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BASTIDORES
Soco na mesa sela acordo
GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.
O acordo preliminar anunciado na segunda-feira pelo
BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) para a renegociação da dívida da AES só foi fechado no último minuto, pouco antes da nota
oficial divulgada pelo banco.
Os sete meses de negociação entre o BNDES e a AES foram marcados por chute na porta, soco na
mesa e ameaças de todo o tipo. O
principal ponto de desentendimento sempre foi a geradora AES
Tietê, considerada a jóia do tesouro da negociação, que a AES não
queria incluir na NovaCom, a empresa criada no acordo que terá a
participação do BNDES. Sem a
AES Tietê, o BNDES desistiria do
acordo e iria partir para a execução judicial da dívida.
O acordo foi fechado na segunda-feira depois de um soco na
mesa dado pelo diretor financeiro
do BNDES, Roberto Timótheo da
Costa, 58, que ficou responsável
pela negociação com a AES. Pela
enésima vez, os negociadores da
AES tinham desistido do acordo.
Eles argumentaram que não podiam incluir a AES Tietê na nova
empresa pelo fato de ela ter sido
dada em garantia na emissão de
um bônus no valor de US$ 300
milhões nos Estados Unidos.
Costa perdeu a paciência com
os homens da AES e desferiu um
soco na mesa. Em seguida, ameaçou melar o acordo se o documento não fosse assinado em cinco minutos. Só depois dessa reação o acordo foi assinado.
Dois meses antes, quem perdeu
a cabeça foi Joseph Brandt, 45, segundo homem na hierarquia na
AES e o principal negociador pela
empresa norte-americana. Ao
discordar de uma proposta do
BNDES, ele se retirou da sala rispidamente, não sem antes dar um
chute na porta. Ali, naquele momento, o BNDES chegou a pensar
que teria de recorrer à Justiça.
"Foram sete meses de idas e vindas", diz Costa. Apesar de todos
os atritos com Brandt, o diretor
do BNDES reconhece que só depois de ele ter entrado na negociação é que as conversas prosperaram. Antes, quem conduzia as negociações era Steven Clancy, que
presidia a Eletropaulo, mas não tinha poder de decisão.
Um fato inusitado ajudou a acelerar as negociações na reta final.
Aficionado por tênis, Brandt, que
esteve no Brasil na semana passada para selar os últimos detalhes
do acordo, pressionou todos para
que tudo fosse acertado até quinta-feira.
Brandt tinha de voltar para os
Estados Unidos no dia seguinte.
Ele havia prometido levar sua
mulher para assistir às semifinais
do torneio aberto de tênis dos
EUA, o US Open, no sábado (o
chamado "big saturday"), um dos
dias mais disputados da temporada de tênis no mundo.
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