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Baixo investimento estrangeiro atrasa AL, diz S&P
MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Economias latino-americanas
receberam em 2005 só 15,5% do
total de investimentos diretos
destinados aos países emergentes,
proporção que chegou a ser de
28,8% em 1999, auge do fluxo de
recursos para a região. A queda
dos investimentos estrangeiros na
região, Brasil incluso, pode ser
uma das explicações para a falta
de dinamismo econômico, explicando em parte por que os países
latino-americanos crescem menos que a maior parte dos emergentes, sugere a agência de classificação de riscos norte-americana
Standard & Poors, que analisou
dados de 11 países da região.
"O investimento estrangeiro direto não traz apenas capital.
Transfere conhecimento, tecnologia, mercados", diz Helena Hessel, analista da Standard & Poors
em Nova York. O relatório da
agência mostra que, em 1999, o
grupo de países analisados conseguia atrair US$ 74,9 bilhões, ou
6,8% do total de investimentos diretos do mundo e 28,8% do investimento para emergentes. Em
2005, depois de se recuperar do
tombo que começou em 2001, o
investimento direcionado para as
11 economias foi de US$ 55,9 bilhões, algo como 6,2% do total
mundial, mas apenas 15,5% do
destinado aos países emergentes.
Resumindo: a região perdeu
participação no bolo destinado
aos países em desenvolvimento.
"Esse declínio acentuado é preocupante. Talvez explique por que
os países latino-americanos têm
crescido mais devagar do que a
maioria das outras economias
emergentes", diz o relatório elaborado pela analista.
É verdade que há um processo
de recuperação, os investimentos
pararam de encolher em 2004 e
voltaram a crescer. Mas estão longe de voltarem aos tempos áureos
dos anos 90. No final daquela década, em 1999, a região recebera
US$ 74 bilhões. O estudo da S&P
compara dois períodos distintos,
englobando dez anos. Entre 2001
e 2005, o Brasil recebeu o equivalente a 80% do que havia atraído
nos cinco anos anteriores (1996-2000). Situação não muito ruim se
comparada à de países como a
Argentina, que recebeu, no segundo período, 30% do volume
registrado entre 1996 e 2000.
Bolívia
Outro país para o qual a agência
chama a atenção é a Bolívia. Mais
da metade dos investimentos que
entraram no país entre 1996 e
2003 destinou-se justamente ao
setor de gás. Foram cerca de US$
3,5 bilhões, estima a S&P. A medida de nacionalização do gás boliviano, argumenta o relatório da
agência, irá "sem dúvida cimentar
a tendência de fluxos negativos de
investimentos". Em 2005, houve
desinvestimento no país, ou seja,
saiu mais IED do que entrou. O
resultado foi negativo em US$ 280
milhões. As mudanças políticas e
econômicas em parte da América
Latina, sugere Hessel, devem dificultar a recuperação dos fluxos de
investimentos para a região.
"Irá demorar algum tempo antes que os fluxos voltem aos níveis
de 1999. Para isso, seriam necessários aumentos significativos na
entrada de investimentos para
Argentina e Venezuela [dois
grandes receptores de recursos
nos anos 90], tendência improvável para os dois países", diz a analista da S&P. "O fluxo para países
menores, como Equador, Bolívia
e Peru, serão menores nos próximos anos, refletindo as políticas
antiinvestimentos adotadas."
Brasil
O receio em relação a parte da
América Latina, no entanto, não
deve afetar o Brasil, na avaliação
dela. "É improvável que o Brasil
seja afetado", diz ela, lembrando
que não há receio se as políticas
para investimento estrangeiro são
sólidas, "o que elas têm sido", diz.
O papel do IED para estimular o
crescimento, claro, não é tão consensual. Ricardo Carneiro, economista da Unicamp, por exemplo,
lembra que parte importante dos
investimentos na América Latina
foi destinada a fusões, aquisições
e privatizações, diferentemente
do destinado a algumas regiões da
Ásia, que criavam fábricas e capacidade produtiva, o que os economista chamam de investimento
em "green field". "Houve muito
investimento patrimonial na
América Latina."
Antonio Correa Lacerda, diretor do Ciesp e professor da PUC-SP, também faz ressalvas. A mais
intuitiva é o clássico problema do
ovo e da galinha: o investimento
gera crescimento ou é atraído para países que crescem rápido?
"Com relação às relações entre
IED e crescimento, os estudos são
controversos."
A S&P considerou os investimentos em 11 países: Argentina,
Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia,
Equador, México, Paraguai, Peru,
Uruguai e Venezuela.
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