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CRÉDITO
Para presidente, bancos se acomodam e só querem "filé mignon da sociedade"
Lula diz que pobre paga em
dia e "grandes" dão calote
WILSON SILVEIRA
JULIANNA SOFIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Ao comemorar a abertura de
500 mil contas simplificadas pela
CEF (Caixa Econômica Federal),
o presidente Luiz Inácio Lula da
Silva elogiou a honestidade dos
pobres e disse que os "grandes" é
que dão calote em banco. Lula
afirmou também que a concessão
de microcrédito "vai garantir que
a sociedade deixe de ser vítima da
agiotagem estabelecida no país".
"Pobre paga em dia. Para ter o
nome limpo na praça, ele não dá
calote. Coisa que muito lojista já
percebeu. Só o Estado brasileiro
não havia percebido isso ainda",
disse o presidente, em discurso
-em parte lido, em parte improvisado- no Planalto.
Lula também criticou os bancos
privados, ao afirmar que não querem clientes pobres. "Afinal, se
10% da população detém 50% da
riqueza, os bancos se acomodam
e preferem concentrar a clientela
no filé mignon da sociedade."
Segundo o presidente, "muitas
vezes, o único patrimônio que os
pobres têm é seu próprio nome",
por isso eles têm ojeriza à palavra
calote. "Quem deve ao banco normalmente é uma parte mais aquinhoada [da população], que teve
acesso a juros e a dinheiro que pobre nunca conseguiu ter."
Os bancos públicos que foram
privatizados, todos com dívidas
não pagas, não têm nenhum pobre como devedor, segundo o
presidente. "É só pegar a lista.
Não tem um único pobre", disse.
Apesar disso, afirmou que o Estado preferia levar "calotes bilionários" dos grandes, "tomar tombo em milhões de reais", a emprestar R$ 200, R$ 300 ou R$ 500
para um pobre.
"Agora, isso acabou", disse,
acrescentando que o crédito popular ajudará também a criar um
mercado de consumo de massa.
Segundo ele, a CEF, o Banco do
Brasil, o BNDES e outros bancos
participantes do programa de microcrédito vão livrar a sociedade
da agiotagem.
"Em economia não existe panacéia, não existe truque, não existe
carta na manga. O que existe é o
compromisso político do governo
de promover justiça social, democratizando as oportunidades",
afirmou o presidente.
Juros reduzidos
O programa de contas simplificadas foi lançado em 25 de maio,
com a expectativa de que alcançasse 500 mil correntistas no final
do ano. Como a meta foi atingida
antes, Lula espera que esse número seja dobrado até dezembro.
Essa conta, chamada "Caixa
aqui", é aberta sem necessidade
de comprovação de renda nem de
endereço -para favorecer moradores de rua, por exemplo. Após
três meses da abertura da conta, o
cliente recebe um crédito de R$
200, que ficará disponível por
quatro meses, podendo ser renovado -se for pago.
Se o dinheiro for usado, o cliente pagará 2% ao mês. Para ter
acesso ao crédito, o cliente não
pode ter o nome incluído na Serasa e no SPC (listas dos que dão calote) nem na lista de emitentes de
cheques sem fundos do Banco
Central.
O ministro da Fazenda, Antonio
Palocci Filho, que participou da
cerimônia, disse que muitos brasileiros se submetem a juros superiores a 300% ao ano.
"A CEF é um banco e deve se
comportar como um banco. Mas
a CEF é um banco público e tem
claramente encontrado o caminho de um banco que olha os interesse públicos em primeiro lugar", disse o ministro.
Segundo ele, neste ano a CEF teve lucro significativo, de R$ 860
milhões no primeiro semestre,
mostrando que "o interesse público pode, sim, viabilizar um
banco de qualidade".
Palocci disse ainda que a medida provisória que permitirá o desconto de empréstimo bancário na
folha de pagamento deverá sair
nesta semana.
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