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YOSHIAKI NAKANO
O quadro internacional favorável está no fim
A expansão do PIB mundial
ao redor de 4% ao ano parece
estar chegando ao fim; o
Brasil tem de se preparar
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A ECONOMIA mundial tem crescido espetacularmente nos
últimos anos. A liquidez é
enorme e a taxa de juros de longo
prazo relativamente baixa, apesar
de o Federal Reserve (BC dos EUA)
ter elevado fortemente a taxa de juros de curto prazo. Esse crescimento do PIB mundial em torno de 4%
ao ano e dos países emergentes em
mais de 6% ao ano parece estar chegando ao fim. Isso significa que o
Brasil, que não consegue escapar da
triste média de 2,4% ao ano de crescimento do PIB dos últimos anos,
precisa se preparar.
A causa imediata do desaquecimento da economia mundial é a desaceleração da economia norte-americana. O Fed vem elevando a
taxa de juros de curto prazo, hoje em
5,25% ao ano, para conter pressões
inflacionárias. O mesmo vem sendo
feito por diversos bancos centrais na
Europa, em alguns países emergentes, como a China, e mesmo no Japão. Portanto não há dúvida de que
haverá uma desaceleração no crescimento desses países.
Mas o que preocupa é que o boom
da indústria de construção residencial chegou ao seu fim nos EUA e pode desencadear uma contração muito forte na sua economia, com a reversão cíclica e, conseqüentemente,
a queda nos preços dos imóveis residenciais. Tal fato deverá ter impacto
significativo sobre o consumo das
famílias. Se esse cenário recessivo
norte-americano se concretizar,
afetará o resto da economia mundial
dado o seu enorme peso, transmitindo principalmente pelo canal do
comércio mundial. A esse quadro
somam-se outros problemas como o
choque do preço de petróleo e o
enorme déficit em transações correntes dos Estados Unidos.
Outro conjunto de problemas surge do lado do risco financeiro. A
crescente integração comercial permitiu, nos últimos 20 anos, forte
aceleração do crescimento da China
e da Índia. A entrada da China e da
Índia, por sua vez, gerou forças desinflacionárias que atuaram no sentido de os bancos centrais relaxarem
o controle da expansão monetária e
creditícia, priorizando o manejo da
taxa de juros, utilizando o mecanismo de meta de inflação. No quadro
deflacionário global, esse sistema de
metas funcionou bem. A questão
que se coloca é como manejar o sistema de metas quando as pressões
inflacionárias surgem de choques de
custos, sobre os quais a taxa de juros
não tem efeito direto.
Esse quadro de grande liquidez,
que está chegando ao seu fim agora,
já promoveu forte expansão de crédito, inflacionando os preços de determinados ativos, que, por sua vez,
aumentaram a disposição de correr
riscos, realimentando novos ciclos
de expansão de crédito e inflação de
ativos provocando desequilíbrios e
grandes acúmulos de dívidas (consumidores nos Estados Unidos, empresas na Europa e governos no Japão e em países emergentes). Muitos projetam ainda o passado de bonança para o futuro, mas, eventualmente, e a qualquer momento, as
expectativas exageradas referentes
ao risco e retornos dos ativos podem
ser frustradas e todo o processo ser
revertido com a deflação de preços
de ativos, queda do retorno e, conseqüentemente, crise, numa seqüência imprevisível de eventos. Assim,
existe risco de conjugação de uma
recessão da economia norte-americana com uma deflação nos preços
dos ativos e de algumas commodities com conseqüências difíceis de
serem previstas.
YOSHIAKI NAKANO , 61, diretor da Escola de Economia de
São Paulo da FGV (Fundação Getulio Vargas), foi secretário da Fazenda do Estado de São Paulo no governo Mário
Covas (1995-2001).
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