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São Paulo, terça-feira, 10 de junho de 2003

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LUÍS NASSIF

O álibi para os juros

Em 1995 o problema não era a inflação. Mas os defensores dos juros altos defendiam a medida tomando como álibi a necessidade de atrair capital de curto prazo ao país. Atrás deles viria o capital de investimento. Se o país tivesse paciência, colheria os resultados na forma de crescimento sustentado da economia. Ninguém indagou qual a relação entre o capital que vem atrás de juros e o que vem atrás de investimento. E o desenvolvimento não veio. Depois, disseram que, para baixar os juros, primeiro teria que se obter o equilíbrio fiscal. Ninguém perguntou qual a relação de subordinação entre ambas as políticas. Hoje em dia os Estados Unidos enfrentam o maior déficit fiscal dos últimos anos e as taxas de juros estão caindo. Aqui, o desenvolvimento não veio e a política continuada de juros altos estraçalhou qualquer possibilidade de ajuste fiscal.
Agora, as taxas de juros altas se justificariam porque houve categorias que conquistaram reajustes salariais tendo por base a inflação passada. A intenção das taxas de juros elevadas é manter a economia desaquecida para que não ocorra a indexação. De nada adiantaram as comprovações de que, com dissídios indexados e tudo, a atividade econômica está despencando, e o salário real, caindo. Ou seja, o resultado da eventual indexação salarial -o aumento do consumo- não está ocorrendo.
Mais uma vez se repetem as falsas promessas de 1995, de 1996, 1997. Passa-se a idéia de que, como já houve muito sacrifício, interromper agora -reduzindo juros- colocaria tudo a perder. Não alertam que cada dia a mais de taxas elevadas resulta em agravamento cada vez maior da crise e redução da possibilidade de recuperação.
O movimento já é conhecido, como o era em 1995, 1996 e 1997 -agora com menos tempo para empurrar com a barriga. O risco Brasil vai melhorar, o preço dos C-Bonds, aumentar, até bater no teto. A partir daí, começa o movimento inverso. O mercado ficará "aguardando" a próxima reforma, e os "especialistas" insistirão mais uma vez em que, sem a próxima, e a próxima, e a próxima, os juros não poderiam baixar.
E aí se entrará no segundo semestre com uma opinião pública impaciente e a crise se aprofundando -e sem crescimento. E, se o real continuar se valorizando, com o fantasma externo de volta.

Lá é assim
Da série "em todo lugar é assim".
O Fed (Federal Reserve, o banco central norte-americano) tem uma particularidade na composição de seu corpo técnico: há representantes de várias escolas acadêmicas. Se se concentram todas as indicações em uma escola só, há um risco claro de submeter a análise a viés ideológico ou acadêmico da escola dominante.
O presidente do Fed, Alan Greenspan, é da Universidade de Nova York. O vice, Roger W. Ferguson, Jr., da Universidade Harvard. Edward M. Gramlich, da Universidade Yale. Susan Schmidt Bies, da Northwestern University. Mark W. Olson, do Saint Olaf College. Ben S. Bernanke, Ph.D. do Instituto de Tecnologia de Massachusetts. Donald L. Kohn, da Universidade de Michigan.
Aqui, todos os diretores pertencem a uma única escola, da PUC-RJ (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro), instituição que há anos politizou o debate da política econômica.

E-mail -
Luisnassif@uol.com.br


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