São Paulo, sábado, 10 de maio de 2008

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Inflação avança e passa de 5% em 12 meses

IPCA acumulado no período, o mais alto desde março de 2006, supera centro da meta de inflação adotada pelo governo, de 4,5%

Índice oficial foi novamente pressionado pelos alimentos; para especialistas, resultado deve levar BC a endurecer política de elevação dos juros


PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

Mais uma vez pressionado pelos alimentos, o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) subiu 0,55% em abril e já acumula alta de 5,04% em 12 meses. Trata-se da maior taxa desde março de 2006 (5,32%) e posiciona o índice acima do centro da meta de inflação do governo para 2008 -de 4,5%, com intervalo de dois pontos percentuais para cima ou para baixo. Em março, o índice havia sido de 0,48%, de acordo com o IBGE.
A alta "persistente" dos alimentos -e sem uma perspectiva de recuo no curto prazo- e o distanciamento da meta de inflação sinalizam um provável endurecimento da política monetária por parte do Banco Central, dizem especialistas.
Em abril, o grupo alimentação avançou 1,29% -mais do que o 0,89% de março. Contribuiu com mais da metade do IPCA -0,28 ponto percentual. O pão francês, sozinho, subiu 7,33%, com um peso de 0,08 ponto no índice.
Segundo Eulina Nunes dos Santos, coordenadora de Índices de Preços do IBGE, não há indícios de que a pressão dos alimentos ceda no próximo mês. "Os dados de abril mostram uma persistência da alta dos alimentos. Dificilmente uma taxa nesse nível cai de forma abrupta de um mês para o outro. Os alimentos devem continuar pressionando."
O salto dos alimentos, segundo ela, reflete especialmente a conjuntura internacional de aumento das commodities e de retração de oferta de alguns produtos -como leite e arroz. Tal cenário, afirma, ainda não se alterou -o que sinaliza mais pressão no IPCA.
Para Fábio Silveira, sócio da RC Consultores, o IPCA "veio meio gordinho" -e repetirá a tendência, pelo menos, até o final do próximo trimestre.
"O índice ficará na casa do 0,50%. Ainda existe um ciclo de alta acentuada das matérias-primas, já capturado pelo atacado, que ainda não foi repassado aos índices ao consumidor."
Somente no terceiro trimestre, diz, é que há espaço para um arrefecimento dos preços, proporcionado pela acomodação dos preços das commodities metálicas e agrícolas, que já se configura atualmente.
Segundo ele, a alta do petróleo, porém, pressionará indiretamente o índice ao consumidor -especialmente por causa do peso da alta de 15% do diesel na refinaria no custo dos transportes. Válido a partir de 2 de maio, o reajuste da gasolina não foi ainda captado pelo IPCA. Ao contrário, o produto ajudou a conter o índice, com queda de 0,14% em abril. O álcool também cedeu: 0,65%.
O vestuário, por sua vez, turbinou o IPCA, com alta de 1,53%. "Essa alta pode estar relacionada ao aumento dos produtos agrícolas, pois o algodão é uma matéria-prima do setor", disse Nunes dos Santos.

Juros
Diante da deterioração do cenário de inflação, o Banco Central deve subir os juros com mais intensidade e por um período mais prolongado, segundo Tomás Goulart, economista do banco Modal.
Ele estima uma alta "parcelada" de até dois pontos -hoje, a Selic está em 11,75%. "Mas talvez não seja suficiente para segurar a inflação", afirma. Para 2008, o economista projeta um IPCA de 5,5%.
Já Silveira avalia que "o ambiente não ajuda a impedir uma elevação da taxa de juros". A RC estima que o IPCA feche o ano em 4,7%, mas o economista não descarta rever a sua projeção para cima.

Baixa renda
Pesquisado entre famílias de renda menor (até 8 salários mínimos), o INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) subiu mais -0,64%- em abril do que o IPCA (renda de até 40 salários mínimos). É que o peso da alimentação é maior para as famílias de renda mais baixa. No ano, o INPC acumula um avanço de 2,34% -acima da taxa do IPCA, de 2,08%.


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