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Escala nos EUA vira opção para ir à Europa
Crise da Varig reduz disponibilidade de vôos, e aumento da demanda eleva tarifas; passagem pode sair pela metade do preço
Viagem, no entanto, pode
levar o triplo do tempo, e
visto norte-americano,
que custa US$ 100, é
necessário para a conexão
MAELI PRADO
DA REPORTAGEM LOCAL
Que tal gastar quase 30 horas
entre avião e escala no aeroporto, em vez de 11 horas em um
vôo direto? Neste ano, cresceu
a quantidade de passageiros
com visto americano que têm
optado por viajar para cidades
européias com escala nos Estados Unidos.
O fenômeno pode ser explicado pela brusca saída da Varig
de diversos destinos internacionais e pela alta da demanda
neste ano: as companhias aéreas européias estão lotadas, as
tarifas dispararam e muitas vezes é difícil encontrar vôos diretos nas datas desejadas.
Além disso, os vôos para as
principais cidades da Europa
que prevêem parada nos Estados Unidos podem sair até pela
metade do preço dos diretos,
apesar de a alta de tarifas para
destinos internacionais, em
comparação com o ano passado, ter sido generalizada.
Segundo levantamento da
Folha no site de pesquisas de
tarifas Decolar.com, os vôos
mais baratos para Milão, na
Itália, Frankfurt, na Alemanha,
Londres, na Inglaterra, e Paris,
na França, são realizados por
companhias dos EUA e prevêem escalas ou conexões em
cidades como Nova York, Washington, Houston e Boston.
No caso de Paris, ao pesquisar o preço mais baixo para
partida no dia 2 de outubro
com volta no dia 7 do mesmo
mês, as primeiras três tarifas
mais baixas que aparecem são
de Continental (US$ 1.529),
United Airlines (US$ 1.789) e
American Airlines (US$ 2.592).
O vôo mais barato disponível
no site da Air France aparece
apenas em quinto lugar, por
US$ 3.442.
Os preços menores não podem ser observados apenas em
sites de buscas de melhor tarifa, que procuram preços mais
baixos via sistemas de reservas
usados por agentes de viagens e
os sites das companhias.
"Não é em larga escala. Mas
essa opção existe, está sendo
utilizada e os preços são competitivos", diz Cássio Oliveira,
diretor comercial da Rextour
(distribuidora de bilhetes aéreos para agências de viagens).
A americana United Airlines,
por exemplo, teve alta de 25%
em sua receita com vendas para a Europa de maio a julho, em
comparação com o mesmo período do ano passado.
Aí está embutido também,
ressalva Michael Guenther, diretor-geral da companhia para
o Brasil, o efeito Copa do Mundo. "Com a saída da Varig e a
Copa do Mundo, houve muitos
passageiros que não tiveram
escolha. Quem tem visto aproveitou essa opção", afirma.
Longa espera e visto
O passageiro que opta por
um vôo com parada nos EUA, é
claro, precisa ter muito tempo
disponível: o vôo da Continental, por exemplo, prevê um
tempo de espera em Nova
York, cidade da escala, de 12 horas e 15 minutos. Se forem somadas as 9 horas e 50 minutos
que o passageiro passará no
avião até a cidade americana e
as outras 7 horas e 20 minutos
do vôo até Paris, tem-se uma
idéia do desconforto em nome
da disponibilidade do vôo e de
um preço bem mais baixo.
Outro ponto importante: o
viajante precisa ter visto para
os EUA (a taxa é de US$ 100), o
que ficou bem mais difícil depois do 11 de Setembro.
Como ressalta Daniel Bento,
do Decolar.com, muitos passageiros não se dispõem a passar tempo muito maior viajando para chegar ao destino. "Há
boas tarifas também para, por
exemplo, ir a Roma via Buenos
Aires. Mas muitos passageiros
não querem ter que passar pela
Argentina para ir à Itália."
Além disso, mesmo se sujeitando a escalas improváveis, o
passageiro pode não encontrar
lugar na data desejada. "Em julho e agosto, todas as companhias americanas também estavam lotadas. Do fim para o
meio de setembro é que os vôos
das americanas começarão a se
abrir", diz Oliveira, da Rextour.
Apesar do desconforto, essa,
às vezes, é a única opção para
quem viaja para a Europa. "Para as rotas diretas, se falamos
de Portugal, Itália e Espanha,
complica. Se o passageiro não
quer fazer escala, é bem mais
difícil de conseguir lugar", diz
Magda Nassar, diretora comercial da agência Soft Travel.
Gerenciamento de tarifas
É possível encontrar preços
mais baixos para vôos para a
Europa com escala nos EUA do
que os diretos em razão dos sistemas de gerenciamento de tarifas utilizados atualmente pelas companhias, que visam maximizar os ganhos em cada vôo.
"São softwares que visam
maximizar a receita. Levam em
conta tanto a demanda que
aquele vôo teve no passado
quanto como está evoluindo o
portfólio de reservas. Dentro
de certos limites, o software indica qual o preço que a companhia precisa cobrar por aquele
assento para ele não ficar vazio", explica André Castellini,
consultor especializado no setor aéreo da Bain & Company.
Dessa forma, se a aérea conclui que há demanda suficiente
para cobrar uma tarifa mais alta por assento, o fará, e vice-versa: "É melhor cobrar menos
do que o assento ficar vazio".
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