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PÉ NO FREIO
Importação em alta e consumidor endividado esfriam a produção
Indústria faz projeção mais
pessimista para este ano
FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL
A queda de 2% na produção industrial em setembro em relação
a agosto levou entidades que representam o setor a rever suas
projeções para este ano.
O Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial),
que reúne 40 empresas, reduziu
de 4% para 2,5% a projeção de
crescimento para a indústria em
2005. A Abimaq, associação dos
fabricantes de máquinas, prevê
queda de 5% na produção industrial neste ano, principalmente
devido ao aumento das importações. Esperava expansão de 5%.
O desempenho da indústria até
setembro divulgado ontem pelo
IBGE não surpreendeu os empresários, mas não agradou. A produção perdeu fôlego, segundo informam, principalmente porque
o consumidor chegou ao limite da
capacidade de endividamento.
Além disso, citam os elevados
juros cobrados no Brasil, apesar
de a Selic (taxa básica de juros) indicar tendência de queda, e o fato
de a taxa de câmbio estar mais
desfavorável às exportações e
mais favorável às importações.
"O terceiro trimestre foi mais
fraco para a indústria, o que pode
resultar até num PIB [Produto Interno Bruto] negativo para o país
no período na comparação com o
segundo trimestre. As encomendas do comércio não foram tão favoráveis para a indústria. Ou os
comerciantes estão mais cautelosos ou estão importando para o
Natal", afirma Julio Gomes de Almeida, diretor-executivo do Iedi.
Considerada um dos termômetros da economia, a indústria de
máquinas opera em ritmo mais
fraco desde o início do terceiro
trimestre. "A taxa de câmbio do
jeito que está desestimula as exportações e estimula as importações. E a crise no setor agrícola resulta em menor consumo no interior. Tudo isso leva a indústria a
produzir menos", afirma Newton
Mello, presidente da Abimaq.
Um dos setores que apresentaram pior desempenho em setembro, segundo informa o IBGE, foi
o de bens de consumo duráveis,
mais dependente de crédito.
A Eletros, associação que reúne
a indústria de produtos eletroeletrônicos, informa que os fabricantes de eletroportáteis e eletrodomésticos (fogão e geladeira) foram os que mais sentiram a retração do consumidor, que ficou
mais evidente a partir de julho.
No terceiro trimestre deste ano,
as vendas desses produtos caíram
cerca de 10% em relação a igual
período do ano passado, segundo
informa a Eletros. "O setor todo
deve crescer 14% neste ano em relação ao ano passado porque as
vendas de TVs e DVDs estão 30%
maiores do que as de 2004", diz
Paulo Saab, presidente da Eletros.
O consumidor está mais desanimado também, na análise de
Claudio Vaz, presidente do Ciesp
(Centro das Indústrias do Estado
de São Paulo), por causa da crise
política. "O clima não está favorável para o consumo nem para os
investimentos. O crédito consignado está perdendo força. Esse
crédito é garantido, mas só pode
ocupar um pedaço da renda."
13º salário
A expectativa dos empresários é
que haverá melhora nas vendas
neste último trimestre do ano por
conta do pagamento do 13º salário e de reajustes de salários de algumas categorias profissionais.
"Isso faz com que o final de ano
seja menos ruim", afirma Vaz.
A indústria instalada na Região
Metropolitana de São Paulo não
mexeu no quadro de pessoal. "O
nível de ocupação na indústria
dessa região está estabilizado
num patamar elevado desde julho", informa Clemente Ganz Lúcio, diretor-técnico do Dieese.
Em setembro deste ano, o índice
de ocupação na indústria da região estava em 78,1% -considerando que em 1985 o índice de
ocupação era de 100%. Em setembro de 2004, estava em 77,6%. E,
em setembro de 2003, em 70%, segundo informa o Dieese. "É provável que o emprego caia no final
do ano na indústria, mas cresce
no comércio e nos serviços", afirma Ganz Lucio.
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