|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
LUÍS NASSIF
O álibi para os juros
Em 1995 o problema não era
a inflação. Mas os defensores dos juros altos defendiam a
medida tomando como álibi a
necessidade de atrair capital de
curto prazo ao país. Atrás deles
viria o capital de investimento.
Se o país tivesse paciência, colheria os resultados na forma de
crescimento sustentado da economia. Ninguém indagou qual
a relação entre o capital que
vem atrás de juros e o que vem
atrás de investimento. E o desenvolvimento não veio. Depois, disseram que, para baixar
os juros, primeiro teria que se
obter o equilíbrio fiscal. Ninguém perguntou qual a relação
de subordinação entre ambas
as políticas. Hoje em dia os Estados Unidos enfrentam o
maior déficit fiscal dos últimos
anos e as taxas de juros estão
caindo. Aqui, o desenvolvimento não veio e a política continuada de juros altos estraçalhou qualquer possibilidade de
ajuste fiscal.
Agora, as taxas de juros altas
se justificariam porque houve
categorias que conquistaram
reajustes salariais tendo por base a inflação passada. A intenção das taxas de juros elevadas
é manter a economia desaquecida para que não ocorra a indexação. De nada adiantaram
as comprovações de que, com
dissídios indexados e tudo, a
atividade econômica está despencando, e o salário real, caindo. Ou seja, o resultado da
eventual indexação salarial -o
aumento do consumo- não está ocorrendo.
Mais uma vez se repetem as
falsas promessas de 1995, de
1996, 1997. Passa-se a idéia de
que, como já houve muito sacrifício, interromper agora -reduzindo juros- colocaria tudo
a perder. Não alertam que cada
dia a mais de taxas elevadas resulta em agravamento cada vez
maior da crise e redução da possibilidade de recuperação.
O movimento já é conhecido,
como o era em 1995, 1996 e 1997
-agora com menos tempo para empurrar com a barriga. O
risco Brasil vai melhorar, o preço dos C-Bonds, aumentar, até
bater no teto. A partir daí, começa o movimento inverso. O
mercado ficará "aguardando"
a próxima reforma, e os "especialistas" insistirão mais uma
vez em que, sem a próxima, e a
próxima, e a próxima, os juros
não poderiam baixar.
E aí se entrará no segundo semestre com uma opinião pública impaciente e a crise se aprofundando -e sem crescimento.
E, se o real continuar se valorizando, com o fantasma externo
de volta.
Lá é assim
Da série "em todo lugar é assim".
O Fed (Federal Reserve, o banco central norte-americano)
tem uma particularidade na
composição de seu corpo técnico: há representantes de várias
escolas acadêmicas. Se se concentram todas as indicações em
uma escola só, há um risco claro
de submeter a análise a viés
ideológico ou acadêmico da escola dominante.
O presidente do Fed, Alan
Greenspan, é da Universidade
de Nova York. O vice, Roger W.
Ferguson, Jr., da Universidade
Harvard. Edward M. Gramlich,
da Universidade Yale. Susan
Schmidt Bies, da Northwestern
University. Mark W. Olson, do
Saint Olaf College. Ben S. Bernanke, Ph.D. do Instituto de
Tecnologia de Massachusetts.
Donald L. Kohn, da Universidade de Michigan.
Aqui, todos os diretores pertencem a uma única escola, da
PUC-RJ (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro),
instituição que há anos politizou o debate da política econômica.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
Texto Anterior: Siderurgia: Gerdau busca refinanciar US$ 750 milhões Próximo Texto: Teles: Aquisição da Oi pela Telemar será apurada Índice
|