São Paulo, quinta-feira, 10 de novembro de 2005

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PÉ NO FREIO

Importação em alta e consumidor endividado esfriam a produção

Indústria faz projeção mais pessimista para este ano

FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

A queda de 2% na produção industrial em setembro em relação a agosto levou entidades que representam o setor a rever suas projeções para este ano.
O Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), que reúne 40 empresas, reduziu de 4% para 2,5% a projeção de crescimento para a indústria em 2005. A Abimaq, associação dos fabricantes de máquinas, prevê queda de 5% na produção industrial neste ano, principalmente devido ao aumento das importações. Esperava expansão de 5%.
O desempenho da indústria até setembro divulgado ontem pelo IBGE não surpreendeu os empresários, mas não agradou. A produção perdeu fôlego, segundo informam, principalmente porque o consumidor chegou ao limite da capacidade de endividamento.
Além disso, citam os elevados juros cobrados no Brasil, apesar de a Selic (taxa básica de juros) indicar tendência de queda, e o fato de a taxa de câmbio estar mais desfavorável às exportações e mais favorável às importações.
"O terceiro trimestre foi mais fraco para a indústria, o que pode resultar até num PIB [Produto Interno Bruto] negativo para o país no período na comparação com o segundo trimestre. As encomendas do comércio não foram tão favoráveis para a indústria. Ou os comerciantes estão mais cautelosos ou estão importando para o Natal", afirma Julio Gomes de Almeida, diretor-executivo do Iedi.
Considerada um dos termômetros da economia, a indústria de máquinas opera em ritmo mais fraco desde o início do terceiro trimestre. "A taxa de câmbio do jeito que está desestimula as exportações e estimula as importações. E a crise no setor agrícola resulta em menor consumo no interior. Tudo isso leva a indústria a produzir menos", afirma Newton Mello, presidente da Abimaq.
Um dos setores que apresentaram pior desempenho em setembro, segundo informa o IBGE, foi o de bens de consumo duráveis, mais dependente de crédito.
A Eletros, associação que reúne a indústria de produtos eletroeletrônicos, informa que os fabricantes de eletroportáteis e eletrodomésticos (fogão e geladeira) foram os que mais sentiram a retração do consumidor, que ficou mais evidente a partir de julho.
No terceiro trimestre deste ano, as vendas desses produtos caíram cerca de 10% em relação a igual período do ano passado, segundo informa a Eletros. "O setor todo deve crescer 14% neste ano em relação ao ano passado porque as vendas de TVs e DVDs estão 30% maiores do que as de 2004", diz Paulo Saab, presidente da Eletros.
O consumidor está mais desanimado também, na análise de Claudio Vaz, presidente do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo), por causa da crise política. "O clima não está favorável para o consumo nem para os investimentos. O crédito consignado está perdendo força. Esse crédito é garantido, mas só pode ocupar um pedaço da renda."

13º salário
A expectativa dos empresários é que haverá melhora nas vendas neste último trimestre do ano por conta do pagamento do 13º salário e de reajustes de salários de algumas categorias profissionais. "Isso faz com que o final de ano seja menos ruim", afirma Vaz.
A indústria instalada na Região Metropolitana de São Paulo não mexeu no quadro de pessoal. "O nível de ocupação na indústria dessa região está estabilizado num patamar elevado desde julho", informa Clemente Ganz Lúcio, diretor-técnico do Dieese.
Em setembro deste ano, o índice de ocupação na indústria da região estava em 78,1% -considerando que em 1985 o índice de ocupação era de 100%. Em setembro de 2004, estava em 77,6%. E, em setembro de 2003, em 70%, segundo informa o Dieese. "É provável que o emprego caia no final do ano na indústria, mas cresce no comércio e nos serviços", afirma Ganz Lucio.


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