São Paulo, sexta-feira, 10 de abril de 2009

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Lula quer reduzir meta de aperto fiscal em 2010

Governo estuda tirar Petrobras de cálculo para elevar investimento em ano eleitoral

Na equipe econômica, há quem defenda excluir todas as estatais da conta, o que poderia resultar em superávit primário ainda menor

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva pretende reduzir a meta de superávit primário para o ano eleitoral de 2010, o que, na prática, abriria caminho para o aumento de despesas, especialmente investimentos em infraestrutura.
Segundo apurou a Folha, Lula e ministros debatem uma mudança de metodologia no cálculo do superávit na qual a Petrobras seria excluída da conta. Na prática, isso significaria um esforço fiscal menor. O superávit primário é a parcela da arrecadação tributária destinada ao abatimento da dívida pública.
Para o ano de 2009, a meta da Petrobras para compor o superávit primário federal é de R$ 14,9 bilhões. Com a estatal fora da conta, o governo teria liberado esse montante para investimentos num ano de eleição e no qual ainda lidará com efeitos da crise econômica internacional -sem falar nas despesas necessárias para a exploração do petróleo descoberto na camada pré-sal.
A redução do superávit deverá ser oficializada até o dia 15, prazo final para o governo enviar ao Congresso a proposta de LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) para 2010. Com a mudança de metodologia, o governo poderia até manter no papel uma meta de 3,8% do PIB (Produto Interno Bruto). Na realidade, a economia seria menor.
No governo Lula, já houve uma mudança de metodologia que resultou na possibilidade de um superávit menor na prática. Criado em 2005, o PPI (Projeto Piloto de Investimentos) permite contabilizar 0,5 ponto percentual do PIB como parte do superávit em obras consideradas prioritárias. Esse 0,5 ponto percentual do PIB equivale hoje a R$ 15,6 bilhões.
Com o PPI e a Petrobras excluídos na prática do superávit, a meta poderia ficar contabilmente em 3,8%, mas ser de 2,8% na realidade.
A Folha apurou que, na equipe econômica, há quem defenda a exclusão de todas as estatais do superávit primário, o que poderia resultar num número menor ainda. Uma hipótese seria um superávit primário na casa dos 2,3% do PIB. Lula simpatiza com a ideia, segundo apurou a reportagem.

Cautela
O governo vem debatendo com cautela a redução do superávit primário porque ele tem sido um dos pilares da política econômica desde 2003, quando o PT chegou ao poder central e elevou as metas criadas na administração FHC. Ontem, o presidente discutiu o assunto com os ministros Paulo Bernardo (Planejamento) e Guido Mantega (Fazenda) em seu gabinete no CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil) -local em que se instalou a sede do governo enquanto dura a reforma do Palácio do Planalto.
Na avaliação de Lula, a crise econômica internacional reforçou os argumentos dos que defendem maior intervenção estatal na economia. Com um superávit menor, o governo teria mais recursos para injetar na economia, o que ajudaria, na visão presidencial, a minimizar os efeitos recessivos no Brasil.
Do ponto de vista político e econômico, Lula acredita que terá discurso para justificar um superávit menor. Ele tem argumentado que a queda dos juros básicos (Selic) contribui para reduzir despesas do governo, pois também diminui o crescimento de sua dívida. Com a redução da Selic em 2009, o governo avalia que gastará menos R$ 15 bilhões no pagamento de juros da dívida.
Hoje, a dívida pública está na casa dos 37% do PIB. A equipe econômica diz a Lula que seria possível reduzir o superávit primário e mesmo assim manter essa relação estável ou com leve alta. Ministros afirmam que, no mundo inteiro, governos têm aumentado a sua dívida para combater a crise, e o Brasil poderia seguir esse caminho de forma responsável.
Do ponto de vista eleitoral, a redução do superávit vitaminaria o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), a cargo da potencial candidata de Lula ao Planalto, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff.


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