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PÉ NO FREIO
Produção industrial cai 2% em setembro e 0,7% no trimestre; analistas já reduzem previsão para o PIB do período
Câmbio e juro fazem indústria recuar no 3º tri
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
Afetada por estoques elevados,
juros altos, câmbio desfavorável
às exportações e crédito em arrefecimento, a produção da indústria fechou o terceiro trimestre do
ano com queda de 0,7% na comparação livre de influência sazonais (típicas de cada período), segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
O resultado, o pior desde o segundo trimestre de 2003 (-0,9%),
fez especialistas revisarem para
baixo suas projeções para o PIB,
que deve ter variado de zero a
0,5% do segundo para o terceiro
trimestre deste ano. A alta do PIB
havia sido de 1,4% no segundo trimestre.
O desaquecimento da economia fez com que as taxas futuras
de juros recuassem ontem na
BM&F (Bolsa de Mercadorias &
Futuros). Os investidores entenderam que o movimento abriu espaço para que a taxa básica de juros caia mais rapidamente.
Setembro
Depois de reagir em agosto (alta
de 0,9%), a produção da indústria
voltou a cair em setembro -2%
em relação ao mês anterior. Na
comparação com setembro de
2004, houve expansão de 0,2%,
número que releva a desaceleração da indústria. Foi a 25ª alta
consecutiva em relação ao mês
anterior, mas a menor taxa desde
setembro de 2003.
Com exceção de bens de capital
(máquinas e equipamentos), todas as categorias de uso tiveram
queda na comparação entre agosto e setembro.
O destaque negativo ficou com
bens duráveis (automóveis, eletrodomésticos e móveis), cuja
produção caiu 8,9% ante agosto,
na terceira queda mensal consecutiva. No trimestre, o recuo foi
de 4,4%. Com altos estoques e
prejudicado pela concorrência de
produtos importados, o ramo de
eletrodomésticos foi o que mais
contribuiu para a retração dos
bens duráveis -celulares e veículos, por sua vez, tiveram desempenhos melhores.
Sob influência da menor fabricação de calçados e artigos de vestuário, os bens não-duráveis (alimentos, bebidas, calçados, vestuário e outros) registraram retração de 3,4% de agosto para setembro. No terceiro trimestre, o decréscimo ficou em 0,6%.
Para Isabella Nunes, gerente da
Pesquisa Industrial Mensal do IBGE, estoques excessivos, câmbio
desfavorável às exportações e benéfico às importações (o que reduz a competitividade de produtos nacionais), menor confiança e
maior nível de endividamento do
consumidor e perda de fôlego do
crédito explicam a retração da indústria em setembro.
Segundo Nunes, houve um descompasso entre produção e vendas, que levou à formação de estoques. "Com vendas da indústria
em queda há três meses e a produção estável nesse período, o setor
industrial acumulou estoques e
teve de ajustá-los em setembro."
De acordo com a CNI (Confederação Nacional da Indústria), a indústria vendeu menos em julho
(-0,60%), agosto (-1,02%) e setembro (0,47%).
Capacidade instalada
Estêvão Kopschitz, do Ipea, cita
mais dois fatores: o esgotamento
da capacidade instalada da indústria -que cresceu de meados de
2004 a meados de 2005 no rastro
de ociosidade das linhas de montagem provocada pelo fraco desempenho de 2003- e o efeito
defasado dos juros elevados. "A
indústria chegou a um ponto que
mais crescimento depende de
mais investimento", afirmou.
Se ficar estagnada até o final do
ano, o setor industrial crescerá
3,3% na comparação com 2004,
considerando o atual patamar de
produção.
Na avaliação de Jason Vieira,
economista da GRC Visão, a política monetária restritiva, sem corte de juros de setembro de 2004 a
setembro de 2005, teve duplo efeito na indústria: fez com que os investimentos no aumento da produção fossem adiados e diminuiu
a demanda pelos produtos, o que
levou o setor a acumular estoques.
A única boa notícia em setembro foi o aumento na produção de
bens de capital -1,1% no mês e
0,5% no terceiro trimestre. Segundo Nunes, do IBGE, a alta indica que prosseguem os investimentos em máquinas e equipamentos que permitirão ampliar a
capacidade de produção e a infra-estrutura. Tal movimento, diz
Nunes, eleva, conseqüentemente,
o potencial de crescimento do
país.
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