São Paulo, sexta-feira, 10 de abril de 2009

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Sanofi compra Medley e vira líder no país

Grupo farmacêutico francês adquire empresa brasileira avaliada em R$ 1,5 bi; valor final da operação ainda vai ser definido

Crise teria acelerado a venda da Medley; empresa de capital fechado, ela fatura R$ 458 milhões, e genéricos são a maior fonte de receita

JULIO WIZIACK
DA REPORTAGEM LOCAL

O grupo farmacêutico francês Sanofi-aventis anunciou ontem a compra da Medley, terceiro maior fabricante de medicamentos do país, avaliado em R$ 1,5 bilhão, valor que ainda deve sofrer alteração até que sejam definidos os detalhes da operação. O negócio cria o maior laboratório do país, com participação de mercado de 11,65%, segundo a IMS Health.
A venda da Medley acelerou-se com o agravamento da crise financeira. Empresa de capital fechado controlada por Alexandre Negrão, ela se consolidou com a produção de genéricos, que representa dois terços de seu faturamento.
Somando as receitas dos genéricos com a dos seus medicamentos de marca (protegidos por patentes), a Medley passou da 7ª para a 3ª posição na lista dos maiores laboratórios no Brasil entre 2004 e 2008.
As receitas, que somaram R$ 458 milhões no ano passado, cresceram 28% nos últimos três anos. Especialistas e analistas consultados viram aí um problema. Segundo eles, estimulada pela fartura de crédito no mercado, a Medley teria colocado em prática uma política comercial agressiva.
No total das vendas, as realizadas à vista representariam um terço. O restante seriam negócios parcelados aos atacadistas. E essas receitas futuras foram transformadas em títulos recebíveis adquiridos pelo mercado. A situação teria se agravado com a crise financeira que restringiu o crédito, complicando o pagamento do retorno desses títulos pela Medley aos seus credores. Por isso, espera-se que o valor final da operação de venda seja reduzido. Procurada pela Folha, a Medley recusou-se a comentar.
Para a Sanofi-aventis, a compra foi uma decisão estratégica. A companhia francesa está investindo pesado nos genéricos e adquirindo companhias em mercados emergentes. Eles devem puxar a expansão do setor nos próximos quatro anos. Nesse período, as previsões de crescimento dos genéricos nos emergentes estão acima de 20%, enquanto as estimativas para os demais mercados apontam ritmo em torno de 10%. Esse cenário já levou o grupo a adquirir laboratórios no Leste Europeu e no México.
No Brasil, há um atrativo a mais com o vencimento das patentes de medicamentos de marca -permitindo a fabricação de genéricos. Entre eles, estão sucessos de venda como o Viagra e o Cialis e diversos outros para o tratamento de doenças que afetam a maior parte da população. Um deles é o Liptor, da Pfizer, que combate o colesterol.
"O mercado de genéricos deve sofrer um aquecimento com o vencimento dessas patentes", afirma Odnir Finotti, presidente da PróGenéricos, associação dos laboratórios de similares. "A indústria poderá investir nos genéricos desses remédios, que custarão menos."
Em países desenvolvidos, a venda de genéricos representa 60% do total, caso dos EUA e do Reino Unido. Mas, nesses locais, o mercado cresce lentamente. No Brasil, esse índice é de 16,6%, número parecido com o dos demais emergentes. "Temos muito para crescer."
A compra da Medley pela Sanofi-aventis é um sinal desse movimento. Estima-se que os laboratórios investirão US$ 354 milhões até 2010 só no aumento da oferta de novos genéricos. A Sanofi já anunciou que irá diversificar seu portfólio de produtos -eles serão específicos para as necessidades brasileiras-, indo de vacinas a comprimidos para dor de cabeça.


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