|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ANÁLISE
Urnas não refletem desempenho econômico
OSCAR PILAGALLO
ESPECIAL PARA A FOLHA
País em recessão e presidente com popularidade elevada é
uma combinação incomum.
Afinal, não é a economia, estúpido?
A máxima de James Carville,
marqueteiro de Bill Clinton em
1992, vem sendo repetida desde então, quando uma recessão
explicou a derrota de George
Bush pai para o democrata.
O estado da economia e a
avaliação do governo são indissociáveis. George Bush filho,
por exemplo, tinha muitos outros problemas além da crise
econômica, mas esta jogou a favor da eleição de Obama.
Nem sempre, no entanto, há
uma correlação direta e imediata entre as duas esferas. O
resultado da eleição do Parlamento Europeu mostra que o
desempenho da economia não
se reflete automaticamente nas
urnas.
Na Alemanha, o PIB caiu
3,8% no primeiro trimestre em
relação ao período anterior; na
Itália, a queda foi de 2,4%. Foram duas das maiores recessões na Europa. E, no entanto,
os governos dos dois países se
saíram bem nas eleições. Quanto ao Reino Unido, que teve recessão menos intensa (queda
de 1,9%), amargou fragorosa
derrota.
Embora os governos alemão
e italiano sejam conservadores
e o britânico, trabalhista, a explicação ideológica não parece
consistente. O primeiro-ministro britânico, Gordon Brown,
enfrenta problemas em seu
próprio partido, que podem vir
a derrubá-lo e que nada têm a
ver com o fato de ele estar à esquerda dos colegas europeus.
Mas o melhor exemplo de
que as urnas não refletem necessariamente a economia pode ser tirado da história recente
do Brasil. Em 1998, Fernando
Henrique foi reeleito em plena
turbulência econômica.
Na época, como agora, a crise
veio de fora, dos países asiáticos. Mas há uma diferença: o
Brasil de 1998, com o câmbio
artificialmente valorizado, estava vulnerável. O país ainda
não fizera o ajuste fiscal e a âncora do real era a política cambial, cuja insustentabilidade
tornou o Brasil vítima dos ataques especulativos.
Quando a crise asiática teve
origem, no ano anterior, e se dizia que o Brasil logo seria a "bola da vez", a equipe econômica
minimizava a ameaça -algo
equivalente à "marolinha" de
Lula.
Mais tarde, a crise seria admitida em toda a sua extensão
pelo presidente FHC. A poucas
semanas da eleição, o governo
dobrou os juros para tentar
proteger a moeda. Foi uma medida impopular, mas talvez
seus efeitos perversos não tenham ficado claros antes da
eleição de outubro.
O governo acabou cedendo e
deixou o câmbio flutuar, mas só
dias depois da posse do segundo mandato.
Em 1998, o eleitorado não associou FHC à crise, apesar do
discurso da oposição. Em 2009,
o eleitorado não associa Lula à
crise, apesar do discurso da
oposição. Ao contrário, acha,
provavelmente, que os programas sociais amenizam seu impacto.
Nem sempre é a economia,
estúpido.
OSCAR PILAGALLO é jornalista e autor de "A
Aventura do Dinheiro" e "A História do Brasil no
Século XX".
Texto Anterior: Critério para definir recessão é questionado Próximo Texto: Vinicius Torres Freire Índice
|