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País fica para trás na solução de gargalo de infra-estrutura
Principais economias avançam com as parcerias público-privadas, mas Brasil é exceção
Crescimento global põe em xeque setor de transporte e logística dos países; no caso brasileiro, nenhuma PPP em nível federal saiu do papel
FERNANDO CANZIAN
DA REPORTAGEM LOCAL
Os cinco últimos anos de
crescimento global ininterruptos na faixa de 5% começam a
expor problemas na infra-estrutura de transporte e logística em várias partes do mundo.
Os países em desenvolvimento,
com crescimento ainda mais
acelerado, são os que mais sofrem com os problemas.
A principal saída dos governos tem sido recorrer a variações de modelos de PPPs (parcerias público-privadas).
Em vários países africanos,
até 14% dos projetos nas áreas
de energia e transporte estão
sendo feitos hoje a partir de
parcerias com o setor privado.
O mesmo ocorre na Irlanda e
em países do Leste Europeu.
Uma das grandes exceções é
o Brasil. Com problemas crescentes em sua infra-estrutura
de transporte e extremamente
dependente do modal rodoviário, o país ainda não realizou
PPPs em nível federal.
Após cinco anos de governo
Lula, devem começar só agora,
em outubro, as operações de
concessões de sete rodovias federais. O edital de licitação, que
deveria ter saído em 16 de julho, só foi publicado em 17 de
agosto. Já o prazo para a entrega das propostas foi encurtado
de 16 para 9 de outubro.
"Há muita reclamação entre
os interessados, já que perderam quase 40 dias para se preparar para o leilão. O processo
se arrasta desde 1998 e, na última hora, ainda sofreu atrasos",
diz Saturnino Sérgio da Silva,
vice-presidente e diretor do departamento de Infra-estrutura
da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).
Segundo o Centro de Estudos em Logística, ligado à
UFRJ, o custo com transporte e
logística no Brasil equivale a
13% do PIB, contra 8% nos
EUA. No Brasil, cerca de 60%
da carga é transportada em caminhões, ante 26% nos EUA.
Paulo Sérgio Passos, secretário-executivo do Ministério dos
Transportes, afirma que o atraso no cronograma não deve
atrapalhar o processo de concessões. Ele diz também que a
sua área deverá aplicar cerca de
R$ 7,4 bilhões em investimentos neste ano.
Segundo a Folha apurou, o
governo federal chegou a contratar o IFC (braço financeiro
do Banco Mundial) para realizar a modelagem de PPPs para
obras em rodovias, entre elas
na BR-116, a principal do país.
Realizados os estudos de viabilidade do projeto, que chegaram a ser elogiados pelo TCU
(Tribunal de Contas da União),
o governo voltou atrás.
Passos, do Ministério dos
Transportes, afirma que o governo mudou de idéia ao chegar à conclusão de que um processo de concessão seria mais viável para as BR-116 e BR-324
-que não estão incluídas no
leilão de 9 de outubro.
Para José de Freitas Mascarenhas, presidente do Conselho de Infra-estrutura da CNI
(Confederação Nacional da Indústria), "o governo não consegue deslanchar um programa
[de PPPs] mínimo que seja".
"Receio que não tiveram
competência ou empenho para
superar as questões burocráticas e legais envolvidas. Também optaram por não chamar,
via mecanismos legais, uma
consultoria privada que ajudasse a superar os problemas,
como o México fez", afirma.
Paulo Fernando Fleury, diretor do Centro de Estudos em
Logística, acredita que há falta
de empenho e de organização
do governo para adotar as PPPs
que vêm melhorando a infra-estrutura em vários países.
Para Elias de Souza, gerente
sênior da consultoria Deloitte,
que realizou amplo trabalho
sobre a infra-estrutura mundial, "é natural" que o processo
de implementação de PPPs seja demorado. "A lei das PPPs é
de dezembro de 2004, e o processo, que prevê concessões de
15 ou 20 anos, precisa ser muito bem estruturado", diz.
Segundo o trabalho da Deloitte, o Brasil ainda está no
primeiro estágio das PPPs,
considerado "primário". Reino
Unido, Austrália e Irlanda estão em estágio "avançado" e
países como EUA, Espanha e
Alemanha no "intermediário".
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