UOL


São Paulo, quarta-feira, 10 de setembro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

BASTIDORES

Soco na mesa sela acordo

GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.

O acordo preliminar anunciado na segunda-feira pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) para a renegociação da dívida da AES só foi fechado no último minuto, pouco antes da nota oficial divulgada pelo banco.
Os sete meses de negociação entre o BNDES e a AES foram marcados por chute na porta, soco na mesa e ameaças de todo o tipo. O principal ponto de desentendimento sempre foi a geradora AES Tietê, considerada a jóia do tesouro da negociação, que a AES não queria incluir na NovaCom, a empresa criada no acordo que terá a participação do BNDES. Sem a AES Tietê, o BNDES desistiria do acordo e iria partir para a execução judicial da dívida.
O acordo foi fechado na segunda-feira depois de um soco na mesa dado pelo diretor financeiro do BNDES, Roberto Timótheo da Costa, 58, que ficou responsável pela negociação com a AES. Pela enésima vez, os negociadores da AES tinham desistido do acordo.
Eles argumentaram que não podiam incluir a AES Tietê na nova empresa pelo fato de ela ter sido dada em garantia na emissão de um bônus no valor de US$ 300 milhões nos Estados Unidos.
Costa perdeu a paciência com os homens da AES e desferiu um soco na mesa. Em seguida, ameaçou melar o acordo se o documento não fosse assinado em cinco minutos. Só depois dessa reação o acordo foi assinado.
Dois meses antes, quem perdeu a cabeça foi Joseph Brandt, 45, segundo homem na hierarquia na AES e o principal negociador pela empresa norte-americana. Ao discordar de uma proposta do BNDES, ele se retirou da sala rispidamente, não sem antes dar um chute na porta. Ali, naquele momento, o BNDES chegou a pensar que teria de recorrer à Justiça.
"Foram sete meses de idas e vindas", diz Costa. Apesar de todos os atritos com Brandt, o diretor do BNDES reconhece que só depois de ele ter entrado na negociação é que as conversas prosperaram. Antes, quem conduzia as negociações era Steven Clancy, que presidia a Eletropaulo, mas não tinha poder de decisão.
Um fato inusitado ajudou a acelerar as negociações na reta final. Aficionado por tênis, Brandt, que esteve no Brasil na semana passada para selar os últimos detalhes do acordo, pressionou todos para que tudo fosse acertado até quinta-feira.
Brandt tinha de voltar para os Estados Unidos no dia seguinte. Ele havia prometido levar sua mulher para assistir às semifinais do torneio aberto de tênis dos EUA, o US Open, no sábado (o chamado "big saturday"), um dos dias mais disputados da temporada de tênis no mundo.


Texto Anterior: Região é a principal fonte de receita
Próximo Texto: Teles: Fundo dos EUA pode comprar Intelig
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.