São Paulo, quinta-feira, 10 de novembro de 2005

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PÉ NO FREIO

Produção industrial cai 2% em setembro e 0,7% no trimestre; analistas já reduzem previsão para o PIB do período

Câmbio e juro fazem indústria recuar no 3º tri

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

Afetada por estoques elevados, juros altos, câmbio desfavorável às exportações e crédito em arrefecimento, a produção da indústria fechou o terceiro trimestre do ano com queda de 0,7% na comparação livre de influência sazonais (típicas de cada período), segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
O resultado, o pior desde o segundo trimestre de 2003 (-0,9%), fez especialistas revisarem para baixo suas projeções para o PIB, que deve ter variado de zero a 0,5% do segundo para o terceiro trimestre deste ano. A alta do PIB havia sido de 1,4% no segundo trimestre.
O desaquecimento da economia fez com que as taxas futuras de juros recuassem ontem na BM&F (Bolsa de Mercadorias & Futuros). Os investidores entenderam que o movimento abriu espaço para que a taxa básica de juros caia mais rapidamente.

Setembro
Depois de reagir em agosto (alta de 0,9%), a produção da indústria voltou a cair em setembro -2% em relação ao mês anterior. Na comparação com setembro de 2004, houve expansão de 0,2%, número que releva a desaceleração da indústria. Foi a 25ª alta consecutiva em relação ao mês anterior, mas a menor taxa desde setembro de 2003.
Com exceção de bens de capital (máquinas e equipamentos), todas as categorias de uso tiveram queda na comparação entre agosto e setembro.
O destaque negativo ficou com bens duráveis (automóveis, eletrodomésticos e móveis), cuja produção caiu 8,9% ante agosto, na terceira queda mensal consecutiva. No trimestre, o recuo foi de 4,4%. Com altos estoques e prejudicado pela concorrência de produtos importados, o ramo de eletrodomésticos foi o que mais contribuiu para a retração dos bens duráveis -celulares e veículos, por sua vez, tiveram desempenhos melhores.
Sob influência da menor fabricação de calçados e artigos de vestuário, os bens não-duráveis (alimentos, bebidas, calçados, vestuário e outros) registraram retração de 3,4% de agosto para setembro. No terceiro trimestre, o decréscimo ficou em 0,6%.
Para Isabella Nunes, gerente da Pesquisa Industrial Mensal do IBGE, estoques excessivos, câmbio desfavorável às exportações e benéfico às importações (o que reduz a competitividade de produtos nacionais), menor confiança e maior nível de endividamento do consumidor e perda de fôlego do crédito explicam a retração da indústria em setembro.
Segundo Nunes, houve um descompasso entre produção e vendas, que levou à formação de estoques. "Com vendas da indústria em queda há três meses e a produção estável nesse período, o setor industrial acumulou estoques e teve de ajustá-los em setembro." De acordo com a CNI (Confederação Nacional da Indústria), a indústria vendeu menos em julho (-0,60%), agosto (-1,02%) e setembro (0,47%).

Capacidade instalada
Estêvão Kopschitz, do Ipea, cita mais dois fatores: o esgotamento da capacidade instalada da indústria -que cresceu de meados de 2004 a meados de 2005 no rastro de ociosidade das linhas de montagem provocada pelo fraco desempenho de 2003- e o efeito defasado dos juros elevados. "A indústria chegou a um ponto que mais crescimento depende de mais investimento", afirmou.
Se ficar estagnada até o final do ano, o setor industrial crescerá 3,3% na comparação com 2004, considerando o atual patamar de produção.
Na avaliação de Jason Vieira, economista da GRC Visão, a política monetária restritiva, sem corte de juros de setembro de 2004 a setembro de 2005, teve duplo efeito na indústria: fez com que os investimentos no aumento da produção fossem adiados e diminuiu a demanda pelos produtos, o que levou o setor a acumular estoques.
A única boa notícia em setembro foi o aumento na produção de bens de capital -1,1% no mês e 0,5% no terceiro trimestre. Segundo Nunes, do IBGE, a alta indica que prosseguem os investimentos em máquinas e equipamentos que permitirão ampliar a capacidade de produção e a infra-estrutura. Tal movimento, diz Nunes, eleva, conseqüentemente, o potencial de crescimento do país.


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