São Paulo, domingo, 10 de novembro de 2002

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TRANSIÇÃO

Para analistas, Fundo não deve fazer novas exigências pelo menos agora

PT e FMI terão encontro de 'reconhecimento de terreno'

ÉRICA FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL

O encontro entre integrantes do FMI (Fundo Monetário Internacional) e membros do novo governo será como "um reconhecimento de terreno". A definição de Daniel Gleizer, que até fevereiro passado era diretor de assuntos internacionais do Banco Central, resume bem o que pensam economistas do mercado e do próprio PT.
A expectativa é que o Fundo não mude nem aumente as exigências de desempenho da economia na revisão do acordo que o Brasil tem com a instituição, que ocorrerá durante as próximas duas semanas. A missão do FMI chega ao país amanhã.
"É uma visita que tem um lado de reconhecimento de terreno. Acho que, para o Fundo, muito mais importante do que mudar o superávit primário agora é tentar extrair da equipe de transição uma informação que vai balizar todas as projeções do futuro: quais são as reais intenções de política econômica do próximo governo", afirma Gleizer, que, desde agosto passado, é diretor da área de mercado de capitais do Dresdner Bank.
Se, de fato, não houver mudanças, o superávit primário (esforço fiscal) que o próximo governo terá de cumprir em 2003 continuará sendo de 3,75% do PIB (Produto Interno Bruto).

Argumentos
São dois os principais argumentos que sustentam essa tese. O primeiro é que, apesar de os principais indicadores macroeconômicos terem se deteriorado desde agosto, quando foi fechado o último acordo, o cenário parece estar se acalmando agora.
"O mercado financeiro viveu uma fase muito tumultuada antes das eleições, quando os preços dos ativos se distorceram. Agora as coisas estão melhorando", afirma o deputado federal Ricardo Berzoini, um dos principais porta-vozes econômicos do PT.
Por isso, ele não aposta em uma revisão de metas agora.
Para Sérgio Werlang, diretor do Banco Itaú, não há motivo aparente para que a meta de superávit mude agora. "A taxa de câmbio está recuando e o Banco Central fez um ajuste na taxa de juros suficiente para conter as pressões inflacionárias", disse.

Transição
Outra razão para postergar qualquer alteração nos termos do acordo é o fato de o país estar em plena transição de governos.
A equipe de governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) está se despedindo. E a do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ainda não está formada. Em outras palavras, há dúvidas quanto à legitimidade que alterações de contrato teriam a essa altura.
Além disso, dentro do PT, comenta-se que ainda não existe nem um esboço de qual será a equipe econômica do próximo governo, que poderia discutir tecnicamente qualquer mudança.
Segundo um importante assessor econômico do PT, seria prematuro mudar as metas antes que o próximo governo assuma.
Essa deverá ser a posição defendida pela cúpula do partido que se sentará para conversar com a equipe do Fundo.
Segundo informação já publicada pela Folha, a equipe do FMI preferiria elevar o superávit fiscal agora. Para o Fundo, isso seria um sinal de austeridade que o próximo governo estaria dando ao mercado. Mas tudo indica que a equipe de negociação não vai se opor em adiar essa discussão para fevereiro de 2003, quando acontece nova revisão do acordo.

Reformas
Segundo a Folha apurou, o foco principal das conversas do FMI com a equipe de transição do PT recairá sobre o programa do próximo governo para as reformas tributária e previdenciária.
Gleizer, que acumulou experiência na negociação de acordos internacionais nos três que esteve no BC, diz que é importante que essas reformas sejam discutidas:
"Essa discussão é fundamental. A partir dela, o Fundo terá condições de avaliar melhor a capacidade de estabilização da relação entre a dívida do governo e o PIB (hoje em 63%)", diz.


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