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VISITA
País quer contrapartida a pedido chinês de ter economia reconhecida como de mercado
Brasil exige acesso a carne, soja e fruta
ANDRÉ SOLIANI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Brasil exigirá da China um
maior acesso ao seus mercados de
carnes, de soja e de frutas, como
contrapartida ao pedido chinês de
ter sua economia reconhecida como de mercado. Na avaliação do
governo brasileiro, os chineses
adotam regras fitossanitárias
pouco transparentes, que dificultam as exportações agrícolas brasileiras. O assunto será tratado
durante a visita do presidente chinês ao Brasil, Hu Jintao, que desembarca amanhã em Brasília.
Mas o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva não pretende se fiar
só na barganha para conseguir
aumentar as exportações para a
China. Ele quer convencer Hu pelo paladar de que não há razões
para impedir a compra de carne
do Brasil. Lula organiza no sábado, na Granja do Torto, sua atual
residência, um almoço nada protocolar para impressionar Hu
-um churrasco com caipirinha.
"Será a prova dos nove de que a
carne brasileira é de primeira
qualidade", disse o ministro do
Desenvolvimento, Luiz Fernando
Furlan, ao comentar as estratégias
culinárias que o Brasil adotará.
Ganhar mercado agradando ao
paladar de estrangeiros já foi usado uma vez neste ano. O primeiro-ministro da Japão, Junichiro
Koizumi, em passagem pelo Brasil, anunciou que seu governo autorizaria a importação de mangas
brasileiras. No mesmo dia, um
pouco mais tarde, comeu no Itamaraty pratos à base de manga.
Economia de mercado
Um dos primeiros assuntos que
o ministro da Quarentena da China, Li Chiangjiang, mencionou
em reunião ontem com o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, em Brasília, foi o pedido
da China para ser reconhecida como economia de mercado.
"Eu disse que a decisão política
seria tomada pelo presidente Lula
no menor prazo de tempo possível, conforme o desejo da China",
afirmou Rodrigues. Segundo o
ministro, a decisão sobre o assunto é política, e não técnica, portanto não cabe à sua pasta.
"Qualquer que seja a decisão, há
uma premissa positiva, pois não
há preconceito político em relação à China", disse Rodrigues, ao
comentar suas respostas às manifestações de seu colega chinês. O
ministro afirma que não sinalizou
se a reposta brasileira será negativa ou positiva.
O principal trunfo brasileiro para conseguir conquistar mercados agrícolas na China, o país
mais populoso do mundo, é exatamente o desejo chinês de ser reconhecido como economia de
mercado, e não como uma economia de transição.
A classificação do país, que depende apenas de um entendimento bilateral, tem reflexos no tratamento que se recebe na OMC (Organização Mundial do Comércio). Economias em transição, caso da China e da Rússia, por
exemplo, são mais vulneráveis a
processos de antidumping, uma
barreira comercial permitida pela
OMC para punir práticas desleais
de comércio. Na sua relação com
economias de mercado, os sócios
da OMC precisam adotar métodos mais transparentes de investigação para impor a barreira.
Negociações difíceis
Transparência é também o que
Lula quer da China nas relações
comerciais agrícolas. "As negociações não são fáceis. A última
reunião técnica, no sábado, terminou às 6h", afirmou Rodrigues. A
China já tomou medidas arbitrárias que prejudicaram as vendas
brasileiras.
O maior importador de soja do
Brasil restringiu a entrada do grão
brasileiro no final do primeiro semestre, a partir de exigências consideradas injustificadas pelo Brasil. Na época, 23 tradings brasileiras foram impedidas de vender
soja para o mercado chinês.
O problema foi superado com
base num documento assinado
pelos dois países, que, na avaliação do governo, não evitará problemas no futuro. O Ministério da
Agricultura quer um acordo no
qual fique claro que a China não
colocará barreiras técnicas sempre que achar conveniente.
Novas regras de qualidade para
a importação de óleo de soja também podem criar dificuldades para os produtores brasileiros. Segundo Rodrigues, já ficou acertado que a nova legislação não será
imposta ao óleo brasileiro, enquanto um grupo de trabalho binacional discute o tema.
No caso da carne, o Brasil,
maior exportador mundial do
produto, ainda não conseguiu
vendas substanciais para o mercado chinês (cerca de US$ 30 milhões neste ano). Segundo Furlan,
há dois anos foi assinado um protocolo fitossanitário com a China
para a venda de carnes, mas até
hoje não houve abertura efetiva
do mercado. Rodrigues afirma
que o mercado chinês pode render ao Brasil US$ 600 milhões por
ano com a venda de carnes.
O ministro afirma que houve
avanços consideráveis nas negociações sobre a venda de carne de
boi. O mesmo não se pode falar
sobre a venda de carne suína.
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