São Paulo, domingo, 10 de setembro de 2006

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YOSHIAKI NAKANO

O quadro internacional favorável está no fim


A expansão do PIB mundial ao redor de 4% ao ano parece estar chegando ao fim; o Brasil tem de se preparar

A ECONOMIA mundial tem crescido espetacularmente nos últimos anos. A liquidez é enorme e a taxa de juros de longo prazo relativamente baixa, apesar de o Federal Reserve (BC dos EUA) ter elevado fortemente a taxa de juros de curto prazo. Esse crescimento do PIB mundial em torno de 4% ao ano e dos países emergentes em mais de 6% ao ano parece estar chegando ao fim. Isso significa que o Brasil, que não consegue escapar da triste média de 2,4% ao ano de crescimento do PIB dos últimos anos, precisa se preparar.
A causa imediata do desaquecimento da economia mundial é a desaceleração da economia norte-americana. O Fed vem elevando a taxa de juros de curto prazo, hoje em 5,25% ao ano, para conter pressões inflacionárias. O mesmo vem sendo feito por diversos bancos centrais na Europa, em alguns países emergentes, como a China, e mesmo no Japão. Portanto não há dúvida de que haverá uma desaceleração no crescimento desses países.
Mas o que preocupa é que o boom da indústria de construção residencial chegou ao seu fim nos EUA e pode desencadear uma contração muito forte na sua economia, com a reversão cíclica e, conseqüentemente, a queda nos preços dos imóveis residenciais. Tal fato deverá ter impacto significativo sobre o consumo das famílias. Se esse cenário recessivo norte-americano se concretizar, afetará o resto da economia mundial dado o seu enorme peso, transmitindo principalmente pelo canal do comércio mundial. A esse quadro somam-se outros problemas como o choque do preço de petróleo e o enorme déficit em transações correntes dos Estados Unidos.
Outro conjunto de problemas surge do lado do risco financeiro. A crescente integração comercial permitiu, nos últimos 20 anos, forte aceleração do crescimento da China e da Índia. A entrada da China e da Índia, por sua vez, gerou forças desinflacionárias que atuaram no sentido de os bancos centrais relaxarem o controle da expansão monetária e creditícia, priorizando o manejo da taxa de juros, utilizando o mecanismo de meta de inflação. No quadro deflacionário global, esse sistema de metas funcionou bem. A questão que se coloca é como manejar o sistema de metas quando as pressões inflacionárias surgem de choques de custos, sobre os quais a taxa de juros não tem efeito direto.
Esse quadro de grande liquidez, que está chegando ao seu fim agora, já promoveu forte expansão de crédito, inflacionando os preços de determinados ativos, que, por sua vez, aumentaram a disposição de correr riscos, realimentando novos ciclos de expansão de crédito e inflação de ativos provocando desequilíbrios e grandes acúmulos de dívidas (consumidores nos Estados Unidos, empresas na Europa e governos no Japão e em países emergentes). Muitos projetam ainda o passado de bonança para o futuro, mas, eventualmente, e a qualquer momento, as expectativas exageradas referentes ao risco e retornos dos ativos podem ser frustradas e todo o processo ser revertido com a deflação de preços de ativos, queda do retorno e, conseqüentemente, crise, numa seqüência imprevisível de eventos. Assim, existe risco de conjugação de uma recessão da economia norte-americana com uma deflação nos preços dos ativos e de algumas commodities com conseqüências difíceis de serem previstas.


YOSHIAKI NAKANO , 61, diretor da Escola de Economia de São Paulo da FGV (Fundação Getulio Vargas), foi secretário da Fazenda do Estado de São Paulo no governo Mário Covas (1995-2001).


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