São Paulo, segunda-feira, 10 de novembro de 2008

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Contra crise, G20 prioriza ação a reforma do sistema

Discussão sobre reforma do sistema financeiro fica para cúpula de Washington

Para clube que representa 85% da economia mundial, risco de recessão supera o de inflação; BCs atuam como bombeiros na crise

Antonio Lacerda/Efe
O ministro Mantega (Fazenda), que preside turno do G20

CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA

O G20, o clube de países que somam cerca de 85% da economia mundial, constatou, em sua reunião em São Paulo, que o risco de recessão é bem maior que o de inflação, do que decorre a determinação de "tomar todas as medidas necessária para estimular o crescimento não-inflacionário"- ou, na prática, reduzir os juros e adotar pacotes de estímulo fiscal.
O ministro brasileiro da Fazenda, Guido Mantega, presidente de turno do G20, aceita a recomendação e aproveita-a para fazer publicamente o máximo de pressão que se pode permitir em público sobre o Banco Central para reduzir os juros. "A perspectiva é de queda da demanda; logo, a preocupação com a inflação cede lugar a outras preocupações", disse ontem o ministro, na entrevista de encerramento do G20. Emendou sutilmente: "As autoridades monetárias saberão adequar-se ao novo cenário".
O México, um dos poucos países, como o Brasil, que não reduziu os juros nos meses de crise, já antecipou que vai fazer a adequação sugerida por Mantega: diante da queda de preços de alimentos e commodities, seu vice-ministro de Finanças, Alejandro Werner, diz que há margem para cortar juros. "Os juros que temos agora não mais mais necessários", disse Werner à margem do encontro do G20. A China, por sua vez, antecipou-se à recomendação de "tomar todas as medidas" para o crescimento: anunciou um pacote de estímulo espetacular pelos números (US$ 586 bilhões, mais ou menos meio Brasil), até 2010.
Mas a recomendação do G20 é matizada: não se trata de uma espécie de PAC global (Programa de Aceleração do Crescimento) e, sim, de ações "consistentes com as circunstâncias [de cada país]".
Traduzindo: países que tenham bom resultado fiscal (receitas menos despesas) devem usar o espaço para estimular o crescimento. Quem tem déficit fica mais limitado.
O Brasil, que tem saldo, não vê, no entanto, necessidade de aplicar agora algo parecido ao que anunciaram os chineses. "Não temos uma queda de atividade que nos leve a isso", diz Mantega.
O fato de o G20 ter recomendado medidas para incentivar o crescimento revela que as autoridades financeiras continuam mais preocupadas em atuar como bombeiros, atacando os diferentes focos de crise, do que em pensar no futuro, na reforma da arquitetura financeira internacional -que deveria ser o principal objetivo da reunião em São Paulo.
É natural que seja assim porque os ministros e presidentes de bancos centrais verificaram que todos os colossais pacotes de suporte a bancos e instituições financeiras ainda não foram capazes de restabelecer o fluxo de crédito para a economia. Nem mesmo entre os bancos voltou-se à normalidade.
Se não se sentem seguros para emprestar entre si, os bancos mais ainda hesitarão em financiar os demais setores da economia. Conseqüência inescapável: "Já há uma certa recomposição da liquidez internacional, mas embrionária e insuficiente para recompor o nível de atividade", afirmou o ministro Mantega.
Nesse cenário, acaba sendo normal que a discussão sobre a reforma do sistema financeiro internacional fique limitada mesmo para a cúpula da semana que vem em Washington. Ela não irá além de determinar uma agenda e um cronograma para as reformas. Explica Mantega: "A crise não pode esperar a reforma do sistema. É preciso trocar a roda do carro com ele em movimento".


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