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Europa terá pacote de "meio Brasil" para blindar o euro
Em reunião que invadiu a madrugada, países decidem usar &euro 750 bi contra os mercados
Medidas emergenciais
incluem linha de crédito do
Fed para a Europa; e o BC
Europeu vai comprar títulos
da dívida de países da região
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A MADRI
A União Europeia decidiu, já
na madrugada de hoje, apostar
algo em torno de 750 bilhões
contra os mercados, uma pilha
de dinheiro tão formidável que
corresponde a R$ 1,75 trilhão
-ou mais da metade de tudo o
que o Brasil produziu em bens
e serviços no ano passado.
Outras medidas extraordinárias foram anunciadas: o Fed,
dos EUA, e outros bancos centrais abrirão uma linha de crédito para a Europa, e o BCE
(Banco Central Europeu) comprará papéis de governos e de
empresas, algo que ele próprio
havia avaliado como fora de
questão na quinta passada.
Trata-se de uma blindagem
para o euro e para os países que
o adotam, vítimas do que o ministro sueco de Finanças, Anders Borg, definiu como "lobos". Explicou: "Estamos vendo um comportamento de alcateia nos mercados, e, se não a
brecarmos, eles [os lobos] destroçarão os países mais fracos".
O pacote com os 750 bilhões foi anunciado às 2h30 de
hoje (21h30 de ontem em Brasília), depois de 11 horas consecutivas de reunião do Ecofin, o
grupo de ministros de Economia dos 27 países da UE.
A blindagem ao euro ficou
assim dividida: 60 bilhões virão de fundos já existentes mas
que só estavam disponíveis para países da UE que não entraram no euro. Será estendido
para os que o usam.
A maior fatia, de 440 bilhões, sairá dos países da zona
do euro. O FMI entrará com
250 bilhões. Serão constituídos por empréstimos bilaterais, garantias para os empréstimos aos países necessitados e
linhas de crédito do Fundo.
A decisão foi tomada depois
de dois telefonemas do presidente Barack Obama, um para
a chanceler alemã, Angela Merkel, e outro para o presidente
francês, Nicolas Sarkozy, os
dois países mais poderosos e de
mais poder de iniciativa na UE.
Obama, segundo o governo
francês, enfatizou "a necessidade de resposta forte às desordens que afetam os mercados".
É uma clara demonstração
de que o presidente americano
teme o contágio da crise europeia, o que obviamente afetaria
a ainda frágil recuperação da
economia norte-americana.
"Se pudermos estabilizar a
situação na Europa, será bom
para os EUA e será bom também para a Rússia", disse Obama em entrevista concedida
ontem a uma rede russa de TV.
Poderia ter acrescentado que
será bom também para o Brasil
porque uma crise "grave", como o presidente norte-americano a classificou, numa economia tão importante, afeta todo o planeta, ainda que em diferentes proporções.
A ideia original para a reunião de emergência em pleno
domingo era montar o pacote
de defesa antes que os mercados abrissem hoje e os "lobos"
continuassem os ataques ao
euro. A moeda comum de 16
dos 27 países da União Europeia se desvalorizou em 4,5%
na semana passada, para o nível mais baixo em 14 meses.
Mas os mercados asiáticos já
estavam abertos. Como havia
vazado, àquela altura, que o pacote seria de 500 bilhões,
uma quantia ponderável, o euro subiu. Modestamente, menos de 1%, mas subiu.
A blindagem, segundo Elena
Salgado, a ministra espanhola
de Economia, será acompanhada de "fortes condicionalidades". Ou seja, os países que vierem a se beneficiar do pacote
terão de corrigir seus deficit
fiscais -coisa que Portugal e
Espanha, as duas vítimas mais
imediatas dos "lobos", se comprometeram a fazer.
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