São Paulo, sábado, 10 de agosto de 2002

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EM TRANSE

Pesquisa, boatos sobre candidatura de José Serra e perspectiva ruim sobre volta do crédito pioram humor do mercado

Política e seca de crédito fazem dólar subir

Associated Press
Operadores de dólar da Bolsa de Mercadorias & Futuros (São Paulo); a moeda subiu 3,78% ontem


ANA PAULA RAGAZZI
DA REPORTAGEM LOCAL

A especulação política e financeira voltou a ganhar força no mercado e apagou uma breve onda de otimismo com o acordo do Brasil com o Fundo Monetário Internacional. A percepção de que o crédito internacional do país deve melhorar apenas aos poucos ajudou a manter em fervura o preço do dólar.
A moeda americana subiu 3,78% e fechou em R$ 3,02. Na semana, o dólar acumulou leve alta de 0,33%. O risco-país também subiu e superou os 2.000 pontos. Encerrou com valorização de 15%, a 2.005 pontos.
A maioria dos analistas e agentes do mercado ouvidos pela Folha avalia que o candidato do governo, José Serra (PSDB), não tem mais chances na disputa das eleições deste ano -Serra, na avaliação do mercado, representaria a continuidade da atual política econômica.
Pesquisa do Ibope, na quinta-feira, apontou empate entre Anthony Garotinho (PSB) e Serra. Ontem, havia o boato de que o resultado de sondagem do Vox Populi, que será divulgado amanhã, mostraria Serra dois pontos percentuais abaixo de Garotinho e, portanto, em quarto lugar. Daí surgiu a especulação de que Serra desistiria das eleições e até de que integrantes do PSDB estariam reunidos para discutir a possibilidade de pedir a renúncia do candidato. Aécio Neves (PSDB) assumiria seu lugar. Os boatos foram negados pela assessoria de Serra.
Além de não contar mais com a possibilidade de o atual governo eleger seu sucessor, uma possível vitória de Ciro Gomes (PPS) gera mais temor ao mercado do que a de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), segundo a Folha apurou.
"O mercado constatou a incapacidade competitiva de Serra. E os dois candidatos de oposição não têm credibilidade aos olhos do investidor internacional", afirma Emanuel Pereira da Silva, diretor da GAP Asset Management. Ele lembra que Lula e Ciro já acenaram, no passado recente, com a possibilidade de suspender o pagamento da dívida externa.
Pesa a favor de Lula o fato de ele ser mais conhecido do mercado e de ter adotado um discurso mais equilibrado e comedido -Ciro seria desconhecido e dúbio.
"O mercado duvida da capacidade de articulação de Ciro com o Congresso, por exemplo", avalia Helio Osaki, analista da Finambras. "Ele é visto como temperamental e explosivo. Aquele que perde a cabeça e bate boca até com estudantes."
Além da especulação política, a alta do dólar foi causada pelo fato de que o principal ponto a pressionar a cotação não ter sido solucionado, no curto prazo, pelo fechamento do acordo com o FMI.
A questão primordial hoje é a falta de crédito externo para as empresas brasileiras.
As incertezas em relação ao futuro político do país e a aversão ao risco mundial, após as fraudes financeiras de companhias norte-americanas, secaram o crédito externo para o Brasil. Empresas tiveram de comprar dólares para quitar dívidas que não foram roladas, o que elevou a cotação.
Segundo a Folha apurou, a retomada do crédito pode ser mínima. Um banco estrangeiro avalia que em nenhuma hipótese reabrirá a concessão de linhas para o país e que, se o dólar cair, poderá se aproveitar da cotação menor para comprar a moeda e enviá-la para o exterior.
O mercado já fez as contas e vê que o desembolso de US$ 6 bilhões vindos do Fundo para este ano é insuficiente para cobrir os vencimentos públicos e privados. Sem linhas de crédito externo, o Banco Central passa a ser o único capaz de irrigar o mercado. Ontem, a instituição vendeu dólares, em valor não revelado, e fez um leilão de linha de US$ 50 milhões.
A suspensão da oferta da ração diária também teria pressionado a cotação. O mercado estaria forçando a alta para testar qual a forma de atuação do BC.
Na próxima semana haverá um grande teste: dia 15 há o vencimento de US$ 2,5 bilhões em títulos cambiais. Investidores esperam para ver se haverá a rolagem total dos papéis e a que taxa ela sairá.

Colaborou Isabel Campos, da Reportagem Local


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