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Especialista defende pausa na distribuição de renda
DA REPORTAGEM LOCAL
O economista Sergei Soares,
especialista em desigualdade
social do Ipea (Instituto de Política Econômica Aplicada),
vinculado ao Ministério do Planejamento, afirma que o governo deveria "dar um tempo" na
distribuição de renda para fazer o país voltar a crescer.
"Sempre fui uma pessoa profundamente preocupada com
distribuição de renda. Mas temos de dar um tempo. Quando
o nosso PIB tiver crescido uns
10%, o país vai estar com muito
mais sobra fiscal. Aí podemos
continuar", afirma. Leia entrevista à Folha.
(FCZ)
FOLHA - A estagnação da classe
média é fruto apenas do baixo crescimento ou há um aumento do peso
tributário sobre ela?
SERGEI SOARES - Acho que são as
duas coisas: o baixo crescimento e um aumento muito grande
da tributação. Grande parte do
aumento da tributação bateu
na classe média porque em certo sentido todo mundo perdeu.
Menos o governo e outros setores que tiveram compensações
que os levaram a uma melhora.
E essas compensações têm origem nos impostos.
FOLHA - Distribuição de renda sem
crescimento tem limite?
SOARES - Para mim, o mundo
ideal é o seguinte: a economia
cresce muito, a classe média
cresce um pouco, e os pobres
crescem muito. Esse é o meu
mundo ideal, e eu não acho isso
impossível. Ainda acho que, basicamente, depende de a gente
resolver um pouquinho o nosso
nó fiscal e começar a investir
em infra-estrutura. O que está
segurando o crescimento no
Brasil é a falta de infra-estrutura. É a falta de estrada, porto,
eletricidade, aeroporto.
Sempre fui uma pessoa profundamente preocupada com
distribuição de renda. Esse foi
meu objeto de estudo a vida toda e acho que esse tem de ser o
objetivo final da política pública para que se tenha uma sociedade justa. Mas, na minha opinião, temos de dar um tempo
na distribuição de renda. Não
aumentar o salário mínimo...
FOLHA - Dar um tempo na distribuição de renda?
SOARES - Exatamente. Deixar
de dar aumentos reais para o
salário mínimo. Só corrigir pela
inflação. Concordo 100% com o
Guido Mantega (Fazenda). Temos de ficar (no próximo reajuste do mínimo) em R$ 367.
Dar só a inflação por um, dois
ou três anos. Quando o nosso
PIB tiver crescido uns 10%, o
país vai estar com muito mais
sobra fiscal. Aí pode continuar
aumentando o salário mínimo
em termos reais. A área social
tem que melhorar, mas, no momento, o que nós precisamos
desesperadamente é de investimento público.
FOLHA - Há quem defenda que o
problema não são os gastos correntes ou com a Previdência, mas a conta com os altos juros, que estão em
queda. Isso abriria novo espaço para
distribuir mais renda.
SOARES - Acho que o que for
sendo liberado dos juros deve ir
para um rateio: reduz-se um
pouco o superávit primário
(economia para pagar juros), e,
ao mesmo tempo, aumentam-se os investimentos na área de
infra-estrutura. Temos que
aproveitar essa fase de menor
despesa com a conta de juros
para alavancar investimentos.
FOLHA - A tendência dos últimos
anos tem sido, em qualquer brecha
fiscal, aumentar os gastos correntes.
Não os investimentos.
SOARES - Eu acho que o governo tem que ter um mínimo de
força e dizer: "Não! Acabou!
Agora, ninguém ganha mais nada até a gente não botar a economia para crescer". Daqui a três anos, a economia está crescendo. Aí vai ter para todo
mundo. Tem que dizer chega.
Vamos investir em infra-estrutura, porque é o seguinte: o juro
vai cair, as empresas vão recomeçar a investir um pouco
mais e certamente o consumo
vai aumentar. Aí a economia vai
começar a crescer e a gente vai
chegar aos limites logísticos. O
Brasil não tem porto, estrada e
eletricidade para um crescimento muito alto. Temos de
mandar ver na infra-estrutura.
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