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Chan diz que falha foi ter escolhido os "sócios errados"
Executivo do fundo Matlin Patterson afirma que parceiro na compra da VarigLog "não vinha completamente limpo'
Lap Chan nega que sócios brasileiros tenham entrado como laranjas e diz que fundo vai perder dinheiro
com a venda da Varig
DE NOVA YORK
Leia a seguir a continuação
da entrevista que o executivo
Lap Chan, sócio do fundo americano Matlin Patterson, concedeu à Folha, em que afirma
ter escolhido os sócios errados
para comprar a VarigLog. Procurado para comentar as declarações, o sócio Marco Antonio
Audi não foi encontrado.
FOLHA - Algum arrependimento
sobre comprar a VarigLog?
CHAN - O maior erro que eu tive foi escolher os sócios errados para se juntar a mim nessa
operação. Nunca esperava esse
tipo de coisas que foram feitas
pelos três.
FOLHA - Por que você os escolheu
como sócios?
CHAN - Os sócios foram escolhidos porque cada um deles tinha uma coisa para trazer para
a operação de reestruturação
da empresa. O Audi tinha trabalho na área aeronáutica, por
isso os escritórios de advocacia
XBB (Xavier, Bernardes, Bragança) e Leite Tosto (Leite,
Tosto e Barros Associado) indicaram-no a nós. Outro eu conheço desde a infância.
FOLHA - Qual?
CHAN - O Marcos Haftel. A
gente estudou junto na escola
Sant Paul's, em São Paulo. Conheço ele desde os cinco anos
de idade. Foi uma coisa que me
chocou. Nunca desconfiei dele.
Foi uma pessoa de infância em
quem confiei desde o começo.
FOLHA - Você colocou um amigo
de infância para trabalhar com o sr.
Audi porque desconfiava dele?
CHAN - Ahhh. Eu queria ter
uma pessoa que ficava de olho
nele.
FOLHA - Isso porque você desconfiava do sr. Audi...
CHAN - Claro. Ele não vinha
completamente limpo.
FOLHA - E porque você se associou
a alguém que, segundo o senhor diz,
"não vinha completamente limpo"?
CHAN - Foi um erro. Tem erros
que você faz na vida... Eu não tinha todo o histórico dele.
FOLHA - Que histórico?
CHAN - Eu sabia umas coisas,
umas coisas... Mais pelo que o
pai dele fez. Sabia mais do pai.
FOLHA - Por que uma empresa que
lida com bilhões de dólares, localizada neste prédio importante da avenida Madison, associa-se no Brasil
com uma pessoa que o senhor diz
que achava que não era "limpa"?
CHAN - É um erro. Eu admito
que foi um erro.
FOLHA - Na sociedade para comprar a VarigLog, os brasileiros entraram com menos dinheiro e ficaram com 80% do controle da empresa.
Qual é a lógica desse negócio?
CHAN - Nós ficamos com 100%
das ações preferenciais. A lei
não permite que a gente tenha
mais de 20% das ações ordinárias para controlar a empresa.
Por causa disso que a gente entrou nessa parceria.
FOLHA - Os brasileiros entraram
como laranjas no negócio?
CHAN - Você acha que eu estaria numa disputa societária se
eles fossem laranjas? Não, é
claro que não.
FOLHA - Somando entrada e saída
de dinheiro, qual é o status do negócio para o fundo?
CHAN - Vamos perder dinheiro
com a operação.
FOLHA - Quanto?
CHAN - Vendemos a Varig por
US$ 275 milhões e a gente investiu US$ 250 milhões. Dos
US$ 275 milhões, US$ 170 milhões foram em pagamento de
ações da Gol, que perderam valor. Vai depender de como recuperamos a VarigLog. Ainda
acredito que as ações da Gol tenham chance de se recuperar.
FOLHA - Um juiz disse que o senhor
teve uma atitude "manifestadamente desonesta" em tirar dinheiro
da conta da VarigLog na Suíça contrariando decisão judicial.
CHAN - Foi um equívoco do
juiz. O dinheiro continua na
conta da Suíça. Digo, já saíram
quase US$ 20 milhões para voltar para recuperar a VarigLog.
Mas, veja, os sócios brasileiros
é que mandaram o dinheiro para a Suíça, eu fui surpreendido.
FOLHA - Você me disse antes da entrevista que fica chateado porque
afirmam na imprensa que você é
"chinês".
CHAN - Fico chateado porque
todo mundo fala "é o chinês",
mas o chinês aqui é mais brasileiro do que muitas pessoas que
eu conheço. Eu tenho o coração
brasileiro. Tenho sotaque chinês? Não tenho. Sou um corintiano sofrido!
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