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Sanofi compra Medley e vira líder no país
Grupo farmacêutico francês adquire empresa brasileira avaliada em R$ 1,5 bi; valor final da operação ainda vai ser definido
Crise teria acelerado a venda da Medley; empresa de
capital fechado, ela fatura
R$ 458 milhões, e genéricos
são a maior fonte de receita
JULIO WIZIACK
DA REPORTAGEM LOCAL
O grupo farmacêutico francês Sanofi-aventis anunciou
ontem a compra da Medley,
terceiro maior fabricante de
medicamentos do país, avaliado em R$ 1,5 bilhão, valor que
ainda deve sofrer alteração até
que sejam definidos os detalhes
da operação. O negócio cria o
maior laboratório do país, com
participação de mercado de
11,65%, segundo a IMS Health.
A venda da Medley acelerou-se com o agravamento da crise
financeira. Empresa de capital
fechado controlada por Alexandre Negrão, ela se consolidou com a produção de genéricos, que representa dois terços
de seu faturamento.
Somando as receitas dos genéricos com a dos seus medicamentos de marca (protegidos
por patentes), a Medley passou
da 7ª para a 3ª posição na lista
dos maiores laboratórios no
Brasil entre 2004 e 2008.
As receitas, que somaram R$
458 milhões no ano passado,
cresceram 28% nos últimos
três anos. Especialistas e analistas consultados viram aí um
problema. Segundo eles, estimulada pela fartura de crédito
no mercado, a Medley teria colocado em prática uma política
comercial agressiva.
No total das vendas, as realizadas à vista representariam
um terço. O restante seriam negócios parcelados aos atacadistas. E essas receitas futuras foram transformadas em títulos
recebíveis adquiridos pelo
mercado. A situação teria se
agravado com a crise financeira
que restringiu o crédito, complicando o pagamento do retorno desses títulos pela Medley
aos seus credores. Por isso, espera-se que o valor final da operação de venda seja reduzido.
Procurada pela Folha, a Medley recusou-se a comentar.
Para a Sanofi-aventis, a compra foi uma decisão estratégica.
A companhia francesa está investindo pesado nos genéricos
e adquirindo companhias em
mercados emergentes. Eles devem puxar a expansão do setor
nos próximos quatro anos.
Nesse período, as previsões de
crescimento dos genéricos nos
emergentes estão acima de
20%, enquanto as estimativas
para os demais mercados
apontam ritmo em torno de
10%. Esse cenário já levou o
grupo a adquirir laboratórios
no Leste Europeu e no México.
No Brasil, há um atrativo a
mais com o vencimento das patentes de medicamentos de
marca -permitindo a fabricação de genéricos. Entre eles, estão sucessos de venda como o
Viagra e o Cialis e diversos outros para o tratamento de
doenças que afetam a maior
parte da população. Um deles é
o Liptor, da Pfizer, que combate o colesterol.
"O mercado de genéricos deve sofrer um aquecimento com
o vencimento dessas patentes",
afirma Odnir Finotti, presidente da PróGenéricos, associação
dos laboratórios de similares.
"A indústria poderá investir
nos genéricos desses remédios,
que custarão menos."
Em países desenvolvidos, a
venda de genéricos representa
60% do total, caso dos EUA e
do Reino Unido. Mas, nesses
locais, o mercado cresce lentamente. No Brasil, esse índice é
de 16,6%, número parecido
com o dos demais emergentes.
"Temos muito para crescer."
A compra da Medley pela Sanofi-aventis é um sinal desse
movimento. Estima-se que os
laboratórios investirão US$
354 milhões até 2010 só no aumento da oferta de novos genéricos. A Sanofi já anunciou que
irá diversificar seu portfólio de
produtos -eles serão específicos para as necessidades brasileiras-, indo de vacinas a comprimidos para dor de cabeça.
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