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Economista dos EUA fica com o Nobel
Edmund Phelps, da Universidade Columbia, é o 38º norte-americano a ganhar prêmio do banco central sueco desde 1969
Professor demonstrou que a inflação não depende só do emprego mas também
das expectativas sobre o comportamento dos preços
MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL
O economista Edmund
Phelps, 73, ganhou ontem o
Nobel de Economia. Professor
da Universidade Columbia, nos
EUA, ele levou o prêmio de US$
1,37 milhão concedido pelo
banco central sueco. As pesquisas de Phelps, iniciadas no final
dos anos 60, ajudaram os economistas a entenderem melhor
as relações entre inflação, crescimento e emprego.
Phelps é o 38º norte-americano a receber o Nobel de Economia, que já premiou 58 pesquisadores. Neste ano, já foram
anunciados os ganhadores dos
Prêmios Nobel de Medicina,
Física e Química, todos dos
EUA. Os nomes do ganhadores
do Nobel de Literatura e da Paz
saem nesta semana.
Até que as pesquisas de
Phelps viessem à tona, a maior
parte dos economistas assumia
que existia uma relação estável
entre inflação e desemprego:
quando o desemprego cai, a inflação sobe, quando o desemprego sobe, a inflação cai.
A relação era explicada pelas
pressões no mercado de trabalho, que se tornavam mais fortes em períodos de baixo desemprego, quando os trabalhadores podiam pedir salários
mais altos. As altas dos salários
acabavam alimentando a inflação. Essa relação entre desemprego e inflação era chamada
de "curva de Phillips".
Se realmente existia essa relação, então para políticos e
economistas também era verdade que era possível escolher
qual o nível de emprego e de inflação que se desejava. O preço
de aumentar o emprego, baixando os juros, por exemplo,
seria apenas uma alta da inflação no período seguinte.
O trabalho de Phelps mostrou que as coisas não eram
bem assim e, sugerindo que não
era possível fazer esse tipo de
escolha, mudou completamente a maneira como técnicos e
economistas passaram a gerenciar a política macroeconômica
dos países. Ele mostrou que a
inflação não dependia apenas
do nível de atividade da economia mas também das expectativas de empresas e trabalhadores sobre a inflação futura.
Não é difícil entender o raciocínio. Quando vão para a
mesa de negociações, empregadores e empregados tentam estimar qual será a inflação no
período que os separa da próxima negociação. A expectativa
deles a respeito da inflação futura influencia na negociação e,
assim, na inflação atual.
Phelps argumentou que a
avaliação de empresas e trabalhadores de que a inflação futura seria alta acabaria se auto-realizando, já que os empregados pressionariam por salários
maiores. Por outro lado, se a inflação hoje é alta, é provável
que a expectativa de inflação
futura também seja, o que tornaria ainda mais difícil combatê-la no futuro -é por isso, por
exemplo, que hoje o Banco
Central brasileiro vai toda sexta-feira ao mercado medir as
expectativas de analistas sobre
uma série de indicadores.
Curva
O trabalho dos economistas é
mais complicado do que a curva
de Phillips sugeria. Não era
simplesmente possível optar
por um nível de inflação compatível com a taxa de desemprego que eles querem. A decisão tomada hoje influencia a
decisão que ele terá que tomar
no futuro -as expectativas de
inflação podem acelerar a alta
de preços, dificultando uma política de estabilização depois.
Os economistas costumam
enfatizar que as decisões de política econômica tomadas por
uma geração influenciam o
bem-estar da próxima. O exemplo clássico sempre foi o do investimento: se a geração atual
poupa bastante, guardando recursos para investir, a próxima
poderá contar com os ganhos
de produtividade gerados por
esse investimento. Phelps mostrou que isso também era verdade quando é preciso decidir
quais os níveis de inflação que
uma economia vai perseguir.
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