São Paulo, sexta-feira, 10 de outubro de 2008

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Prejuízo de empresas preocupa Planalto

Segundo Mercadante, BC vem monitorando companhias que fizeram operações de alto risco com derivativos e tiveram perdas no câmbio

Agência de classificação de risco tira grau de investimento da Aracruz, que perdeu R$ 1,95 bilhão com operações financeiras

SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

GUILHERME BARROS
COLUNISTA DA FOLHA

Aumentou a preocupação dentro do governo com a dimensão dos estragos das operações de alto risco feitas por empresas que apostaram no dólar desvalorizado até o final do ano. A equipe econômica ainda não sabe bem o tamanho das perdas, mas avalia que podem ter um potencial significativo de estrago.
O senador Aloizio Mercadante (PT-SP) afirmou à Folha que o Banco Central está levantando quais foram as empresas que fizeram as operações de alto risco no mercado de derivativos de dólar para saber a dimensão dos prejuízos. O número que circula no mercado é de R$ 40 bilhões.
De acordo com o que a Folha apurou, a lista das empresas e dos bancos que participaram dessas operações já teria sido concluída. O Banco Central não confirma a informação.
Mercadante diz, no entanto, que o BC estava monitorando essas operações e pode ter concluído o levantamento. Mercadante está em Portugal, numa viagem com empresários brasileiros. Antes, porém, conversou com o ministro da Fazenda, Guido Mantega.
Na próxima semana, Mantega e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, vão ao Congresso falar sobre a crise econômica e podem dar mais detalhes sobre essas operações de alto risco no mercado de derivativos de dólar.
Por enquanto, apenas a Sadia e a Aracruz anunciaram perdas com essas operações. A primeira teria tido um prejuízo de R$ 750 milhões, e a segunda, de R$ 1,95 bilhão.
Ontem, a agência de classificação de risco Fitch Ratings rebaixou a nota da Aracruz. O "rating" da empresa de celulose foi revisado de "BBB-" para "BB+". Na prática, significa que a empresa perde seu "status" de "grau de investimento", do ponto de vista dessa agência.
O prejuízo com operações no mercado futuro de dólar e derivativos não se restringe a Sadia e Aracruz. O governo também está mapeando várias empresas pequenas que tomaram crédito para financiar a produção e ter capital de giro, atrelado à variação cambial.
O tamanho do prejuízo com a oscilação do dólar para as empresas vai depender, no entanto, da atuação do BC no mercado de câmbio. Se for bem-sucedido na queda-de-braço que trava com o mercado, o BC evitará que a cotação dispare ainda mais, minimizando o prejuízo das empresas.
Isso porque nem todas operações vencem agora. Se, na data do vencimento, a cotação tiver recuado, a perda para as empresas será menor.
Além disso, é preciso considerar o tamanho da dívida da empresa no balanço. O medo do governo, de qualquer forma, é que o prejuízo fique com os bancos. De acordo com o senador Aloizio Mercadante, foram poucos os bancos que fizeram essas operações, e, mesmo assim, de pequeno porte.
Nos últimos dias, circulou no governo uma preocupação a mais. Se a fiscalização do BC teria ou não tomado conhecimento dessas operações de alto risco das empresas no mercado de derivativos de câmbio.
Ao ser questionado sobre isso, o Banco Central enviou a seguinte resposta à Folha:
"A legislação bancária não dá ao Banco Central a atribuição ou poder para fiscalizar o risco tomado por empresas no mercado de derivativos ou em outros mercados. Cabe ao Banco Central garantir a higidez do Sistema Financeiro Nacional e fiscalizar o risco assumido por instituições financeiras. Do ponto de vista prudencial, a princípio, quando uma instituição financeira faz uma operação em derivativo e, ao mesmo tempo, faz "hedge" para essa operação, não está incorrendo em aumento de risco. Nesse sentido, nosso arcabouço normativo e de fiscalização em nada difere dos padrões internacionais".
Desta vez, o problema parece mesmo ter estourado no colo das empresas. Segundo a Folha apurou, há empresas que já ameaçam, inclusive, não pagar esses contratos e ir para a Justiça discutir a dívida. O medo do governo é que, se a moda pegar, isso poderá ser um passivo de tamanho desconhecido para os bancos e retrair ainda mais o mercado de crédito.


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