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TENSÃO ENTRE VIZINHOS
No Senado, ministro critica ocupação da Petrobras
Ações de Chávez provocam
"desconforto", diz Amorim
FERNANDO ITOKAZU
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, afirmou
ontem que a política externa brasileira "nunca será a do porrete",
ao falar sobre a crise do gás a senadores, e admitiu que o venezuelano Hugo Chávez às vezes causa
"desconforto" ao Brasil. Chamou
a atitude boliviana de ocupar instalações da Petrobras com tropas
de "adolescente".
"A política do Brasil nunca será
a do porrete, mas a da boa vizinhança", disse o chanceler, que
declarou ainda que o governo trabalha em um projeto de integração da América do Sul. Ele falou
por cinco horas sobre a crise do
gás e temas correlatos à Comissão
de Relações Exteriores do Senado.
Amorim foi questionado por
que o presidente venezuelano
compareceu à reunião em Puerto
Iguazú com seus colegas Luiz Inácio Lula da Silva, Evo Morales
(Bolívia) e Néstor Kirchner (Argentina) -os três países envolvidos na crise do gás boliviano.
A presença de Chávez foi justificada pelo fato de o encontro tratar
da integração energética da América do Sul e de as principais reservas estarem na Venezuela. Segundo Amorim, Chávez teve uma atitude construtiva na reunião.
As atitudes de Chávez que desagradaram ao governo brasileiro
aconteceram antes de a Bolívia
anunciar a nacionalização do gás
e do petróleo. O governo tinha informações de que havia funcionários da PDVSA (Petroleo de Venezuela S.A.) na Bolívia. Além
disso, Chávez participou de um
encontro sobre energia com Uruguai, Paraguai e Bolívia.
"Foi transmitido ao presidente
Chávez nosso desconforto e o
desconforto pessoal do presidente Lula com algumas dessas
ações", disse Amorim. "A ponto
de ele [Lula] dizer que isso colocava em risco o gasoduto [Argentina-Brasil-Venezuela] e a própria
integração sul-americana."
O gasoduto é uma obra prevista
para 2017, que corta a América do
Sul, da Venezuela à Argentina.
Apesar das críticas, o chanceler
disse não estar de acordo com a
informação de que "Morales está
nas mãos de Chávez".
Amorim foi questionado por alguns senadores se a decisão boliviana não mereceria reação mais
vigorosa do Itamaraty. De acordo
com o ministro, há momentos para se fazer barulho e ser estridente
e momentos em que a diplomacia
deve agir silenciosamente.
"Se o presidente Lula quisesse
agir eleitoralmente, ele teria feito
um enorme barulho, e, qualquer
que fosse o resultado, iria render
dividendos internos, mas não ajudaria a resolver o problema."
Na avaliação de Amorim, a integração com a Bolívia acontecerá
por bem ou mal. "Ou nós nos integramos pelo bem, pelo comércio, pela tecnologia e pela cooperação, ou pelo mal, pelo narcotráfico, a guerrilha e o contrabando."
Os senadores também perguntaram se o anúncio da Bolívia e o
fato de militares terem ocupado
refinarias não poderia servir de
exemplo para outros países. Foi
citada a hipótese de o Paraguai
ocupar a usina de Itaipu.
O governo classificou a ocupação militar de um gesto espetaculoso e desnecessário, mas não
concorda com o argumento de
que o fato servirá como exemplo.
"Não posso julgar se foi correta ou
errada, mas foi uma atitude de
adolescente", disse Amorim.
"Está havendo uma dramatização excessiva, imaginar que tropas vão ocupar Itaipu ou invadir o
Acre em função de uma manifestação inconveniente", afirmou
Amorim aos senadores.
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