São Paulo, segunda-feira, 10 de maio de 2010

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Europa terá pacote de "meio Brasil" para blindar o euro

Em reunião que invadiu a madrugada, países decidem usar &euro 750 bi contra os mercados

Medidas emergenciais incluem linha de crédito do Fed para a Europa; e o BC Europeu vai comprar títulos da dívida de países da região

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A MADRI

A União Europeia decidiu, já na madrugada de hoje, apostar algo em torno de 750 bilhões contra os mercados, uma pilha de dinheiro tão formidável que corresponde a R$ 1,75 trilhão -ou mais da metade de tudo o que o Brasil produziu em bens e serviços no ano passado.
Outras medidas extraordinárias foram anunciadas: o Fed, dos EUA, e outros bancos centrais abrirão uma linha de crédito para a Europa, e o BCE (Banco Central Europeu) comprará papéis de governos e de empresas, algo que ele próprio havia avaliado como fora de questão na quinta passada.
Trata-se de uma blindagem para o euro e para os países que o adotam, vítimas do que o ministro sueco de Finanças, Anders Borg, definiu como "lobos". Explicou: "Estamos vendo um comportamento de alcateia nos mercados, e, se não a brecarmos, eles [os lobos] destroçarão os países mais fracos".
O pacote com os 750 bilhões foi anunciado às 2h30 de hoje (21h30 de ontem em Brasília), depois de 11 horas consecutivas de reunião do Ecofin, o grupo de ministros de Economia dos 27 países da UE.
A blindagem ao euro ficou assim dividida: 60 bilhões virão de fundos já existentes mas que só estavam disponíveis para países da UE que não entraram no euro. Será estendido para os que o usam.
A maior fatia, de 440 bilhões, sairá dos países da zona do euro. O FMI entrará com 250 bilhões. Serão constituídos por empréstimos bilaterais, garantias para os empréstimos aos países necessitados e linhas de crédito do Fundo.
A decisão foi tomada depois de dois telefonemas do presidente Barack Obama, um para a chanceler alemã, Angela Merkel, e outro para o presidente francês, Nicolas Sarkozy, os dois países mais poderosos e de mais poder de iniciativa na UE.
Obama, segundo o governo francês, enfatizou "a necessidade de resposta forte às desordens que afetam os mercados".
É uma clara demonstração de que o presidente americano teme o contágio da crise europeia, o que obviamente afetaria a ainda frágil recuperação da economia norte-americana.
"Se pudermos estabilizar a situação na Europa, será bom para os EUA e será bom também para a Rússia", disse Obama em entrevista concedida ontem a uma rede russa de TV.
Poderia ter acrescentado que será bom também para o Brasil porque uma crise "grave", como o presidente norte-americano a classificou, numa economia tão importante, afeta todo o planeta, ainda que em diferentes proporções.
A ideia original para a reunião de emergência em pleno domingo era montar o pacote de defesa antes que os mercados abrissem hoje e os "lobos" continuassem os ataques ao euro. A moeda comum de 16 dos 27 países da União Europeia se desvalorizou em 4,5% na semana passada, para o nível mais baixo em 14 meses.
Mas os mercados asiáticos já estavam abertos. Como havia vazado, àquela altura, que o pacote seria de 500 bilhões, uma quantia ponderável, o euro subiu. Modestamente, menos de 1%, mas subiu.
A blindagem, segundo Elena Salgado, a ministra espanhola de Economia, será acompanhada de "fortes condicionalidades". Ou seja, os países que vierem a se beneficiar do pacote terão de corrigir seus deficit fiscais -coisa que Portugal e Espanha, as duas vítimas mais imediatas dos "lobos", se comprometeram a fazer.


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