São Paulo, sexta-feira, 10 de setembro de 2004

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PEDRA NO CAMINHO?

Produção sobe pelo 5º mês seguido, mas tem queda nos setores de bens semi e não-duráveis, aponta IBGE

Renda ainda trava recuperação industrial

GABRIELA WOLTHERS
DA SUCURSAL DO RIO

A produção industrial brasileira registrou uma expansão de 0,5% em julho em relação a junho. Apesar de acumular o quinto aumento consecutivo no ano, o percentual ficou abaixo do esperado pelas consultorias, que projetavam, em média, um aumento de 1%. Nos sete meses de 2004, o crescimento foi de 7,8%.
A pesquisa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) aponta que a produção de bens semi-duráveis e não-duráveis, que incluem itens de consumo rápido como alimentos, vestuário e produtos farmacêuticos, apresentou uma queda de 1% em julho na comparação com o mês anterior. Para o instituto, o setor apresenta um "ritmo de recuperação bem mais moderado" pelo fato de ser "mais sensível à evolução da massa de rendimentos".
O rendimento médio real das pessoas ocupadas registrou em julho a primeira alta -de 2%- em relação ao mesmo mês do ano anterior, segundo o IBGE. Mesmo assim, permanece abaixo do recebido há dois anos.
"É bastante razoável que os bens semi e não-duráveis tenham uma recuperação bem lenta e gradual", avalia Bráulio Borges, economista da LCA Consultores. "A taxa de desemprego do ano passado estava muito alta, e as pessoas que conseguem emprego estão pagando dívidas e comprando bens duráveis [como veículos, eletrodomésticos e móveis] pela facilidade de crédito."
Essa é a avaliação de Silvio Sales, chefe de Coordenação da Indústria do IBGE. "O consumo está mais evidente nos casos de bens de capital [adquiridos para modernização ou ampliação das empresas] e de bens duráveis, que dependem mais do acesso ao crédito para se expandir. Os bens não-duráveis dependem de aumento da renda real."
No caso de bens de capital, a pesquisa apontou uma queda de 1,1% em julho em relação a junho, após quatro meses consecutivos de alta. Esse setor é analisado com lupa pelos analistas, pois identifica se as empresas estão ampliando sua capacidade instalada -fundamental para que o país consiga produzir mais sem que haja pressão inflacionária.
A queda, no entanto, não preocupa Silvio Sales, do IBGE. "É o primeiro resultado negativo depois de quatro meses consecutivos de alta. É natural que na margem, ou seja, na comparação de um mês com o mês imediatamente anterior, ocorram ajustes." A produção de bens de capital teve uma expansão de 24,9% nos sete meses deste ano, a maior de todos os setores.
"Esse dado mostra que há aumento dos investimentos. A questão é saber se são suficientes para desafogar os setores que estão perto de atingir sua capacidade instalada", disse Sales. Ele ressaltou ainda que a última vez em que a produção da indústria em geral havia apresentado cinco crescimentos consecutivos ante mês anterior foi entre novembro de 2001 e março de 2002.
Para Bráulio Borges, a tendência continua apontando para um crescimento de bens de capital. "Se houvesse três, quatro meses de queda, seria sinal de alguma coisa errada." Já para Juan Pedro Jensen, da Tendências Consultoria, tanto a queda na produção de bens de capital como na de bens semi e não-duráveis "acendem uma luz amarela, mas não chegam a preocupar".
A "luz amarela" aparece, na sua avaliação, porque os dois setores são os que mais podem crescer sem pressionar a inflação. "O que tem que crescer não apresentou expansão, mas ainda acreditamos que o resultado seja pontual."
A maior queda nos sete meses deste ano foi da indústria farmacêutica (-11,17%). A Febrafarma (Federação Brasileira da Indústria Farmacêutica), que representa a categoria, disse que não iria se manifestar sobre o resultado.


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