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São Paulo, quarta-feira, 10 de setembro de 2003

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CRÉDITO

Para presidente, bancos se acomodam e só querem "filé mignon da sociedade"

Lula diz que pobre paga em dia e "grandes" dão calote

WILSON SILVEIRA
JULIANNA SOFIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Ao comemorar a abertura de 500 mil contas simplificadas pela CEF (Caixa Econômica Federal), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva elogiou a honestidade dos pobres e disse que os "grandes" é que dão calote em banco. Lula afirmou também que a concessão de microcrédito "vai garantir que a sociedade deixe de ser vítima da agiotagem estabelecida no país".
"Pobre paga em dia. Para ter o nome limpo na praça, ele não dá calote. Coisa que muito lojista já percebeu. Só o Estado brasileiro não havia percebido isso ainda", disse o presidente, em discurso -em parte lido, em parte improvisado- no Planalto.
Lula também criticou os bancos privados, ao afirmar que não querem clientes pobres. "Afinal, se 10% da população detém 50% da riqueza, os bancos se acomodam e preferem concentrar a clientela no filé mignon da sociedade."
Segundo o presidente, "muitas vezes, o único patrimônio que os pobres têm é seu próprio nome", por isso eles têm ojeriza à palavra calote. "Quem deve ao banco normalmente é uma parte mais aquinhoada [da população], que teve acesso a juros e a dinheiro que pobre nunca conseguiu ter."
Os bancos públicos que foram privatizados, todos com dívidas não pagas, não têm nenhum pobre como devedor, segundo o presidente. "É só pegar a lista. Não tem um único pobre", disse.
Apesar disso, afirmou que o Estado preferia levar "calotes bilionários" dos grandes, "tomar tombo em milhões de reais", a emprestar R$ 200, R$ 300 ou R$ 500 para um pobre.
"Agora, isso acabou", disse, acrescentando que o crédito popular ajudará também a criar um mercado de consumo de massa. Segundo ele, a CEF, o Banco do Brasil, o BNDES e outros bancos participantes do programa de microcrédito vão livrar a sociedade da agiotagem.
"Em economia não existe panacéia, não existe truque, não existe carta na manga. O que existe é o compromisso político do governo de promover justiça social, democratizando as oportunidades", afirmou o presidente.

Juros reduzidos
O programa de contas simplificadas foi lançado em 25 de maio, com a expectativa de que alcançasse 500 mil correntistas no final do ano. Como a meta foi atingida antes, Lula espera que esse número seja dobrado até dezembro.
Essa conta, chamada "Caixa aqui", é aberta sem necessidade de comprovação de renda nem de endereço -para favorecer moradores de rua, por exemplo. Após três meses da abertura da conta, o cliente recebe um crédito de R$ 200, que ficará disponível por quatro meses, podendo ser renovado -se for pago.
Se o dinheiro for usado, o cliente pagará 2% ao mês. Para ter acesso ao crédito, o cliente não pode ter o nome incluído na Serasa e no SPC (listas dos que dão calote) nem na lista de emitentes de cheques sem fundos do Banco Central.
O ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, que participou da cerimônia, disse que muitos brasileiros se submetem a juros superiores a 300% ao ano.
"A CEF é um banco e deve se comportar como um banco. Mas a CEF é um banco público e tem claramente encontrado o caminho de um banco que olha os interesse públicos em primeiro lugar", disse o ministro.
Segundo ele, neste ano a CEF teve lucro significativo, de R$ 860 milhões no primeiro semestre, mostrando que "o interesse público pode, sim, viabilizar um banco de qualidade".
Palocci disse ainda que a medida provisória que permitirá o desconto de empréstimo bancário na folha de pagamento deverá sair nesta semana.


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