São Paulo, segunda-feira, 10 de novembro de 2008

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Contra desaceleração, China lança pacote de US$ 586 bi

Recursos para estimular a economia devem ser aplicados nos próximos 2 anos

Valor do pacote anunciado pelo governo da China equivale a quase 2,5 vezes o total de investimentos previstos no PAC brasileiro

RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM

O governo chinês anunciou ontem um pacote de investimentos de 4 trilhões de yuans (o equivalente a R$ 1,23 trilhão -US$ 586 bilhões) para os próximos dois anos a fim de estimular a economia, ameaçada pela desaceleração interna e pela queda nos mercados que importam produtos chineses.
O valor do pacotão chinês representa uma injeção de recursos de 7% do PIB (Produto Interno Bruto) anual do país em 2009 e 2010. A soma das riquezas da China neste ano deve somar US$ 3,5 trilhões. Os recursos do pacote equivalem a quase duas vezes e meia o total de investimentos previstos no PAC brasileiro (R$ 504 bilhões) de 2007 a 2010.
Ou a três vezes o total das exportações brasileiras previstas para este ano. O resgate dos EUA aos mercados, aprovado pelo Congresso, é de US$ 700 bilhões. A economia americana chega perto de US$ 14 trilhões.
Dez áreas serão contempladas, como habitação popular, infra-estrutura rural, água, eletricidade, transportes e reconstrução de áreas devastadas por tragédias naturais, como a Província de Sichuan, que sofreu um terremoto em maio.
Apenas no atual bimestre de novembro e dezembro, o governo promete gastar 400 bilhões de yuans (R$ 123 bilhões), com fundos do Orçamento deste ano e um adiantamento das verbas do ano que vem. O pacote promete cortar impostos de valor agregado e circulação de mercadorias equivalentes a 120 bilhões de yuans (R$ 36,9 bilhões).
O limite dos bancos comerciais para a concessão de empréstimos será abolido para priorizar fundos para pequenas e médias empresas, inovação tecnológica, mecanização rural e fusões e aquisições de empresas, segundo divulgou a agência estatal de notícias Xinhua.
"A expansão de crédito deve focar em esferas que promovam e consolidem o crédito ao consumidor", diz a nota.
O pacote divulgado ontem foi decidido pelo gabinete chinês na quarta-feira.

Crescimento em queda
O pacote demonstra a apreensão do regime chinês com a coleção de números negativos dos últimos meses.
O PIB avançou 11,9% no ano passado e estava previsto crescimento acima de 10% neste ano e em 2009. As previsões agora apontam para 9,4% em 2008 e 7,9% no ano que vem.
Economistas acham que os números serão menores e revisam para baixo as previsões. O crescimento no terceiro trimestre, de 9%, foi o menor desde 2003.
Nos últimos dois meses, o governo tentou outras medidas de estímulo, como três cortes na taxa de juros, menores exigências para concessões de empréstimos e abolição de taxas e impostos para a compra do primeiro imóvel próprio. Mas nenhuma delas reanimou a confiança do consumidor chinês.
As vendas de apartamentos e carros estão em queda, assim como as previsões para o setor exportador, que vende quase metade da produção a mercados ameaçados de recessão, como União Européia e EUA.
A crise afeta os três setores que mais empregam no país -campo, exportações e construção civil.
O Centro de Pesquisa em Desenvolvimento do Conselho de Estado prevê que a renda dos agricultores cresça até 7% em 2008, dois pontos abaixo do objetivo do governo, por causa da queda nos preços agrícolas.
Cerca de 10 mil fábricas têxteis e de brinquedos fecharam nos primeiros nove meses do ano. O governo não divulgou estatísticas sobre o emprego.


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