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entrevista
Em 2010 país já crescerá a 4%, afirma Delfim
DA REPORTAGEM LOCAL
Ex-ministro da Fazenda, o
economista Delfim Netto
afirma que é "irrelevante" o
marco da recessão técnica,
configurada pelos dois trimestres seguidos de contração. Para ele, o país sairá com
facilidade do atual quadro,
que poderia ter sido melhor
se o BC tivesse instrumentos
para garantir o financiamento às exportações e a rolagem
da dívida privada.
(TONI SCIARRETTA)
FOLHA - Essa discussão sobre a
recessão técnica é relevante?
DELFIM NETTO - Essa discussão
é completamente irrelevante. Como toda convenção,
não significa mais do que isso: duas quedas continuadas
e sucessivas do PIB. O importante é que tivemos uma
queda generalizada. É uma
situação que já passou, mas
que foi bastante ruim.
FOLHA - Qual a sua avaliação?
DELFIM - É uma situação um
pouco menos ruim do que se
supunha. Os pessimistas esperavam 3%, e os otimistas,
1,5%. Acredito que no segundo trimestre tenha recuperado um pouquinho, mas você
terá ainda notícias ruins.
FOLHA - Por que todos erraram?
DELFIM - Tudo isso é palpite.
Ontem o mercado apostava
em [PIB de] menos 3,5%. Leva à conclusão de que o mercado não sabe nada.
FOLHA - Qual a diferença em relação às recessões anteriores?
DELFIM - As grandes recessões que tivemos foram todas induzidas -aconteceu
em 1981, 1982 e 1983. Induzidas porque você tinha um
déficit externo que não era
financiável. Aquela recessão
produziu os resultados que
dela se esperavam: o equilíbrio externo. Esta recessão é
muito mais importada.
Certamente, [a recessão]
foi muito maior do que precisava se o BC pudesse usar sua
musculatura para dar conforto para o sistema bancário. O BC agiu sempre na direção certa, mas sempre lentamente. O agente público do
BC não tem segurança jurídica para tomar a responsabilidade que ele precisava. Age
com essa autonomia restrita.
FOLHA - O senhor está se referindo apenas aos juros?
DELFIM - Não é só juros. Era
dar conforto, garantir que
podíamos financiar os títulos
[privados] que estavam vencendo, que podíamos acelerar as exportações.
FOLHA - Como sairemos da
atual recessão?
DELFIM - Vamos supor que
não tenhamos crescido no
segundo trimestre em relação ao primeiro -que o PIB
fique constante; no terceiro
trimestre, que cresça 1%, e,
no quarto trimestre, mais
1%. Quando chegar ao final
do ano, já está com crescimento próximo do positivo.
De alguma forma, a política monetária terá algum
efeito. Os investimentos do
governo também estarão
maturando. Quando estivermos nos aproximando do segundo semestre de 2010, vamos estar rodando entre
3,5% a 4%. Não é preciso um
esforço gigantesco. Se isso
acontecer, a eleição será com
o Brasil a 3,8%, 4%, o que não
é mau. Estamos fazendo o
que pode ser feito no Brasil.
Se comparar o esforço brasileiro com o chinês é uma piada. Eles têm muito mais recursos e outra estrutura.
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