São Paulo, Sábado, 10 de Julho de 1999
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LETRA CAPITAL

Livro vê dimensão social de blocos

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
da Sucursal de Brasília

Os vários processos de integração econômica regional são provavelmente o mais importante fenômeno sóciopolítico da segunda metade do século 20.
União Européia, Mercosul, Nafta, entre outros blocos, foram formados a partir de 1960, e ainda há os que começam agora a ser gestados, como a possível área de livre comércio União Européia- Mercosul e a Área de Livre Comércio das Américas (Alca).
Esses conjuntos de países, que desafiam o conceito de Estado-nação, prevalente na geopolítica dos últimos 150 anos, estão moldando o mundo do século 21.
O Brasil, que se firmou como ativo "global player" no comércio internacional, dividindo seus negócios com as Américas, a Europa e a Ásia em proporções comparáveis, tem participado de maneira ativa das negociações que viabilizam esses mecanismos.
Não fosse um incidente fortuito (a famosa captação via antena parabólica de conversa que ele estava tendo com um jornalista numa emissora de TV antes de ir ao ar), o diplomata brasileiro Rubens Ricupero (então ministro da Fazenda do governo Itamar Franco) teria sido um forte candidato à liderança inicial da Organização Mundial do Comércio.
Apesar da sua relevância relativa nesse cenário, o Brasil tem uma produção modesta de livros a respeito desse assunto.
Quase toda a bibliografia referente aos processos de constituição dos blocos de que participa se preocupa com questões jurídicas, econômicas ou sociológicas.
A dimensão social da integração tem sido objeto de poucos estudos, pelo menos que cheguem a público. O que, de certo, reflete a pequena participação da sociedade no debate sobre o tema.
Exceto em alguns momentos episódicos, como durante a reunião ministerial dos países do hemisfério em Belo Horizonte, em 1997, sindicatos, entidades patronais e a própria academia brasileira não se mobilizam para discutir, oferecer idéias e defender pontos de vista sobre um assunto que as vai afetar diretamente.
Por isso, deve ser saudado com satisfação o lançamento de livros como "Mercosul, Nafta e Alca - A Dimensão Social" (LTr Editora Ltda.), com organização de Yves Chaloult e Paulo Roberto de Almeida.
Chaloult é professor do Departamento de Sociologia da Universidade de Brasília e Almeida, diplomata, é editor da "Revista Brasileira de Política Internacional".
O volume tem 11 artigos, de alguns dos principais estudiosos do comércio internacional no Brasil.
Entre eles, o cientista político Tullo Vigevani, o economista Gilberto Dupas e a socióloga Maria Silvia Portella de Castro.
O livro se divide em três partes. A inicial trata especificamente da dimensão social dos processos de integração regional, das relações entre os blocos e o papel do Estado e da integração do Mercosul.
As outras duas partes lidam com os movimentos sociais nesses processos de integração, sendo que, dentre eles, os sindicatos merecem tratamento especial.
Além disso, o volume oferece dois anexos de grande utilidade prática: uma cronologia dos processos de integração nas Américas e um glossário de organizações de integração e cooperação.



A OBRA
"Mercosul, Nafta e Alca - A Dimensão Social" - Organização de Yves Chaloult e Paulo Roberto de Almeida. LTr Editora Ltda. (rua Apa, 165, São Paulo, São Paulo, CEP 01201-904. 272 páginas. Internet: www.ltr.com.br




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