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ANÁLISE
País paga por queda salarial
FERNANDO SAMPAIO
DA EQUIPE DE EDITORIALISTAS
O IBGE (Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística)
divulgou ontem uma miríade de
números, em geral claramente
positivos, acerca do desempenho
recente da produção industrial
brasileira. Sobre a base de comparação sabidamente baixa dada pelos meses iniciais do ano passado,
a maior parte dos grandes segmentos da indústria acumula em
2004 crescimento expressivo: os
bens de capital (grupo que abrange máquinas e equipamentos industriais e equipamentos pesados
de transporte como caminhões) e
os bens de consumo duráveis (como automóveis e eletro-eletrônicos) têm alta de quase 25%, ao
passo que os bens intermediários
(como o aço e os produtos químicos) crescem pouco menos de 7%.
Os bens de consumo básicos, no
entanto, continuam a apresentar
resultados contrastantes, muito
mais fracos do que os dos demais
segmentos. Nos sete primeiros
meses do ano, a produção desse
grupo de bens -que o IBGE denomina como semiduráveis e
não-duráveis e inclui itens como
roupas, calçados, alimentos industrializados e artigos de higiene
e limpeza- foi apenas 2% maior
do que entre janeiro e julho de
2003. E, comparando-se a produção desses bens acumulada no período de 12 meses findo em julho
com a dos 12 meses anteriores,
ainda se constata queda, de 0,7%.
Pela natureza das necessidades
que atendem, é típico que os bens
voltados ao consumo básico apresentem produção menos elástica
-ou seja, que varia, de maneira
positiva ou negativa, de forma
menos acentuada do que a das demais manufaturas. Mas essa característica é por larga margem
insuficiente para explicar seu desempenho recente, ainda fraco.
Dentre os fatores que concorrem para explicar o retardo relativo e a debilidade da recuperação
da produção dos bens de consumo básico, três se destacam. O
principal é a forte redução da renda média dos trabalhadores ocupados entre 1999 e 2003. Embora
já tenha sido interrompido, esse
processo foi muito expressivo,
tendo subtraído cerca de 20% do
poder de compra do consumidor
médio. Ao lado disso, houve desde 1998 um marcante encarecimento relativo de alguns itens da
cesta de consumo (com destaque
para a energia elétrica, a telefonia
e o transporte urbano), o que reduziu a fatia da renda disponível
para a compra de manufaturas semi e não-duráveis. Por fim, a retomada das vendas de bens de consumo duráveis iniciada em meados do ano passado significou o
comprometimento de uma parcela crescente dos orçamentos
domésticos com o pagamento de
prestações, limitando o espaço
para uma retomada mais firme
do consumo básico.
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