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Economistas torcem pela Itália na Copa
Vitória do país europeu é a que traria mais benefícios para a economia mundial, de acordo com estudo do ABN Amro
Título dos EUA acentuaria
desequilíbrio, e triunfo
asiático levaria a
superaquecimento das
economias da região
SCHEHERAZADE DANESHKHU
DO "FINANCIAL TIMES"
A febre da Copa do Mundo já
acometeu as regiões do planeta
para as quais chutar uma bola
redonda para dentro de um gol
quadrado virou religião. Mas
existe um grupo que vai assistir
ao Mundial desde uma perspectiva própria, muito particular. Para os economistas, o que
está em jogo é muito mais do
que partidas espetaculares ou
orgulhos nacionais. A pergunta
que eles se fazem -embora, reconhecem, com um certo ceticismo- é: como a Copa vai afetar a economia mundial?
O futebol oferece uma oportunidade perfeita para os praticantes da "ciência pessimista"
deixarem sua reputação ranzinza de lado e fazer algumas
pesquisas mais divertidas.
"Existe algum vínculo entre futebol e economia ou estamos
apenas buscando desculpas para nos divertir?", indaga Jim
O'Neill, diretor de pesquisas
econômicas globais na Goldman Sachs, na introdução ao
relatório feito pelo banco de investimentos sobre o lado econômico da Copa do Mundo.
"Estamos convencidos de
que o futebol exerce um impacto sobre a economia e, por essa
razão, justifica algum esforço
de pesquisa", insistem Ruben
van Leeuwen e Charles Kalshoven, autores de "Soccereconomics" (Economia do Futebol),
publicado pela equipe de economia do banco ABN Amro.
A pesquisa concluiu que um
país que vence a Copa do Mundo tem um crescimento econômico adicional de 0,7% em
comparação ao ano anterior,
além de desfrutar de impulso
do mercado acionário. Esse fato levou o ABN Amro a apontar
a Itália como seu vencedor "favorito" -ou seja, o país cuja vitória mais beneficiaria a economia mundial.
O banco tomou como ponto
de partida a ameaça apresentada pelos desequilíbrios no comércio global. "Desde a perspectiva da necessidade de um
crescimento econômico mundial equilibrado, um país europeu deveria ganhar a Copa", diz
o ABN Amro. "Uma vitória dos
EUA acentuaria mais o desequilíbrio, e uma vitória asiática
levaria ao superaquecimento
das economias da região, que já
estão em alta." Uma vitória sul-americana não seria negativa,
tampouco a ajudaria muito.
Dos cinco grandes países europeus que participam da Copa, os dois que tiveram performance econômica mais fraca
nos últimos anos são a Alemanha e a Itália. Assim, a final dos
sonhos, para o ABN Amro, seria
disputada entre os dois países e
a vencida pela Itália, em razão
de seu histórico econômico
mais fraco. O banco argumenta
que a Alemanha já goza de vantagem de qualquer maneira,
por ser o país que abriga a Copa.
Esse cenário dos sonhos do
banco aconteceu, na realidade,
em 1982. Infelizmente para os
teóricos do banco, a Itália, aparentemente, não auferiu benefícios econômicos diretos naquele ano, tanto que continuou
atolada numa recessão. Mas em
1983 seu crescimento se acelerou, então talvez não seja o caso
de desprezar os efeitos de uma
vitória futebolística nacional.
Positivo e negativo
A Copa exerce impacto sobre
a economia de duas maneiras
principais, uma negativa e a outra positiva. O revés que provoca atinge a produtividade, na
medida em que funcionários de
empresas faltam ao trabalho ou
saem mais cedo para assistir às
partidas. Mas o consumo adicional motivado pela Copa fornece uma injeção de ânimo na
economia. O "fator sensação de
bem-estar" alegra os consumidores, e consumidores contentes tendem a gastar mais.
O Centro de Pesquisas em
Economia e Negócios, de Londres, estima que a Copa proporcione às economias dos países participantes um aumento
líquido de 13 bilhões de libras
esterlinas (US$ 25 bilhões).
Mas o Centro acredita que o
crescimento da economia na
América do Sul, região louca
por futebol, será negativamente afetado, porque os prejuízos
à produtividade vão pesar mais
do que os benefícios gerados
pelo consumo adicional. A região é prejudicada pelo fuso horário, já que a maioria das partidas será em horário comercial.
Na Europa, a maioria das partidas começará no final da tarde.
Entre os economistas em geral, a favorita para vencer a Copa é a Alemanha. Na condição
de anfitriã, a Alemanha terá vários benefícios, incluindo o aumento dos gastos de capital em
seus estádios e sua infra-estrutura de transportes, o aumento
do turismo e dos empregos.
Mesmo os economistas, porém, emocionam-se mais com
o futebol do que com os números, que eles admitem ser comparativamente pequenos.
O presidente do Banco da Inglaterra, Mervyn King, observou recentemente que o principal efeito da Copa será sobre o
timing e o padrão dos gastos
dos consumidores, e não sobre
seu nível no longo prazo. Em
outras palavras, qualquer incentivo ao consumo tende a ser
de curto prazo, na medida em
que as pessoas gastam antes o
que gastariam mais tarde no
ano ou gastam menos com outras coisas, para compensar
com seus gastos com a Copa.
Por exemplo, na Copa de
1998, que a França sediou e
venceu, o consumo doméstico
teve uma alta acentuada antes
do torneio, mas caiu 0,8% durante as partidas, antes de acabar voltando ao nível anterior.
Como os padrões de gastos
estarão distorcidos, as tendências econômicas podem ser
mais difíceis de interpretar
neste ano. Lucy Hartiss, da
consultoria Capital Economics,
de Londres, acha que os efeitos
indiretos da Copa terão uma influência muito maior e mais
duradoura sobre a economia
alemã do que os efeitos diretos
do turismo e dos gastos de capital e dos consumidores.
"O fato de sediar um grande
evento esportivo eleva o perfil,
o status e a reputação do país
anfitrião, criando um incentivo
duradouro ao turismo e aos investimentos comerciais", disse.
"Mais imediatamente, é possível que a Copa gere um incentivo pontual à confiança dos consumidores alemães."
Em todo caso, os economistas têm um bom pretexto para
o caso de suas previsões não se
realizarem. O futebol, como
seus comentaristas gostam de
dizer, é um "esporte em dois
tempos", sempre imprevisível.
É um argumento ideal ao qual
os economistas poderão recorrer, no caso de suas planilhas
acabarem guardando pouca relação com os resultados finais.
Tradução de CLARA ALLAIN
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