São Paulo, domingo, 10 de setembro de 2006

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Escala nos EUA vira opção para ir à Europa

Crise da Varig reduz disponibilidade de vôos, e aumento da demanda eleva tarifas; passagem pode sair pela metade do preço

Viagem, no entanto, pode levar o triplo do tempo, e visto norte-americano, que custa US$ 100, é necessário para a conexão

MAELI PRADO
DA REPORTAGEM LOCAL

Que tal gastar quase 30 horas entre avião e escala no aeroporto, em vez de 11 horas em um vôo direto? Neste ano, cresceu a quantidade de passageiros com visto americano que têm optado por viajar para cidades européias com escala nos Estados Unidos.
O fenômeno pode ser explicado pela brusca saída da Varig de diversos destinos internacionais e pela alta da demanda neste ano: as companhias aéreas européias estão lotadas, as tarifas dispararam e muitas vezes é difícil encontrar vôos diretos nas datas desejadas.
Além disso, os vôos para as principais cidades da Europa que prevêem parada nos Estados Unidos podem sair até pela metade do preço dos diretos, apesar de a alta de tarifas para destinos internacionais, em comparação com o ano passado, ter sido generalizada.
Segundo levantamento da Folha no site de pesquisas de tarifas Decolar.com, os vôos mais baratos para Milão, na Itália, Frankfurt, na Alemanha, Londres, na Inglaterra, e Paris, na França, são realizados por companhias dos EUA e prevêem escalas ou conexões em cidades como Nova York, Washington, Houston e Boston.
No caso de Paris, ao pesquisar o preço mais baixo para partida no dia 2 de outubro com volta no dia 7 do mesmo mês, as primeiras três tarifas mais baixas que aparecem são de Continental (US$ 1.529), United Airlines (US$ 1.789) e American Airlines (US$ 2.592). O vôo mais barato disponível no site da Air France aparece apenas em quinto lugar, por US$ 3.442.
Os preços menores não podem ser observados apenas em sites de buscas de melhor tarifa, que procuram preços mais baixos via sistemas de reservas usados por agentes de viagens e os sites das companhias.
"Não é em larga escala. Mas essa opção existe, está sendo utilizada e os preços são competitivos", diz Cássio Oliveira, diretor comercial da Rextour (distribuidora de bilhetes aéreos para agências de viagens).
A americana United Airlines, por exemplo, teve alta de 25% em sua receita com vendas para a Europa de maio a julho, em comparação com o mesmo período do ano passado.
Aí está embutido também, ressalva Michael Guenther, diretor-geral da companhia para o Brasil, o efeito Copa do Mundo. "Com a saída da Varig e a Copa do Mundo, houve muitos passageiros que não tiveram escolha. Quem tem visto aproveitou essa opção", afirma.

Longa espera e visto
O passageiro que opta por um vôo com parada nos EUA, é claro, precisa ter muito tempo disponível: o vôo da Continental, por exemplo, prevê um tempo de espera em Nova York, cidade da escala, de 12 horas e 15 minutos. Se forem somadas as 9 horas e 50 minutos que o passageiro passará no avião até a cidade americana e as outras 7 horas e 20 minutos do vôo até Paris, tem-se uma idéia do desconforto em nome da disponibilidade do vôo e de um preço bem mais baixo.
Outro ponto importante: o viajante precisa ter visto para os EUA (a taxa é de US$ 100), o que ficou bem mais difícil depois do 11 de Setembro.
Como ressalta Daniel Bento, do Decolar.com, muitos passageiros não se dispõem a passar tempo muito maior viajando para chegar ao destino. "Há boas tarifas também para, por exemplo, ir a Roma via Buenos Aires. Mas muitos passageiros não querem ter que passar pela Argentina para ir à Itália."
Além disso, mesmo se sujeitando a escalas improváveis, o passageiro pode não encontrar lugar na data desejada. "Em julho e agosto, todas as companhias americanas também estavam lotadas. Do fim para o meio de setembro é que os vôos das americanas começarão a se abrir", diz Oliveira, da Rextour.
Apesar do desconforto, essa, às vezes, é a única opção para quem viaja para a Europa. "Para as rotas diretas, se falamos de Portugal, Itália e Espanha, complica. Se o passageiro não quer fazer escala, é bem mais difícil de conseguir lugar", diz Magda Nassar, diretora comercial da agência Soft Travel.

Gerenciamento de tarifas
É possível encontrar preços mais baixos para vôos para a Europa com escala nos EUA do que os diretos em razão dos sistemas de gerenciamento de tarifas utilizados atualmente pelas companhias, que visam maximizar os ganhos em cada vôo.
"São softwares que visam maximizar a receita. Levam em conta tanto a demanda que aquele vôo teve no passado quanto como está evoluindo o portfólio de reservas. Dentro de certos limites, o software indica qual o preço que a companhia precisa cobrar por aquele assento para ele não ficar vazio", explica André Castellini, consultor especializado no setor aéreo da Bain & Company.
Dessa forma, se a aérea conclui que há demanda suficiente para cobrar uma tarifa mais alta por assento, o fará, e vice-versa: "É melhor cobrar menos do que o assento ficar vazio".


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