São Paulo, terça-feira, 10 de outubro de 2006

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Economista dos EUA fica com o Nobel

Edmund Phelps, da Universidade Columbia, é o 38º norte-americano a ganhar prêmio do banco central sueco desde 1969

Professor demonstrou que a inflação não depende só do emprego mas também das expectativas sobre o comportamento dos preços


MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL

O economista Edmund Phelps, 73, ganhou ontem o Nobel de Economia. Professor da Universidade Columbia, nos EUA, ele levou o prêmio de US$ 1,37 milhão concedido pelo banco central sueco. As pesquisas de Phelps, iniciadas no final dos anos 60, ajudaram os economistas a entenderem melhor as relações entre inflação, crescimento e emprego.
Phelps é o 38º norte-americano a receber o Nobel de Economia, que já premiou 58 pesquisadores. Neste ano, já foram anunciados os ganhadores dos Prêmios Nobel de Medicina, Física e Química, todos dos EUA. Os nomes do ganhadores do Nobel de Literatura e da Paz saem nesta semana.
Até que as pesquisas de Phelps viessem à tona, a maior parte dos economistas assumia que existia uma relação estável entre inflação e desemprego: quando o desemprego cai, a inflação sobe, quando o desemprego sobe, a inflação cai.
A relação era explicada pelas pressões no mercado de trabalho, que se tornavam mais fortes em períodos de baixo desemprego, quando os trabalhadores podiam pedir salários mais altos. As altas dos salários acabavam alimentando a inflação. Essa relação entre desemprego e inflação era chamada de "curva de Phillips".
Se realmente existia essa relação, então para políticos e economistas também era verdade que era possível escolher qual o nível de emprego e de inflação que se desejava. O preço de aumentar o emprego, baixando os juros, por exemplo, seria apenas uma alta da inflação no período seguinte.
O trabalho de Phelps mostrou que as coisas não eram bem assim e, sugerindo que não era possível fazer esse tipo de escolha, mudou completamente a maneira como técnicos e economistas passaram a gerenciar a política macroeconômica dos países. Ele mostrou que a inflação não dependia apenas do nível de atividade da economia mas também das expectativas de empresas e trabalhadores sobre a inflação futura.
Não é difícil entender o raciocínio. Quando vão para a mesa de negociações, empregadores e empregados tentam estimar qual será a inflação no período que os separa da próxima negociação. A expectativa deles a respeito da inflação futura influencia na negociação e, assim, na inflação atual.
Phelps argumentou que a avaliação de empresas e trabalhadores de que a inflação futura seria alta acabaria se auto-realizando, já que os empregados pressionariam por salários maiores. Por outro lado, se a inflação hoje é alta, é provável que a expectativa de inflação futura também seja, o que tornaria ainda mais difícil combatê-la no futuro -é por isso, por exemplo, que hoje o Banco Central brasileiro vai toda sexta-feira ao mercado medir as expectativas de analistas sobre uma série de indicadores.

Curva
O trabalho dos economistas é mais complicado do que a curva de Phillips sugeria. Não era simplesmente possível optar por um nível de inflação compatível com a taxa de desemprego que eles querem. A decisão tomada hoje influencia a decisão que ele terá que tomar no futuro -as expectativas de inflação podem acelerar a alta de preços, dificultando uma política de estabilização depois.
Os economistas costumam enfatizar que as decisões de política econômica tomadas por uma geração influenciam o bem-estar da próxima. O exemplo clássico sempre foi o do investimento: se a geração atual poupa bastante, guardando recursos para investir, a próxima poderá contar com os ganhos de produtividade gerados por esse investimento. Phelps mostrou que isso também era verdade quando é preciso decidir quais os níveis de inflação que uma economia vai perseguir.


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