São Paulo, quarta-feira, 10 de maio de 2006

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TENSÃO ENTRE VIZINHOS

No Senado, ministro critica ocupação da Petrobras

Ações de Chávez provocam "desconforto", diz Amorim

FERNANDO ITOKAZU
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, afirmou ontem que a política externa brasileira "nunca será a do porrete", ao falar sobre a crise do gás a senadores, e admitiu que o venezuelano Hugo Chávez às vezes causa "desconforto" ao Brasil. Chamou a atitude boliviana de ocupar instalações da Petrobras com tropas de "adolescente".
"A política do Brasil nunca será a do porrete, mas a da boa vizinhança", disse o chanceler, que declarou ainda que o governo trabalha em um projeto de integração da América do Sul. Ele falou por cinco horas sobre a crise do gás e temas correlatos à Comissão de Relações Exteriores do Senado.
Amorim foi questionado por que o presidente venezuelano compareceu à reunião em Puerto Iguazú com seus colegas Luiz Inácio Lula da Silva, Evo Morales (Bolívia) e Néstor Kirchner (Argentina) -os três países envolvidos na crise do gás boliviano.
A presença de Chávez foi justificada pelo fato de o encontro tratar da integração energética da América do Sul e de as principais reservas estarem na Venezuela. Segundo Amorim, Chávez teve uma atitude construtiva na reunião.
As atitudes de Chávez que desagradaram ao governo brasileiro aconteceram antes de a Bolívia anunciar a nacionalização do gás e do petróleo. O governo tinha informações de que havia funcionários da PDVSA (Petroleo de Venezuela S.A.) na Bolívia. Além disso, Chávez participou de um encontro sobre energia com Uruguai, Paraguai e Bolívia.
"Foi transmitido ao presidente Chávez nosso desconforto e o desconforto pessoal do presidente Lula com algumas dessas ações", disse Amorim. "A ponto de ele [Lula] dizer que isso colocava em risco o gasoduto [Argentina-Brasil-Venezuela] e a própria integração sul-americana."
O gasoduto é uma obra prevista para 2017, que corta a América do Sul, da Venezuela à Argentina.
Apesar das críticas, o chanceler disse não estar de acordo com a informação de que "Morales está nas mãos de Chávez".
Amorim foi questionado por alguns senadores se a decisão boliviana não mereceria reação mais vigorosa do Itamaraty. De acordo com o ministro, há momentos para se fazer barulho e ser estridente e momentos em que a diplomacia deve agir silenciosamente.
"Se o presidente Lula quisesse agir eleitoralmente, ele teria feito um enorme barulho, e, qualquer que fosse o resultado, iria render dividendos internos, mas não ajudaria a resolver o problema."
Na avaliação de Amorim, a integração com a Bolívia acontecerá por bem ou mal. "Ou nós nos integramos pelo bem, pelo comércio, pela tecnologia e pela cooperação, ou pelo mal, pelo narcotráfico, a guerrilha e o contrabando."
Os senadores também perguntaram se o anúncio da Bolívia e o fato de militares terem ocupado refinarias não poderia servir de exemplo para outros países. Foi citada a hipótese de o Paraguai ocupar a usina de Itaipu.
O governo classificou a ocupação militar de um gesto espetaculoso e desnecessário, mas não concorda com o argumento de que o fato servirá como exemplo. "Não posso julgar se foi correta ou errada, mas foi uma atitude de adolescente", disse Amorim.
"Está havendo uma dramatização excessiva, imaginar que tropas vão ocupar Itaipu ou invadir o Acre em função de uma manifestação inconveniente", afirmou Amorim aos senadores.


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