São Paulo, domingo, 10 de agosto de 2008

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Philips desiste de liderar em TV e mira carros

Executivo diz que empresa perdeu mercado por falta de investimento em marketing e agora aposta em novos nichos

Presidente da Philips afirma que quer ser nº 2 em TVs flat e que a LG, atual líder no segmento, não se preocupa com lucratividade

FÁTIMA FERNANDES
CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Depois de perder dinheiro em 2007 com a venda de televisores no Brasil e ver sua participação de mercado cair de 27% para 14%, a Philips quer ser a número dois na venda de TVs flat (LCD) no país, lugar hoje ocupado pela Samsung. "Quanto à primeira colocada, a LG? Não vamos brigar com empresa que não está preocupada com lucratividade e que optou por ganhar "market share" a qualquer preço", diz Paulo Zottolo, presidente da Philips. A LG não quis se pronunciar sobre esse comentário. A companhia chegou a ser a número um no mercado brasileiro de televisores durante anos. A queda de participação na venda de TVs e a expansão da Philips em outros setores, como o de equipamentos médicos e o de iluminação, levaram concorrentes até a pensar na saída da companhia do mercado de eletrônicos de consumo. "No Brasil, a área de eletrônicos de consumo representa entre 60% e 70% do negócio da companhia. A Philips não só pretende ficar como quer e vai crescer nesse mercado. No primeiro semestre deste ano, a divisão de eletrônicos de consumo cresceu 27% sobre igual período do ano passado", diz. A Philips tem como prioridade mundial expandir a divisão de equipamentos médicos para elevar, até 2010, a lucratividade da empresa por ação. No Brasil, a companhia adquiriu, em julho de 2007, a VMI Sistemas Médicos e, em maio deste ano, a Dixtal Biomédica. Zottolo diz que os problemas enfrentados pela Philips no ano passado, principalmente no setor de eletrônicos de consumo, ocorreu "por problemas internos". "Ficamos muitos anos sem investir em marketing e, em algum momento, a empresa teria de pagar essa conta. Nós pagamos essa conta agora." Sua entrada na Philips, há um ano e quatro meses, segundo Zottolo, marcou uma virada na forma de operar da empresa. "Tiramos o foco do produto para colocar na marca." No final do ano passado, a empresa entrou na linha de notebooks somente no Brasil. No mês que vem, vai estrear no mercado brasileiro de áudio para carros, estimado em R$ 1 bilhão, para concorrer principalmente com a Pioneer e a Sony. A Philips, segundo Zottolo, está tendo mais vantagem do que prejuízo neste momento com a taxa de câmbio, porque é mais importadora do que exportadora. Mas, na sua avaliação, o ideal para as empresas é o país ter uma taxa de câmbio entre R$ 1,75 e R$ 1,80. Quanto aos juros, "ninguém gosta de taxa de juros alta, mas gosta menos de inflação alta". A seguir, trechos da entrevista.

 

FOLHA - Por que a Philips teve queda de participação no mercado de TVs?
PAULO ZOTTOLO
- Por problemas internos, mais do que por outra coisa. Foi resultado de tudo o que não fizemos. Nós deixamos de investir em marketing durante muitos anos e, em algum momento, sabíamos que teríamos de pagar essa conta. Nós pagamos essa conta agora. E entra no mercado a LG, que tinha situações tributárias favoráveis e disposta a ganhar "market share" a qualquer preço. Perdemos muito dinheiro no ano passado com a venda de televisores.

FOLHA - Qual é a situação da Philips no mercado de TV neste ano?
ZOTTOLO
- Recuperamos muito. Os nossos números são os seguintes: em 2006, tínhamos 24% do mercado de televisores no país. Esse percentual caiu para 14% no ano passado e, neste ano, já chegamos a 20% do mercado de TV flat [plasma e LCD]. Vamos ser a número dois nesse mercado.

FOLHA - Por que não a número um?
ZOTTOLO
- Não queremos brigar com empresa que não está preocupada com lucratividade, como é o caso da LG. Não sei se estão operando com prejuízo. Mas, se estão, a matriz cobre. A Samsung, que é líder mundial no mercado de TV flat, é menos agressiva em preço e está em linha com a política mundial.

FOLHA - O que mudou na Philips desde que o sr. assumiu a presidência da empresa?
ZOTTOLO
- A Philips sempre foi uma empresa de produto. Quero que seja uma empresa de marca. A companhia lançava um produto e logo em seguida outro. Nunca acreditei que só produtos fazem a marca. Contratamos a cantora Ivete Sangalo e a agência de publicidade Africa e passamos a desenvolver campanhas desalinhadas da matriz. Está dando certo.

FOLHA - E como estão os investimentos na empresa?
ZOTTOLO
- Em 2006, os investimentos em marketing representavam 1,7% do nosso faturamento. Hoje, equivalem a 4,5% do faturamento [estimado em R$ 2,9 bilhões em 2007]. Outros investimentos são feitos com a compra de empresas. Já compramos duas na área de equipamentos médicos desde o final de 2007.

FOLHA - A Philips tem planos para entrar em novos mercados?
ZOTTOLO
- Sim. Em setembro, vamos lançar a linha de áudio para carros. Os investimentos em marketing e equipamentos para lançar esses produtos deverão somar 10 milhões. O primeiro lote de produtos [com cinco modelos] será importado da China. A produção em Manaus está prevista para o início do ano que vem. Chamamos essa linha de entretenimento para o carro, pois o produto vem equipado com telas de LCD, toca DVDs, integra-se com MP3 player e pode ser até usado com câmeras de vídeo para melhorar a visão do motorista.

FOLHA - O BNDES procurou algumas empresas para oferecer ajuda caso quisessem adquirir a Gradiente. A Philips foi procurada?
ZOTTOLO
- Não. A Gradiente é uma marca importante no mercado e tem valor. Seria uma pena vê-la desaparecer. Não é fácil ser player nesse mercado. É preciso ter uma matriz para segurar [custos, estrutura, lançamentos, margem de lucro]. A Gradiente começou a expandir [seus negócios] para computador, áudio, TV. É precisa ter muito dinheiro para segurar isso tudo.

FOLHA - As atuais taxas de câmbio e de juros afetam os negócios da empresa?
ZOTTOLO
- A empresa não tem prejuízo [com a taxa atual] porque está importando mais do que exportando. Para ter condições de exportar [mais] para a América Latina, o câmbio ideal seria entre R$ 1,75 e R$ 1,80, no mínimo. Ninguém gosta também de taxa de juro alta, mas gosta menos de inflação alta. Para mim, a medida correta seria corte de gastos públicos. No entanto, pelo menos a mensagem do governo é clara: se a inflação coloca a cabeça para fora, leva uma cacetada.

FOLHA - Há um ano um comentário seu sobre o Estado do Piauí causou mal-estar. [Ele afirmou que, se o Piauí deixasse de existir, ninguém iria ficar chateado. E se desculpou, dizendo que a afirmação fazia parte de um contexto que foi desconsiderado em sua declaração]. O Piauí já fez as pazes com o sr.?
ZOTTOLO
- Nunca fui lá perguntar. Mas tenho um bom relacionamento com o governador [Wellington Dias, do PT]. Esse episódio já foi superado.


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