São Paulo, terça-feira, 10 de junho de 2008

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Chan diz que falha foi ter escolhido os "sócios errados"

Executivo do fundo Matlin Patterson afirma que parceiro na compra da VarigLog "não vinha completamente limpo'

Lap Chan nega que sócios brasileiros tenham entrado como laranjas e diz que fundo vai perder dinheiro com a venda da Varig

DE NOVA YORK

Leia a seguir a continuação da entrevista que o executivo Lap Chan, sócio do fundo americano Matlin Patterson, concedeu à Folha, em que afirma ter escolhido os sócios errados para comprar a VarigLog. Procurado para comentar as declarações, o sócio Marco Antonio Audi não foi encontrado.  

FOLHA - Algum arrependimento sobre comprar a VarigLog?
CHAN
- O maior erro que eu tive foi escolher os sócios errados para se juntar a mim nessa operação. Nunca esperava esse tipo de coisas que foram feitas pelos três.

FOLHA - Por que você os escolheu como sócios?
CHAN
- Os sócios foram escolhidos porque cada um deles tinha uma coisa para trazer para a operação de reestruturação da empresa. O Audi tinha trabalho na área aeronáutica, por isso os escritórios de advocacia XBB (Xavier, Bernardes, Bragança) e Leite Tosto (Leite, Tosto e Barros Associado) indicaram-no a nós. Outro eu conheço desde a infância.

FOLHA - Qual?
CHAN
- O Marcos Haftel. A gente estudou junto na escola Sant Paul's, em São Paulo. Conheço ele desde os cinco anos de idade. Foi uma coisa que me chocou. Nunca desconfiei dele. Foi uma pessoa de infância em quem confiei desde o começo.

FOLHA - Você colocou um amigo de infância para trabalhar com o sr. Audi porque desconfiava dele?
CHAN
- Ahhh. Eu queria ter uma pessoa que ficava de olho nele.

FOLHA - Isso porque você desconfiava do sr. Audi...
CHAN
- Claro. Ele não vinha completamente limpo.

FOLHA - E porque você se associou a alguém que, segundo o senhor diz, "não vinha completamente limpo"?
CHAN
- Foi um erro. Tem erros que você faz na vida... Eu não tinha todo o histórico dele.

FOLHA - Que histórico?
CHAN
- Eu sabia umas coisas, umas coisas... Mais pelo que o pai dele fez. Sabia mais do pai.

FOLHA - Por que uma empresa que lida com bilhões de dólares, localizada neste prédio importante da avenida Madison, associa-se no Brasil com uma pessoa que o senhor diz que achava que não era "limpa"?
CHAN
- É um erro. Eu admito que foi um erro.

FOLHA - Na sociedade para comprar a VarigLog, os brasileiros entraram com menos dinheiro e ficaram com 80% do controle da empresa. Qual é a lógica desse negócio?
CHAN
- Nós ficamos com 100% das ações preferenciais. A lei não permite que a gente tenha mais de 20% das ações ordinárias para controlar a empresa. Por causa disso que a gente entrou nessa parceria.

FOLHA - Os brasileiros entraram como laranjas no negócio?
CHAN
- Você acha que eu estaria numa disputa societária se eles fossem laranjas? Não, é claro que não.

FOLHA - Somando entrada e saída de dinheiro, qual é o status do negócio para o fundo?
CHAN
- Vamos perder dinheiro com a operação.

FOLHA - Quanto?
CHAN
- Vendemos a Varig por US$ 275 milhões e a gente investiu US$ 250 milhões. Dos US$ 275 milhões, US$ 170 milhões foram em pagamento de ações da Gol, que perderam valor. Vai depender de como recuperamos a VarigLog. Ainda acredito que as ações da Gol tenham chance de se recuperar.

FOLHA - Um juiz disse que o senhor teve uma atitude "manifestadamente desonesta" em tirar dinheiro da conta da VarigLog na Suíça contrariando decisão judicial.
CHAN
- Foi um equívoco do juiz. O dinheiro continua na conta da Suíça. Digo, já saíram quase US$ 20 milhões para voltar para recuperar a VarigLog. Mas, veja, os sócios brasileiros é que mandaram o dinheiro para a Suíça, eu fui surpreendido.

FOLHA - Você me disse antes da entrevista que fica chateado porque afirmam na imprensa que você é "chinês".
CHAN
- Fico chateado porque todo mundo fala "é o chinês", mas o chinês aqui é mais brasileiro do que muitas pessoas que eu conheço. Eu tenho o coração brasileiro. Tenho sotaque chinês? Não tenho. Sou um corintiano sofrido!


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