São Paulo, sábado, 10 de junho de 2006

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Tesouro resgata US$1 bi da dívida externa

Meta inicial era recomprar US$ 4 bi usando as reservas internacionais para aproveitar o momento de turbulência

Mas investidores quiseram ágio maior do que o governo estava disposto a pagar; Tesouro vê fato positivo na falta de vendedores


DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Tesouro Nacional antecipou o resgate de US$ 1,1 bilhão em títulos da dívida externa que, originalmente, tinham prazo de vencimento que variava de 2007 e 2030. O objetivo da operação era aproveitar a turbulência dos mercado nas últimas semanas para comprar os papéis brasileiros a uma cotação mais baixa, mas a meta de resgatar até US$ 4 bilhões não foi alcançada.
"A demanda ficou abaixo do que a gente esperava", disse ontem o secretário do Tesouro, Carlos Kawall. Ainda assim, Kawall disse que enxerga como positivo o baixo interesse dos credores do governo em se desfazer de suas aplicações. "Mostra que os investidores estão satisfeitos com os nossos papéis."
Dos papéis resgatados ontem pelo governo, cerca de 37% -ou US$ 423 milhões- tinham prazo de vencimento mais longo, entre 2020 e 2030, e pagavam juros de aproximadamente 8% ao ano aos investidores.
A recompra foi anunciada na segunda-feira. Até ontem, o Tesouro recebeu as propostas de investidores interessados em vender títulos da dívida brasileira. A idéia do governo era aproveitar a desvalorização que esses papéis sofreram nas últimas semanas para resgatá-lo a um preço mais favorável.
Mas muitos investidores quiseram vender os títulos a uma cotação que o governo considerou muito alta. Por isso, o saldo final da operação ficou abaixo do que se esperava -o que, na avaliação do governo, foi algo positivo. "Isso é um sinal de que quem tem o papel não quer vender", disse Paulo Valle, secretário-adjunto do Tesouro.
O resgate será pago com recursos das reservas internacionais do país. Ao todo, o governo irá gastar US$ 1,383 bilhão nessa transação, pois concordou em pagar um ágio pelos papéis -ou seja, os títulos foram adquiridos por um valor maior do que aquele que seria pago efetivamente aos seus detentores no momento do vencimento. A idéia é que o ágio compense a economia de juros que será feita ao longo dos anos.

Turbulências
Desde o final de maio, pronunciamentos do presidente do Fed (banco central americano), Ben Bernanke, derrubaram os mercados ao acenar com a possibilidade de os juros praticados nos EUA continuarem a subir por mais tempo do que se imaginava.
Juros mais altos tendem a fazer com que investidores aumentem suas aplicações nos Estados Unidos, em vez de direcionar seus recursos a países emergentes. No caso do Brasil, o risco-país -que mede a diferença entre os juros pagos por títulos brasileiros e americanos- chegou a se aproximar dos 300 pontos, sendo que, no início de maio, estava perto dos 200 pontos.
A própria recompra do Tesouro, porém, foi um fator que ajudou a reduzir o risco-país nesta semana, pois o resgate antecipado significa maior procura pelos papéis no mercado -e, quando a procura aumenta, as cotações também sobem. No dia do anúncio do resgate, o risco-país caiu 5%.


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