos brasileiros. Na quinta passada, o contrato de setembro fechou a US$ 3,81. O aumento de produção vai depender também dos preços internos, que só ficarão sustentados com uma exportação próxima de dez milhões de toneladas por ano.
Muraro diz que a participação maior do Brasil nas negociações internacionais é certa. Segundo ele, o mercado adota novos mecanismos, como contratos futuros de exportação, que vão sedimentar essas vendas. Neste ano, os contratos já somam 2 milhões de toneladas.
Sologuren vê o mercado de milho sob dois ângulos, e ambos devem dar sustentação aos preços internos. Internamente, haverá aumento do consumo de ração, principalmente porque o Brasil continuará como principal fornecedor de carne de frango ao munido. Do ponto de vista externo, Rússia, México e Ucrânia estão ampliando a produção de frango e vão necessitar de mais milho.
A China também deve ser grande participante do mercado internacional de milho. O país terá de importar perto de 10 milhões de toneladas do cereal em 10 anos.
Os EUA respondem por 70% do mercado internacional de milho hoje, mas, devido à demanda interna crescente, o país deverá deixar espaço para Brasil e Argentina, na avaliação de Muraro e de Sologuren.
Para os três analistas, o Brasil tem vantagem ante os demais produtores de milho: pode melhorar sua produtividade. Segundo Sologuren, os EUA devem elevar a produtividade ainda mais nos próximos anos, mas não terão muito mais a crescer. Já os brasileiros ainda têm muito espaço para ganhar.
Por aqui, a produtividade média por hectare é de apenas 3.500 quilos. Os chineses conseguem colher 5.000 quilos e os argentinos, 7.000. Já nos EUA, a produtividade média é de 9.000 quilos.
Muraro diz que a resposta do milho é muito mais eficiente do que a da soja. Se o produtor usar novas tecnologias na cultura, consegue passar rapidamente de 3.500 quilos para 6.000 quilos ou mais.
Ante a facilidade de crescimento da produtividade -e dos bons preços provocados pela demanda-, Muraro diz que o milho deixará de ser apenas mais uma cultura de inverno.


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