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País perde R$ 32,6 bi com aumento das reservas no BC
Valor resulta da desvalorização do dólar nos últimos 3 anos; Tesouro paga a conta
Para o Banco Central, custo
das intervenções no câmbio
é o preço a ser pago pela
política atual de redução da
vulnerabilidade externa
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
As compras maciças de dólares para acumulação de reservas deram um prejuízo de mais
de R$ 30 bilhões ao Banco Central nos últimos três anos.
Em janeiro de 2004, quando
o BC começou a comprar dólares no mercado, a moeda norte-americana era cotada pouco
acima dos R$ 2,80.
De lá para cá, o dólar se desvalorizou e hoje oscila em torno de R$ 1,90. Com isso, aconteceu com o BC a mesma coisa que ocorreu com investidores
que compraram dólares no período: prejuízo.
Entre janeiro de 2004 e maio
de 2007, o BC comprou US$
108,60 bilhões no mercado e
gastou, para isso, R$ 238,95 bilhões, de acordo com dados oficiais. Isso equivale a uma cotação média de R$ 2,20.
Caso o dólar se estabilize em
R$ 1,90, a diferença em relação
à cotação média paga pelo BC
nas compras chegaria a 13,6%.
Em reais, isso significa uma
perda de R$ 32,6 bilhões acumulada em pouco mais de três
anos -média de R$ 795 milhões por mês.
Parte desse prejuízo é assumida pelo Tesouro Nacional. A
cada semestre, o BC contabiliza
todas as suas receitas e despesas e transfere o resultado para
o Tesouro. Eventuais perdas
são financiadas via emissões de
títulos públicos, o que aumenta
a dívida bruta do governo.
Vulnerabilidade
Para o BC, o custo das intervenções no câmbio é o preço a
pagar por uma redução na vulnerabilidade externa do Brasil.
Isso porque os dólares comprados são depositados nas reservas internacionais do país,
uma espécie de poupança que
pode ser usada no pagamento
de parcelas da dívida externa.
Sob esse ponto de vista,
quanto maiores as reservas,
menor é a vulnerabilidade da
economia a choques externos,
pois o país estaria preparado
para honrar seus compromissos em dia mesmo num cenário
adverso. No começo de 2003, as
reservas brasileiras estavam
em US$ 16 bilhões. Com as
compras de dólares do BC, já
atingem US$ 148 bilhões.
O BC ressalta ainda que as
perdas que a queda do dólar
causa na administração das reservas são compensadas -ainda que parcialmente- pelo impacto positivo que a valorização do real tem na dívida externa, composta quase que exclusivamente por compromissos
em moedas estrangeiras.
O economista-chefe da Austin Ratings, Alex Agostini, ressalta ainda que o custo da manutenção das reservas internacionais não se limita às perdas
causadas pela valorização do
real. A diferença entre as taxas
de juros praticadas no Brasil e
nos Estados Unidos também
afeta as contas do BC.
Isso acontece porque os dólares das reservas internacionais
costumam ser aplicados em investimentos de baixo risco, como os títulos emitidos pelo Tesouro norte-americano, que
hoje pagam juros de aproximadamente 5% ao ano.
Por outro lado, o BC vende títulos públicos no mercado brasileiro para financiar suas compras de dólares, e esses papéis
são remunerados pela taxa Selic, hoje em 12% ao ano.
Considerando essa diferença
nos juros e a valorização do
câmbio, Agostini estima que o
custo de manutenção dos últimos 12 meses tenha correspondido a 25% do saldo médio das
reservas -algo próximo de US$
25 bilhões.
"Remédio amargo"
Na opinião do economista,
esses números indicam que o
custo dessas reservas já supera
os benefícios alcançados. "O remédio usado pelo BC já começa
a ficar com um gosto amargo. O
paciente já está praticamente
curado", diz Agostini, ao se referir à melhora nos indicadores
da economia brasileira observada nos últimos meses.
Ele afirma que as reservas internacionais já são mais do que
suficientes para cobrir a dívida
externa do setor público -que
estava em US$ 86,8 bilhões em
maio- e que compras adicionais de dólares não conseguirão impedir que o real continue
se valorizando.
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