São Paulo, quarta-feira, 10 de maio de 2006

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CONFLITO INTERNO

Ministro afirma que seria o "fim da picada" ele não opinar sobre inflação e que BC tem "sensibilidade"

Fazenda tem opinião sobre juro, diz Mantega

JULIANNA SOFIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Embora negue haver um clima de mal-estar com o Banco Central, o ministro Guido Mantega (Fazenda) voltou a dar demonstrações de que não vai moderar o discurso quando o assunto for inflação e taxa de juros. Ontem, ele disse que "seria o fim da picada" o ministro da Fazenda não ter opiniões sobre economia e reafirmou que a situação nunca esteve tão favorável para a queda dos juros.
"O Copom [Comitê de Política Monetária do BC] tem autonomia para decidir. Agora, o ministro da Fazenda tem a obrigação de analisar a situação econômica, a situação da inflação e tirar suas conclusões. Já pensou o ministro da Fazenda não ter opiniões sobre economia? Seria o fim da picada", afirmou ele um dia depois de o presidente do BC, Henrique Meirelles, ter declarado na Suíça que as pressões da Fazenda não afetarão o banco.
A temperatura vem subindo desde domingo, quando a Folha publicou entrevista de Mantega em que ele disse que a "sintonia" entre o BC e a Fazenda vai continuar enquanto o Copom mantiver a redução na taxa de juros. Na segunda, Meirelles retrucou que a opinião de "autoridades" são vistas normalmente pelo BC, mas não influem na decisão dos juros.
O presidente do BC aproveitou para reafirmar que tem o apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para tomar as iniciativas que mantenham a inflação sob controle. Ontem, em rápida conversa com jornalistas na saída do ministério, Mantega concordou com Meirelles que as opiniões da Fazenda não interferem no Copom.
"É claro que o Copom tem autonomia para decidir, não estou lá para decidir. Agora, posso analisar e dizer: "A inflação está sob controle, as taxas de atacado estão até negativas". Então nunca a situação esteve tão favorável."
Mantega enfatizou que não há desconforto com o BC e disse que só faz declarações "elogiosas" em relação à autoridade monetária. No comentário, ele não deixou de alfinetar o Copom, destacando ser "óbvio" a necessidade de continuação na queda dos juros. Mas a ata da última reunião do comitê indicou que as reduções podem ser mais cautelosas.
"Eu só dou declarações elogiosas em relação ao Banco Central. Eu digo que eles têm sensibilidade para analisar a situação da inflação e, a partir dessa sensibilidade, é óbvio que você vai ter continuação das reduções da taxa", disse.
Questionado sobre o fim dos tradicionais almoços de terça-feira entre o ministro da Fazenda e a diretoria do BC, ele afirmou que foram interrompidos há um ano e meio. Disse ainda que a primeira reunião de Meirelles, ao retornar do exterior, será com ele. "Temos excelentes relações".
Os almoços eram realizados pelo ex-ministro Pedro Malan (no governo FHC - 1995/2002) e foram mantidos por seu sucessor, Antonio Palocci, até pouco antes da crise que levou à sua queda.


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