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"Puxadinho" realça diferença entre G8 e G5
A partir da organização de cúpula, conclusão é que emergentes ainda não emergiram completamente
DO ENVIADO ESPECIAL A HOKKAIDO
O galpão que o governo japonês armou para os jornalistas,
ao lado do gigantesco Windsor
Hotel Toya, na ilha de Hokkaido, a mais ao norte do país, era
ontem a explicitação do diferente status de que gozam o G8,
o clube dos ricos, e o G5, o grupo dos emergentes, que estavam reunidos nos 16.782 m2 do
complexo.
O galpão -ou "puxadinho",
como preferiu chamá-lo uma
repórter do sistema oficial de
informação do governo brasileiro- tinha uma área reservada para o que um cartaz em japonês e inglês avisava ser "USA
protected pool", sendo "pool" o
jargão para designar um grupo
de jornalistas que se reúne para
acompanhar determinado
acontecimento.
Havia cadeiras estofadas e
confortáveis, havia garrafas
térmicas com café e havia,
principalmente, a sacola do
elegante hotel e spa com lanche, sobremesa e refrigerante
-tudo organizado pela Casa
Branca.
Quando os jornalistas brasileiros desembarcaram no "puxadinho", às 6h de ontem (18h
de terça em Brasília), para
acompanhar o encontro Lula/
Bush, mal haviam dormido (o
ônibus os recolhera às 5h), não
haviam comido nada nem tomado algo quente na manhã
surpreendentemente gelada
para o verão do hemisfério
Norte.
Ainda por cima, suas cadeiras (como a de todos os demais
jornalistas que não pertencessem ao "White House Press
Corps", a turma que cobre a
Casa Branca) eram comparativamente bem mais pobres.
Diferente status, diferente
criatividade: Marcos Uchôa,
enviado especial da Rede Globo, deixou de lado por instantes o livro "The Red Dust" (sobre a China, na qual Uchôa estará logo mais, cobrindo a
Olimpíada) para improvisar
outro cercadinho. Juntou cadeiras (as mais pobres), sobre
elas pôs caixas abertas de papelão, "bem favela", e um cartaz
rústico feito à mão: "Unprotected Brazilian pool".
Virou atração turística: os
jornalistas norte-americanos
fotografavam o cartaz com a
avidez de turista japonês. E, a
cada vez que o "puxadinho" recebia um novo grupo, à espera
de um evento qualquer no hotel vizinho, repetia-se a sessão
de fotos. O cartaz ganhou até
espaço na filmagem de um cameraman sul-africano.
Diferenças de status
Diferenças de status dissolviam-se diante do formidável
aparato de segurança que o governo japonês preparou para as
cúpulas de Hokkaido. Os jornalistas passavam por uma checagem de segurança ao chegar ao
Centro Internacional de Mídia,
a 30 quilômetros, entravam
nos ônibus, chegavam a um segundo "check-point" e tomavam outro ônibus para finalmente chegar ao "puxadinho".
Nem os mais próximos auxiliares do presidente Lula escaparam do rigor. Paulo de Oliveira Campos, chefe do Cerimonial, e Marco Aurélio Garcia, assessor diplomático, quiseram sair do hotel depois do
almoço, para fumar um charuto, mas foram impedidos.
"Tivemos que engrossar",
contaram depois, enquanto saboreavam seus puros.
Promessa italiana
É certo que, no ano que vem,
na Itália, a segurança será tão
rígida como no Japão. Mas o
primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, anfitrião em
2009, anunciou que o G5 ganhará um "upgrade". No Japão,
houve uma reunião do G8 com
países africanos no primeiro
dia, a cúpula do G8 propriamente dita na terça-feira, e finalmente o encontro G8/G5
ontem, no encerramento.
Em 2009, na Sardenha, a
reunião com os africanos incluirá o G5.
Não chega a colocar o G5 no
andar de cima, mas "é uma evolução extremamente importante", diz o presidente Lula.
Linguagem da bola
O que unifica os dois grupos é
a linguagem universal do futebol. Ao chegar à suíte em que se
reuniria com Lula, Berlusconi
cumprimentou os jornalistas e
foi logo dizendo: "Gosto muito
do Kaká e do [Alexandre] Pato",
jogadores do Milan, o clube do
qual o primeiro-ministro italiano é dono.
Depois, comentou que não é
o Milan que não quer liberar
Kaká para disputar os Jogos
Olímpicos, mas o próprio jogador que prefere não ir a Pequim. "Está cansado", diz Berlusconi.
O premiê cai depois na demagogia, ao dizer por que não vai
contratar Ronaldinho Gaúcho:
"Pediram muito por ele e eu,
como presidente do Conselho
de Ministros, não posso gastar
dinheiro porque tenho que usá-lo com os pobres. Aliás, sou o
maior doador para os pobres,
porque pago US$ 1 milhão por
mês de impostos".
Lula entra na sala e também
fala de Kaká: "Vai para o Corinthians", seu time do coração,
brinca.
Mais tarde, em entrevista aos
jornalistas, Lula puxa a bola de
cristal para avisar que, "até
2016, o Brasil já virou uma
grande potência" e, por isso
mesmo, será escolhido para sediar a Olimpíada daquele ano (o
Rio é candidato).
Pelas dúvidas, Lula irá a Pequim para a cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos deste
ano, mas também para "cabalar
votos" para o Rio. "Vou fazer
boca-de-urna porque o sistema
de votos favorece os europeus,
que têm 50% dos delegados"
que escolhem a cidade-sede.
(CLÓVIS ROSSI)
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