São Paulo, quarta-feira, 10 de maio de 2006

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Baixo investimento estrangeiro atrasa AL, diz S&P

MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Economias latino-americanas receberam em 2005 só 15,5% do total de investimentos diretos destinados aos países emergentes, proporção que chegou a ser de 28,8% em 1999, auge do fluxo de recursos para a região. A queda dos investimentos estrangeiros na região, Brasil incluso, pode ser uma das explicações para a falta de dinamismo econômico, explicando em parte por que os países latino-americanos crescem menos que a maior parte dos emergentes, sugere a agência de classificação de riscos norte-americana Standard & Poors, que analisou dados de 11 países da região.
"O investimento estrangeiro direto não traz apenas capital. Transfere conhecimento, tecnologia, mercados", diz Helena Hessel, analista da Standard & Poors em Nova York. O relatório da agência mostra que, em 1999, o grupo de países analisados conseguia atrair US$ 74,9 bilhões, ou 6,8% do total de investimentos diretos do mundo e 28,8% do investimento para emergentes. Em 2005, depois de se recuperar do tombo que começou em 2001, o investimento direcionado para as 11 economias foi de US$ 55,9 bilhões, algo como 6,2% do total mundial, mas apenas 15,5% do destinado aos países emergentes.
Resumindo: a região perdeu participação no bolo destinado aos países em desenvolvimento. "Esse declínio acentuado é preocupante. Talvez explique por que os países latino-americanos têm crescido mais devagar do que a maioria das outras economias emergentes", diz o relatório elaborado pela analista.
É verdade que há um processo de recuperação, os investimentos pararam de encolher em 2004 e voltaram a crescer. Mas estão longe de voltarem aos tempos áureos dos anos 90. No final daquela década, em 1999, a região recebera US$ 74 bilhões. O estudo da S&P compara dois períodos distintos, englobando dez anos. Entre 2001 e 2005, o Brasil recebeu o equivalente a 80% do que havia atraído nos cinco anos anteriores (1996-2000). Situação não muito ruim se comparada à de países como a Argentina, que recebeu, no segundo período, 30% do volume registrado entre 1996 e 2000.

Bolívia
Outro país para o qual a agência chama a atenção é a Bolívia. Mais da metade dos investimentos que entraram no país entre 1996 e 2003 destinou-se justamente ao setor de gás. Foram cerca de US$ 3,5 bilhões, estima a S&P. A medida de nacionalização do gás boliviano, argumenta o relatório da agência, irá "sem dúvida cimentar a tendência de fluxos negativos de investimentos". Em 2005, houve desinvestimento no país, ou seja, saiu mais IED do que entrou. O resultado foi negativo em US$ 280 milhões. As mudanças políticas e econômicas em parte da América Latina, sugere Hessel, devem dificultar a recuperação dos fluxos de investimentos para a região.
"Irá demorar algum tempo antes que os fluxos voltem aos níveis de 1999. Para isso, seriam necessários aumentos significativos na entrada de investimentos para Argentina e Venezuela [dois grandes receptores de recursos nos anos 90], tendência improvável para os dois países", diz a analista da S&P. "O fluxo para países menores, como Equador, Bolívia e Peru, serão menores nos próximos anos, refletindo as políticas antiinvestimentos adotadas."

Brasil
O receio em relação a parte da América Latina, no entanto, não deve afetar o Brasil, na avaliação dela. "É improvável que o Brasil seja afetado", diz ela, lembrando que não há receio se as políticas para investimento estrangeiro são sólidas, "o que elas têm sido", diz.
O papel do IED para estimular o crescimento, claro, não é tão consensual. Ricardo Carneiro, economista da Unicamp, por exemplo, lembra que parte importante dos investimentos na América Latina foi destinada a fusões, aquisições e privatizações, diferentemente do destinado a algumas regiões da Ásia, que criavam fábricas e capacidade produtiva, o que os economista chamam de investimento em "green field". "Houve muito investimento patrimonial na América Latina."
Antonio Correa Lacerda, diretor do Ciesp e professor da PUC-SP, também faz ressalvas. A mais intuitiva é o clássico problema do ovo e da galinha: o investimento gera crescimento ou é atraído para países que crescem rápido? "Com relação às relações entre IED e crescimento, os estudos são controversos."
A S&P considerou os investimentos em 11 países: Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, México, Paraguai, Peru, Uruguai e Venezuela.


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