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Inflação avança e passa de 5% em 12 meses
IPCA acumulado no período, o mais alto desde março de 2006, supera centro da meta de inflação adotada pelo governo, de 4,5%
Índice oficial foi novamente pressionado pelos alimentos; para especialistas, resultado deve levar BC a endurecer política de elevação dos juros
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
Mais uma vez pressionado
pelos alimentos, o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor
Amplo) subiu 0,55% em abril e
já acumula alta de 5,04% em 12
meses. Trata-se da maior taxa
desde março de 2006 (5,32%) e
posiciona o índice acima do
centro da meta de inflação do
governo para 2008 -de 4,5%,
com intervalo de dois pontos
percentuais para cima ou para
baixo. Em março, o índice havia
sido de 0,48%, de acordo com o
IBGE.
A alta "persistente" dos alimentos -e sem uma perspectiva de recuo no curto prazo- e o
distanciamento da meta de inflação sinalizam um provável
endurecimento da política monetária por parte do Banco
Central, dizem especialistas.
Em abril, o grupo alimentação avançou 1,29% -mais do
que o 0,89% de março. Contribuiu com mais da metade do
IPCA -0,28 ponto percentual.
O pão francês, sozinho, subiu
7,33%, com um peso de 0,08
ponto no índice.
Segundo Eulina Nunes dos
Santos, coordenadora de Índices de Preços do IBGE, não há
indícios de que a pressão dos
alimentos ceda no próximo
mês. "Os dados de abril mostram uma persistência da alta
dos alimentos. Dificilmente
uma taxa nesse nível cai de forma abrupta de um mês para o
outro. Os alimentos devem
continuar pressionando."
O salto dos alimentos, segundo ela, reflete especialmente a
conjuntura internacional de
aumento das commodities e de
retração de oferta de alguns
produtos -como leite e arroz.
Tal cenário, afirma, ainda não
se alterou -o que sinaliza mais
pressão no IPCA.
Para Fábio Silveira, sócio da
RC Consultores, o IPCA "veio
meio gordinho" -e repetirá a
tendência, pelo menos, até o final do próximo trimestre.
"O índice ficará na casa do
0,50%. Ainda existe um ciclo de
alta acentuada das matérias-primas, já capturado pelo atacado, que ainda não foi repassado aos índices ao consumidor."
Somente no terceiro trimestre, diz, é que há espaço para
um arrefecimento dos preços,
proporcionado pela acomodação dos preços das commodities metálicas e agrícolas, que já
se configura atualmente.
Segundo ele, a alta do petróleo, porém, pressionará indiretamente o índice ao consumidor -especialmente por causa
do peso da alta de 15% do diesel
na refinaria no custo dos transportes. Válido a partir de 2 de
maio, o reajuste da gasolina não
foi ainda captado pelo IPCA. Ao
contrário, o produto ajudou a
conter o índice, com queda de
0,14% em abril. O álcool também cedeu: 0,65%.
O vestuário, por sua vez, turbinou o IPCA, com alta de
1,53%. "Essa alta pode estar relacionada ao aumento dos produtos agrícolas, pois o algodão é
uma matéria-prima do setor",
disse Nunes dos Santos.
Juros
Diante da deterioração do cenário de inflação, o Banco Central deve subir os juros com
mais intensidade e por um período mais prolongado, segundo Tomás Goulart, economista
do banco Modal.
Ele estima uma alta "parcelada" de até dois pontos -hoje, a
Selic está em 11,75%. "Mas talvez não seja suficiente para segurar a inflação", afirma. Para
2008, o economista projeta um
IPCA de 5,5%.
Já Silveira avalia que "o ambiente não ajuda a impedir uma
elevação da taxa de juros". A RC
estima que o IPCA feche o ano
em 4,7%, mas o economista não
descarta rever a sua projeção
para cima.
Baixa renda
Pesquisado entre famílias de
renda menor (até 8 salários mínimos), o INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor)
subiu mais -0,64%- em abril
do que o IPCA (renda de até 40
salários mínimos). É que o peso
da alimentação é maior para as
famílias de renda mais baixa.
No ano, o INPC acumula um
avanço de 2,34% -acima da taxa do IPCA, de 2,08%.
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