São Paulo, terça-feira, 10 de junho de 2008

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"Governo só atrapalhou a VarigLog", diz fundo dos EUA

Lap Chan, sócio do Matlin Patterson, nega que a Anac tenha favorecido compra da empresa

Executivo afirma que não sabia que Roberto Teixeira é amigo de Lula ao contratar o advogado e estima gastos "em no máximo US$ 2 mi"

DANIEL BERGAMASCO
DE NOVA YORK

O executivo Lap Wain Chan, sócio do fundo americano Matlin Patterson, refuta acusações de que foi favorecido pelo governo federal, em 2006, na compra da Varig pela VarigLog, em que o fundo é sócio com três brasileiros -e com os quais trava atualmente disputa judicial. "O governo só dificultou a compra da Varig. A Anac [Agência Nacional de Aviação Civil] só fez a nossa compra ficar mais difícil", disse, em entrevista à Folha, na sede do fundo, no 35º andar de um dos prédios mais altos da av. Madison, em Manhattan.
Em português sem sotaque -nascido em Hong Kong, conta que viveu da infância até o ensino médio em São Paulo- Chan diz que a ex-diretora da Anac Denise Abreu mentiu ao relatar ter sido pressionada pela ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) a favorecer a compra da empresa. "A Anac demorou meses para liberar o Cheta [Certificado de Homologação de Empresas de Transporte Aéreo, sem o qual a empresa não pode operar]. Por várias vezes colocou as linhas da Varig em leilão.
Eles atendiam a interesses da concorrência." Ele nega que o contrato com o escritório do advogado Roberto Teixeira, compadre e amigo do presidente Lula, tenha sido de US$ 5 milhões, como acusa o sócio brasileiro Marco Antonio Audi. Chan diz que tinha desconfianças sobre a honestidade de Audi quando selou a sociedade com ele, em 2006. "Ele não vinha completamente limpo."
Diz ainda que convidou para a sociedade o também brasileiro Marcos Haftel -seu colega de infância, na escola St. Paul's School, segundo diz- para que ele acompanhasse o trabalho do sócio, em São Paulo.  

FOLHA - A Anac teve peso na decisão de vender a Varig a vocês?
LAP WAIN CHAN
- Não. A gente passou por um tempo muito difícil com a Anac. Demorou meses para liberar o Cheta e homologar a companhia. Por várias vezes colocou nossas linhas em leilão. Eles atendiam a interesses da concorrência. A Anac só dificultou a nossa compra.

FOLHA - Que interesse a Anac teria em oferecer dificuldades a vocês?
CHAN
- Isso todo mundo sabe. A concorrência, claro. Quem ganharia mais se a Varig não voasse seria a concorrência. O juiz [Luiz Roberto] Ayoub peitou, foi em cima. Mas a Anac fez a nossa compra difícil. A demora pelo Cheta não fazia sentido.

FOLHA - Como vê a declaração de Denise Abreu de que ela foi pressionada pela ministra Dilma Rousseff a favorecê-los?
CHAN
- Nunca. Isso nunca aconteceu. Não ganhamos nada do governo.

FOLHA - O que a teria motivado a fazer essas declarações?
CHAN
- Não sei.

FOLHA - Você sabia que Roberto Teixeira era compadre do presidente Lula quando o contratou?
CHAN
- Não. Infelizmente, eu não sabia. Ele foi apresentado a mim pelo Audi como uma pessoa especialista em recuperações. Por isso o contratamos [...] Mas eu não sabia que ele era amigo do presidente.

FOLHA - O senhor contratou o escritório do advogado Roberto Teixeira por US$ 5 milhões?
CHAN
- É mentira. Isso é impossível. Mas não tenho na cabeça quanto foi pago.

FOLHA - Uma quantia aproximada.
CHAN
- Não foram US$ 5 milhões, nem em sonho. Garanto que não foi. Com os advogados, consultores, escritórios, por serviços em seis, sete, nove meses, gastamos US$ 1 milhão ou US$ 2 milhões, no máximo.


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