|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
EFEITO COLATERAL
Burocracia, alta do dólar e demora na aprovação da "MP do Bem" podem inviabilizar pólo siderúrgico de US$ 10 bi
China suspende usina de US$ 2,4 bi no MA
CLÁUDIA TREVISAN
DA REPORTAGEM LOCAL
O Pólo Siderúrgico do Maranhão, que atrairia investimentos
de US$ 10 bilhões, corre o risco de
não sair do papel. A valorização
do real, o atraso na aprovação da
"MP do Bem", conflitos no licenciamento ambiental das usinas, a
disputa política em torno da regularização do terreno e a super-oferta de aço no mundo conspiram contra o projeto.
A chinesa Baosteel anunciou
anteontem o adiamento do investimento de US$ 2,4 bilhões que faria em conjunto com a brasileira
Vale do Rio Doce e a européia Arcelor no pólo do Maranhão. "Tivemos algumas dificuldades em
termos de aquisição de terrenos,
certificações ambientais e impostos", afirmou o presidente mundial da Baosteel, Xu Lejiang, de
acordo com a agência Reuters,
sem definir novos prazos.
O governador do Maranhão, José Reinaldo Tavares (PTB), disse
que os investimentos não começarão neste ano e, talvez, nem em
2006, o último de seu mandato.
"O Brasil perdeu a época de
grande euforia mundial com o
mercado do aço", declarou Tavares à Folha. Segundo o governador, o atraso decorre de questões
"conjunturais", que podem ser
superadas em 2006 ou perdurar
por mais três a cinco anos. A mais
grave, em sua opinião, é a excessiva valorização do real em relação
ao dólar, que aumenta o valor dos
investimentos externos e reduz a
rentabilidade dos exportadores.
O investimento de US$ 2,4 bilhões é um dos mais ambiciosos
itens do relacionamento entre
Brasil e China e foi a estrela dos
projetos sacramentados pelos
presidentes Hu Jintao e Luiz Inácio Lula da Silva durante visita do
chinês ao Brasil, em 2004.
Outra empresa que entraria no
pólo siderúrgico em conjunto
com a Vale, a sul-coreana Posco,
já havia suspendido a decisão há
alguns meses. A siderúrgica preferiu colocar suas fichas na construção de uma usina na Índia,
com capacidade para produzir 3
milhões de toneladas/ano.
O adiamento dos investimentos
ocorre em um momento de queda do preço do aço no mercado
internacional, provocada pelo aumento da produção na China.
O país asiático importava aço
até o ano passado, mas deve fechar 2005 como exportador do
produto. A China aumentou sua
capacidade de produção para cerca de 350 milhões de toneladas/ano, o que pode levar a uma super-oferta mundial. É por isso que o
governador do Maranhão diz que
o Brasil perdeu o melhor momento para investir no setor.
O projeto do pólo do Maranhão
prevê uma terceira usina, com investidores ainda não definidos. A
capacidade total seria de 22,5 milhões de toneladas/ano. O Brasil
produz hoje cerca de 34 milhões.
As usinas do Maranhão fazem
parte da estratégica da Vale de
trazer investimentos em siderurgia ao Brasil. Maior produtora e
exportadora de minério de ferro
do mundo, a empresa tem interesse em fornecer a matéria-prima a empresas instaladas no território nacional, nas quais teria participação minoritária.
Apesar de a opção pelo Maranhão só ter sido definida no ano
passado, o investimento conjunto
com a Baosteel vem sendo discutido há três anos, afirma o diretor
de Novos Negócios e Energia da
Vale, Murilo Ferreira.
Nesse período, dois outros projetos trazidos ao Brasil pela mineradora tiveram evolução mais rápida: a usina da alemã Thyssen-Krupp no Rio e a que será construída no Ceará pela sul-coreana
Dongkuk e a italiana Danieli.
"Estamos preocupados com o
projeto de São Luís", disse Ferreira à Folha. O diretor da Vale disse
que não recebeu nenhuma comunicação oficial da Baosteel sobre o
adiamento dos investimentos.
"Continuamos com a mesma disposição de tocar o projeto." A usina do Maranhão usaria o minério
de ferro produzido pela Vale em
Carajás, no Pará.
Segundo Ferreira, a excessiva
valorização do real é um problema para todos os projetos de investimentos voltados à exportação que estão vindo para o Brasil,
não apenas o da Baosteel.
Ferreira atribui o atraso no Maranhão à demora na regularização do terreno e na aprovação da
"MP do Bem", que desonera impostos em atividades voltadas para exportação. No caso da siderúrgica da Baosteel, a economia é
de US$ 160 milhões em tributos.
A "MP do Bem" perdeu a validade no início de outubro e teve
de ser incluída em outra medida
provisória, que terminou aprovada no fim do mês.
A transformação do terreno em
área industrial está encontrando
dificuldades na Câmara de Vereadores de São Luís, atribuída pelo
governador a disputas políticas
com a família Sarney, da qual é
adversário.
Sem a regularização do terreno,
a Vale diz que não pode iniciar o
processo de licenciamento ambiental das obras, outro problema
no caminho dos investimentos.
Fernando César Mesquita, porta-voz do senador José Sarney
(PMDB-AP), disse à Folha que o
grupo político do ex-presidente
não tem nenhum interesse em
adiar o pólo siderúrgico e não tem
maioria na Câmara de Vereadores para impedir a regularização
do terreno.
Texto Anterior: Alta do real e da nafta reduzem lucro da Braskem Próximo Texto: Infra-estrutura: Energia recebe financiamento do governo Índice
|