São Paulo, quarta-feira, 10 de setembro de 2008

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Dólar vai a R$ 1,77 e zera perdas no ano

Moeda sobe mais 2,13% e atinge maior cotação desde 30 de janeiro; empresas elevam procura por proteção cambial

Analista duvida que moeda tenha força para se manter na casa de R$ 1,80 e vê pressão de bancos para ganharem com saída de estrangeiros

TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

A expectativa de uma saída lenta de dinheiro de investidores estrangeiros da Bolsa, especialmente de ações ligadas ao setor de commodities, como Vale e Petrobras, levou ontem o dólar a subir mais 2,13% e a bater em R$ 1,772, a maior cotação desde 30 de janeiro.
Com a alta de ontem, o dólar praticamente zerou as perdas no ano (ainda há queda de 0,28%). Analistas acreditam que a moeda possa chegar a R$ 1,80 nos próximos dias.
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse ontem que a desvalorização do dólar chegou ao seu limite e a tendência agora é de alta da moeda. Para Mantega, a queda na Bolsa é fruto do repatriamento de capital, seja para cobrir perdas em outros países ou porque mudaram as perspectivas para os preços das commodities "Chegamos ao limite da valorização do real", disse (leia à pág. B4).
No mercado, há dúvidas se essa saída de dólares ficará restrita à Bolsa ou afetará o restante da economia. Os bancos notaram um aumento da demanda por operações de hedge [proteção] cambial das empresas com dívida em dólar. A volta do risco cambial -o dólar subiu 13,6% desde 1º de agosto- inviabilizou as captações externas, tornando o financiamento em reais mais atraente.
Altair Assumpção, diretor de Empresas Médias do Banco Real, afirma que houve um aumento da procura por proteção contra o aumento do dólar, mas que os empresários continuam tranqüilos na hora de tomar dinheiro emprestado em reais em meio à volatilidade.
"Do ponto de vista da empresa média, o sentimento é de tranqüilidade. Elas não são afetadas diretamente. Os desembolsos [de crédito] não são agressivos, mas têm se mantido altos. Talvez [o crédito] encareça mais com o Copom, mas o reflexo não será sentido imediatamente. Já o exportador antecipa um pouco -não tudo- o que tem a receber. Ele espera uma valorização."
Sidnei Nehme, diretor da corretora de câmbio NGO, é um dos que duvidam que o dólar tenha força para se manter na casa de R$ 1,80 por muito tempo. Nehme vê pressão dos grandes bancos para manterem o câmbio elevado e ganhar mais no caso de saída de investidores estrangeiros. "A tesouraria está dando uma beliscada no estrangeiro que pretende sair nos próximos dias. Vemos movimentos muito rápidos pela manhã. A gente nota que tem alguma mão puxando a taxa. Mas eles não acreditam que essa taxa se sustente tão alta."
Para Nehme, a maior prova de que os agentes do mercado não acreditam na alta do dólar é que o BC comprou a moeda todos os dias. "O BC sanciona que o mercado não está sob uma pressão. Se visse pressões demasiadas no mercado, não estaria participando", disse.
A tendência de valorização do dólar ganhou força nesta semana após a intervenção do governo americano no mercado de hipotecas. Há uma percepção de que o governo americano fará de tudo para impedir que a crise de crédito contamine o restante da economia.


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