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CONFLITO INTERNO
Ministro afirma que seria o "fim da picada" ele não opinar sobre inflação e que BC tem "sensibilidade"
Fazenda tem opinião sobre juro, diz Mantega
JULIANNA SOFIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Embora negue haver um clima
de mal-estar com o Banco Central, o ministro Guido Mantega
(Fazenda) voltou a dar demonstrações de que não vai moderar o
discurso quando o assunto for inflação e taxa de juros. Ontem, ele
disse que "seria o fim da picada" o
ministro da Fazenda não ter opiniões sobre economia e reafirmou
que a situação nunca esteve tão favorável para a queda dos juros.
"O Copom [Comitê de Política
Monetária do BC] tem autonomia
para decidir. Agora, o ministro da
Fazenda tem a obrigação de analisar a situação econômica, a situação da inflação e tirar suas conclusões. Já pensou o ministro da Fazenda não ter opiniões sobre economia? Seria o fim da picada",
afirmou ele um dia depois de o
presidente do BC, Henrique Meirelles, ter declarado na Suíça que
as pressões da Fazenda não afetarão o banco.
A temperatura vem subindo
desde domingo, quando a Folha
publicou entrevista de Mantega
em que ele disse que a "sintonia"
entre o BC e a Fazenda vai continuar enquanto o Copom mantiver a redução na taxa de juros. Na
segunda, Meirelles retrucou que a
opinião de "autoridades" são vistas normalmente pelo BC, mas
não influem na decisão dos juros.
O presidente do BC aproveitou
para reafirmar que tem o apoio do
presidente Luiz Inácio Lula da Silva para tomar as iniciativas que
mantenham a inflação sob controle. Ontem, em rápida conversa
com jornalistas na saída do ministério, Mantega concordou com
Meirelles que as opiniões da Fazenda não interferem no Copom.
"É claro que o Copom tem autonomia para decidir, não estou lá
para decidir. Agora, posso analisar e dizer: "A inflação está sob
controle, as taxas de atacado estão
até negativas". Então nunca a situação esteve tão favorável."
Mantega enfatizou que não há
desconforto com o BC e disse que
só faz declarações "elogiosas" em
relação à autoridade monetária.
No comentário, ele não deixou de
alfinetar o Copom, destacando
ser "óbvio" a necessidade de continuação na queda dos juros. Mas
a ata da última reunião do comitê
indicou que as reduções podem
ser mais cautelosas.
"Eu só dou declarações elogiosas em relação ao Banco Central.
Eu digo que eles têm sensibilidade
para analisar a situação da inflação e, a partir dessa sensibilidade,
é óbvio que você vai ter continuação das reduções da taxa", disse.
Questionado sobre o fim dos
tradicionais almoços de terça-feira entre o ministro da Fazenda e a
diretoria do BC, ele afirmou que
foram interrompidos há um ano e
meio. Disse ainda que a primeira
reunião de Meirelles, ao retornar
do exterior, será com ele. "Temos
excelentes relações".
Os almoços eram realizados pelo ex-ministro Pedro Malan (no
governo FHC - 1995/2002) e foram mantidos por seu sucessor,
Antonio Palocci, até pouco antes
da crise que levou à sua queda.
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