São Paulo, sábado, 10 de junho de 2006

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Votação na Câmara não foi séria, diz Lula

Presidente faz críticas a deputados, que aprovaram reajuste de 16,7% para aposentados que ganham mais de um mínimo

Ele também diz que, sob seu comando, Brasil vive "novo tempo" na economia, mas ainda precisa seguir "nadando com colete"


SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

RAPHAEL GOMIDE
ENVIADO ESPECIAL A PARACAMBI (RJ)

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse, no Rio, que o Brasil, sob seu comando, "vive uma nova era" e um "novo tempo" na economia e que o governo não deve perder a oportunidade de aproveitar isso. Também atacou a Câmara, ao criticar a aprovação de reajuste maior para os aposentados. "Não foi uma coisa séria."
Sobre a economia, afirmou: "Eu só quero dizer para vocês: vamos aproveitar, já que chegamos até aqui. E vamos continuar com o colete, não vamos atravessar nadando de forma esbaforida para morrer afogado, vamos dar braçadas devagar, vamos chegar em um porto seguro que este país merece", disse o presidente ao final de seu discurso, ontem, na sede do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) no Rio.
Os ministros Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento), Fernando Haddad (Educação) e Paulo Sérgio Passos (Transportes) e o presidente do BNDES, Demian Fiocca, ouviram a recomendação de Lula, além de funcionários do banco, economistas, empresários e caminhoneiros, beneficiados com um novo programa de financiamento para a compra de veículos.

Congresso
No discurso improvisado, Lula fez críticas à votação do salário mínimo na Câmara, na quarta-feira. Na ocasião, foi aprovado reajuste de 16,7% para aposentados que recebem mais que um salário mínimo.
"A votação do mínimo no Congresso Nacional [...] não foi uma coisa séria, porque o que estava lá para ser votado era um acordo [...] feito pela primeira vez na história do Brasil, com todas as centrais sindicais e todos os aposentados. Aí, de repente, alguém resolve que aquilo pode ser bom eleitoralmente, votar favorável, colocar R$ 8 bilhões a mais de gasto na Previdência, que já está estourada em R$ 40 bilhões", disse Lula, para quem a decisão foi, "no mínimo, pouco respeitável com o povo".

Caminhão
O programa Procaminhoneiro, do BNDES, que foi o tema do evento ontem no Rio, destina R$ 500 milhões para que motoristas e donos de caminhões comprem, com financiamento de 84 meses, veículos novos e usados. O objetivo é renovar a frota nacional de caminhões, que tem 20 anos de idade em média.
Lula disse que, se a verba do BNDES for gasta até outubro, mês da eleição, o BNDES dará mais R$ 500 milhões. "Deus queira que vocês gastem esses R$ 500 milhões até o mês de outubro, porque o Demian [presidente do BNDES] vai ter que colocar mais 500, e depois, se precisar, mais 500", afirmou.

Críticas ao banco
Ele também fez outras críticas no evento. Reclamou da ausência de caminhoneiros e dirigentes da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) na mesa de autoridades e pediu mais agilidade na análise dos pedidos de financiamento pelo BNDES. Afirmou ser muito grande o prazo médio de 275 dias de trâmite processual.

No exterior
Lula reafirmou que o Brasil continuará oferecendo financiamento a países fronteiriços, na América do Sul, por meio do BNDES.
"Tem gente que fala bobagem, que o Brasil não pode financiar. O Brasil não só pode como tem a obrigação de financiar o desenvolvimento nos países que fazem fronteira conosco porque temos responsabilidade também com o crescimento desse país, a segurança e a paz no nosso continente."

Eleição sem risco
Ele também repetiu que a eleição não colocará a economia brasileira em risco.
"Não haverá, da minha parte, nenhum gesto que coloque em risco a estabilidade da economia e a seriedade da política fiscal dura por conta da eleição. Quando a gente é oposição pode gargantear, pode blefar, mas o governo, não. Não iremos brincar."

Educação
À tarde, Lula inaugurou em Paracambi (Baixada Fluminense) quatro cursos do Cefet (Centro Federal de Educação Tecnológica).
Diante de uma claque de mata-mosquitos, o presidente falou como se estivesse inaugurando aquele centro, que funciona desde 2000 em uma fábrica desativada.
"Diante de um monumento como esse, sabendo que por quase um século foi uma fábrica e hoje se transforma em uma escola técnica, podemos dizer que é a escola técnica mais bonita do Brasil. Não é o lançamento de uma pedra fundamental, mas de milhões de tijolos já fincados aí", disse.
Em tom eleitoral, ele voltou a falar de esperança, mote da campanha de 2002. Ao lado do senador Marcelo Crivella (PRB), candidato ao governo do Estado do Rio e ligado à Igreja Universal do Reino de Deus, o presidente também falou de fé.
"Não há razão para perdermos a esperança. Não podemos permitir que o pessimismo tome conta de nós. Afinal de contas, somos cristãos ou não somos? Temos fé ou não? Porque, quando nada tiver mais solução, a gente pede uma ajudazinha para Deus que ele vem e a gente se salva."


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