São Paulo, quinta-feira, 10 de novembro de 2005

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EUFORIA

Governo obtém US$ 500 mi a juros menores que em operação semelhante de fevereiro; analistas não vêem piso para moeda

Tesouro faz captação, e dólar cai a R$ 2,179

FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Em seu oitavo dia seguido de queda, o dólar desceu ontem a R$ 2,179. A simples atuação do BC no mercado à vista, por meio da compra de moeda, mostrou não ter condições de conter a apreciação do real.
O que ninguém sabe dizer é qual seria o piso para o dólar. A maioria acha provável que a moeda seguirá em queda e até bata nos R$ 2,00 em breve.
Ontem, a soma de ingressos de recursos -tanto no mercado à vista quanto no futuro- e a reabertura da emissão de bônus no mercado internacional pelo Tesouro fizeram o dólar cair mais 0,73%. No momento mais intenso do dia, a moeda americana foi a R$ 2,164, em baixa de 1,41%.
No fim da tarde, o Tesouro anunciou que emitiu US$ 500 milhões em títulos da dívida externa. Sobre esse valor, o Tesouro irá pagar juros de 7,765% ao ano até 2015, quando o empréstimo deverá ser quitado.
Em fevereiro, o Tesouro já havia lançado um título da dívida com vencimento em 2015. Naquela ocasião, porém, os juros foram fixados em 7,9% ao ano -3,53 pontos percentuais acima da taxa paga por papéis semelhantes lançados pelos EUA. Ontem, a diferença ficou em 3,12 pontos.

Sem poder de fogo
Natan Blanche, economista da Tendências Consultoria, diz que, se o BC quisesse atuar para formar a taxa de câmbio -ou seja, manter o dólar em determinado patamar-, não teria "poder de fogo para isso".
"O mercado de câmbio movimenta cerca de US$ 1,6 bilhão diariamente. O BC e o Tesouro, juntos, dado o tamanho do mercado, que é muito grande, não teriam como determinar a taxa de câmbio, se tivessem essa intenção."
Oficialmente, o BC voltou a realizar leilões de compra de dólares no início de outubro para recompor as reservas internacionais do país. No mês passado, a autoridade monetária retirou aproximados US$ 3,5 bilhões do mercado de câmbio. Ontem, o BC voltou a fazer leilão para adquirir moeda. Neste mês, estima-se que as intervenções já rondem os US$ 2 bilhões. Mesmo assim, o dólar está com perdas de 3,28% neste mês.
Para Maristella Ansanelli, economista-chefe do banco Fibra, o dólar deixou de perder valor em outubro -quando subiu 1,03% em relação ao real- mais por causa do cenário internacional mais turbulento do que pela volta das intervenções do BC.
"Dados recentes da economia norte-americana melhoraram o apetite por ativos de emergentes. Assim, o real retomou seu movimento de apreciação. Não há o que o BC possa fazer para segurar o dólar", Ansanelli.
Na noite de terça, a autoridade monetária anunciou que não retomaria os leilões de "swap cambial reverso", que tem efeito de compras de dólares no mercado futuro, como muitos esperavam.
A economista do Fibra diz que o mercado tem sentido uma movimentação mais forte no segmento cambial da BM&F (Bolsa de Mercadorias & Futuros) nos últimos dias. E é esse movimento que tem fortalecido o real.
"Se o BC entender que o aumento dos negócios no mercado futuro não é apenas momentâneo, é possível que retome os leilões de swap reverso." Dessa forma, conteria o movimento, que tem influenciado a taxa do câmbio no mercado à vista.
As posições vendidas têm aumentado nos últimos dias no mercado de câmbio futuro. A elevação dos "vendidos" mostra que há mais gente apostando ou mesmo trabalhando para que o real se mantenha valorizado.

Recursos captados
Com a operação do Tesouro, sobe para US$ 7,5 bilhões o total de créditos obtidos pelo governo, neste ano, no mercado internacional. O objetivo inicial era captar US$ 4,5 bilhões ao longo de 2005, mas, diante dos juros mais baixos que o país tem conseguido pagar no exterior, decidiu-se antecipar emissões que só seriam feitas a partir do ano que vem.
O plano de financiamento externo do governo prevê a emissão de US$ 9 bilhões em títulos da dívida externa entre 2006 e 2007. Desse total, US$ 3 bilhões já foram captados neste ano.
O dinheiro obtido com essas operações é depositado nas reservas em moeda estrangeira. Esses recursos, por sua vez, são usados no pagamento da dívida externa do setor público e em eventuais intervenções no câmbio. Anteontem, as reservas internacionais estavam em US$ 61 bilhões, aproximadamente US$ 4 bilhões acima do nível observado no início de outubro, quando o BC começou a comprar dólares.


Colaborou Ney Hayashi da Cruz, da Sucursal de Brasília


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