São Paulo, quarta-feira, 10 de setembro de 2008

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Brasil é exceção na crise, diz Armínio

Para ex-presidente do BC, efeitos da atual turbulência são muito menores que os momentos de tensão do passado

Para economista, se o gasto não estivesse tão alto, seria melhor; por isso, ele sugere prudência na condução da política econômica

GUILHERME BARROS
COLUNISTA DA FOLHA

O ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga não se mostra muito preocupado com o pessimismo que se abateu nos últimos dias sobre o mercado financeiro, especialmente no Brasil. Ele considera até o Brasil exceção diante desse quadro de tensão econômica global.
"O que ocorre no Brasil não é nada anormal diante do quadro global que estamos vivendo, afirmou.
Apesar de considerar o Brasil uma exceção, Armínio diz que o país vai sentir os efeitos da crise, embora agora sejam, segundo ele, muito menores do que os momentos de tensão vividos no passado. Ele estava à frente do BC na crise cambial de 1999.
Armínio recomenda muita prudência ao governo na condução da política econômica.
"Seria melhor se os gastos não estivessem crescendo tanto."

FOLHA - Qual a sua avaliação da decisão do governo americano de intervir nas duas empresas de hipotecas imobiliárias?
ARMÍNIO FRAGA
- Algum socorro já era esperado. Havia alguma dúvida de quando ocorreria e a extensão do socorro, mas, nas atuais circunstâncias, era inevitável. O próprio secretário do Tesouro americano, Henry Paulson, disse que havia uma ambigüidade com relação à responsabilidade do governo com as duas empresas (Fannie Mae e Freddie Mac), que eram privadas, mas tinham uma garantia implícita governamental.
Devido ao tamanho das duas empresas, o governo americano resolveu tomar essas medidas, que me parecem adequadas, dado que se chegou a esse ponto. Melhor teria sido se, lá atrás, tivessem tomado outras medidas preventivas.

FOLHA - Por que essa reação negativa ontem do mercado, depois da euforia de segunda-feira?
ARMÍNIO
- As tensões econômicas, tanto nos Estados Unidos como fora, especialmente na Europa, no Japão e um pouco na China, continuam, e, por isso, não houve, do ponto de vista do mercado, uma reação positiva duradoura à decisão do governo de socorrer as duas empresas. O grande problema é que persiste a ameaça de recessão no mundo.

FOLHA - O objetivo da intervenção não era o de reverter o mau humor do mercado?
ARMÍNIO
- Nesse momento, o objetivo não era resolver todos os problemas. Existem outros problemas que vão ter de ser resolvidos ao longo do tempo, como a desaceleração econômica e a saúde geral do sistema financeiro dos Estados Unidos e de outros países. O Brasil é uma exceção nesse processo de grande desalavancagem que vem acontecendo já há vários meses.

FOLHA - Mas o Brasil também está sentindo os reflexos da crise...
ARMÍNIO
- O mecanismo de contaminação aqui veio pelo lado das commodities. Em parte porque o Brasil é um dos favoritos na carteira dos investidores globais neste momento em que outros fundos pelo mundo afora estão tendo de administrar resgates. O país que ocupa uma fatia maior nas carteiras desses fundos, num momento como este, como é o caso do Brasil, sempre sente um pouco. Diria que não é nada de anormal diante do quadro global que estamos vivendo.

FOLHA - O sr. arrisca fazer alguma previsão?
ARMÍNIO
- Ninguém sabe o que vai acontecer. O que temos visto até agora é que a crise financeira tem tido um efeito bastante limitado no Brasil. Mas o Brasil não está isolado do mundo... Ainda assim, o que estamos vivendo hoje está muito distante das crises que vivemos no passado.

FOLHA - Como o governo deve reagir à crise?
ARMÍNIO
- Administrar, manter a prudência na condução da política econômica e ponto.

FOLHA - E isso está acontecendo?
ARMÍNIO
- O saldo da política fiscal seria melhor se o gasto não estivesse crescendo tanto, mas, de qualquer forma, o superávit primário tem sido preservado.

FOLHA - O IBGE divulga hoje o resultado do PIB do segundo trimestre e as previsões são positivas. O sr. acha que a crise vai afetar o crescimento?
ARMÍNIO
- Os números são bons, mas alguma desaceleração vai acontecer. Não se espera nada de dramático, mas vai haver alguma desaceleração.


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