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"Governo só atrapalhou a VarigLog", diz fundo dos EUA
Lap Chan, sócio do Matlin Patterson, nega que a Anac tenha favorecido compra da empresa
Executivo afirma que não sabia que Roberto Teixeira é amigo de Lula ao contratar o advogado e estima gastos "em no máximo US$ 2 mi"
DANIEL BERGAMASCO
DE NOVA YORK
O executivo Lap Wain Chan,
sócio do fundo americano Matlin Patterson, refuta acusações
de que foi favorecido pelo governo federal, em 2006, na
compra da Varig pela VarigLog,
em que o fundo é sócio com três
brasileiros -e com os quais trava atualmente disputa judicial.
"O governo só dificultou a
compra da Varig. A Anac
[Agência Nacional de Aviação
Civil] só fez a nossa compra ficar mais difícil", disse, em entrevista à Folha, na sede do
fundo, no 35º andar de um dos
prédios mais altos da av. Madison, em Manhattan.
Em português sem sotaque
-nascido em Hong Kong, conta que viveu da infância até o
ensino médio em São Paulo-
Chan diz que a ex-diretora da
Anac Denise Abreu mentiu ao
relatar ter sido pressionada pela ministra Dilma Rousseff
(Casa Civil) a favorecer a compra da empresa.
"A Anac demorou meses para liberar o Cheta [Certificado
de Homologação de Empresas
de Transporte Aéreo, sem o
qual a empresa não pode operar]. Por várias vezes colocou
as linhas da Varig em leilão.
Eles atendiam a interesses da
concorrência." Ele nega que o
contrato com o escritório do
advogado Roberto Teixeira,
compadre e amigo do presidente Lula, tenha sido de US$ 5
milhões, como acusa o sócio
brasileiro Marco Antonio Audi.
Chan diz que tinha desconfianças sobre a honestidade de
Audi quando selou a sociedade
com ele, em 2006. "Ele não vinha completamente limpo."
Diz ainda que convidou para a
sociedade o também brasileiro
Marcos Haftel -seu colega de
infância, na escola St. Paul's
School, segundo diz- para que
ele acompanhasse o trabalho
do sócio, em São Paulo.
FOLHA - A Anac teve peso na decisão de vender a Varig a vocês?
LAP WAIN CHAN - Não. A gente
passou por um tempo muito difícil com a Anac. Demorou meses para liberar o Cheta e homologar a companhia. Por várias vezes colocou nossas linhas
em leilão. Eles atendiam a interesses da concorrência. A Anac
só dificultou a nossa compra.
FOLHA - Que interesse a Anac teria
em oferecer dificuldades a vocês?
CHAN - Isso todo mundo sabe.
A concorrência, claro. Quem
ganharia mais se a Varig não
voasse seria a concorrência. O
juiz [Luiz Roberto] Ayoub peitou, foi em cima. Mas a Anac fez
a nossa compra difícil. A demora pelo Cheta não fazia sentido.
FOLHA - Como vê a declaração de
Denise Abreu de que ela foi pressionada pela ministra Dilma Rousseff a
favorecê-los?
CHAN - Nunca. Isso nunca
aconteceu. Não ganhamos nada do governo.
FOLHA - O que a teria motivado a
fazer essas declarações?
CHAN - Não sei.
FOLHA - Você sabia que Roberto
Teixeira era compadre do presidente Lula quando o contratou?
CHAN - Não. Infelizmente, eu
não sabia. Ele foi apresentado a
mim pelo Audi como uma pessoa especialista em recuperações. Por isso o contratamos
[...] Mas eu não sabia que ele
era amigo do presidente.
FOLHA - O senhor contratou o escritório do advogado Roberto Teixeira por US$ 5 milhões?
CHAN - É mentira. Isso é impossível. Mas não tenho na cabeça quanto foi pago.
FOLHA - Uma quantia aproximada.
CHAN - Não foram US$ 5 milhões, nem em sonho. Garanto
que não foi. Com os advogados,
consultores, escritórios, por
serviços em seis, sete, nove meses, gastamos US$ 1 milhão ou
US$ 2 milhões, no máximo.
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