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Prejuízo de empresas preocupa Planalto
Segundo Mercadante, BC vem monitorando companhias que fizeram operações de alto risco com derivativos e tiveram perdas no câmbio
Agência de classificação de risco tira grau de investimento da Aracruz, que perdeu R$ 1,95 bilhão com operações financeiras
SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
GUILHERME BARROS
COLUNISTA DA FOLHA
Aumentou a preocupação
dentro do governo com a dimensão dos estragos das operações de alto risco feitas por empresas que apostaram no dólar
desvalorizado até o final do
ano. A equipe econômica ainda
não sabe bem o tamanho das
perdas, mas avalia que podem
ter um potencial significativo
de estrago.
O senador Aloizio Mercadante (PT-SP) afirmou à Folha que
o Banco Central está levantando quais foram as empresas
que fizeram as operações de alto risco no mercado de derivativos de dólar para saber a dimensão dos prejuízos. O número que circula no mercado é
de R$ 40 bilhões.
De acordo com o que a Folha
apurou, a lista das empresas e
dos bancos que participaram
dessas operações já teria sido
concluída. O Banco Central
não confirma a informação.
Mercadante diz, no entanto,
que o BC estava monitorando
essas operações e pode ter concluído o levantamento. Mercadante está em Portugal, numa
viagem com empresários brasileiros. Antes, porém, conversou com o ministro da Fazenda, Guido Mantega.
Na próxima semana, Mantega e o presidente do Banco
Central, Henrique Meirelles,
vão ao Congresso falar sobre a
crise econômica e podem dar
mais detalhes sobre essas operações de alto risco no mercado
de derivativos de dólar.
Por enquanto, apenas a Sadia
e a Aracruz anunciaram perdas
com essas operações. A primeira teria tido um prejuízo de R$
750 milhões, e a segunda, de R$
1,95 bilhão.
Ontem, a agência de classificação de risco Fitch Ratings rebaixou a nota da Aracruz. O
"rating" da empresa de celulose foi revisado de "BBB-" para
"BB+". Na prática, significa que
a empresa perde seu "status"
de "grau de investimento", do
ponto de vista dessa agência.
O prejuízo com operações no
mercado futuro de dólar e derivativos não se restringe a Sadia
e Aracruz. O governo também
está mapeando várias empresas pequenas que tomaram
crédito para financiar a produção e ter capital de giro, atrelado à variação cambial.
O tamanho do prejuízo com
a oscilação do dólar para as empresas vai depender, no entanto, da atuação do BC no mercado de câmbio. Se for bem-sucedido na queda-de-braço que
trava com o mercado, o BC evitará que a cotação dispare ainda mais, minimizando o prejuízo das empresas.
Isso porque nem todas operações vencem agora. Se, na data do vencimento, a cotação tiver recuado, a perda para as
empresas será menor.
Além disso, é preciso considerar o tamanho da dívida da
empresa no balanço. O medo
do governo, de qualquer forma,
é que o prejuízo fique com os
bancos. De acordo com o senador Aloizio Mercadante, foram
poucos os bancos que fizeram
essas operações, e, mesmo assim, de pequeno porte.
Nos últimos dias, circulou no
governo uma preocupação a
mais. Se a fiscalização do BC teria ou não tomado conhecimento dessas operações de alto
risco das empresas no mercado
de derivativos de câmbio.
Ao ser questionado sobre isso, o Banco Central enviou a
seguinte resposta à Folha:
"A legislação bancária não dá
ao Banco Central a atribuição
ou poder para fiscalizar o risco
tomado por empresas no mercado de derivativos ou em outros mercados. Cabe ao Banco
Central garantir a higidez do
Sistema Financeiro Nacional e
fiscalizar o risco assumido por
instituições financeiras. Do
ponto de vista prudencial, a
princípio, quando uma instituição financeira faz uma operação em derivativo e, ao mesmo tempo, faz "hedge" para essa
operação, não está incorrendo
em aumento de risco. Nesse
sentido, nosso arcabouço normativo e de fiscalização em nada difere dos padrões internacionais".
Desta vez, o problema parece
mesmo ter estourado no colo
das empresas. Segundo a Folha apurou, há empresas que já
ameaçam, inclusive, não pagar
esses contratos e ir para a Justiça discutir a dívida. O medo do
governo é que, se a moda pegar,
isso poderá ser um passivo de
tamanho desconhecido para os
bancos e retrair ainda mais o
mercado de crédito.
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