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Mercado Aberto
GUILHERME BARROS - guilherme.barros@uol.com.br
Cautela do governo ajuda BC, diz Armínio
O resultado do PIB do terceiro trimestre foi mesmo surpreendente, bem acima das
previsões dos economistas,
mas já ficou para trás. O retrato
hoje da economia é muito diferente dos números divulgados
ontem pelo IBGE.
"Os sinais de desaceleração
da economia são evidentes",
diz Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central e sócio-diretor da Gávea Investimentos. "Todas as informações positivas [do PIB] constituem
uma imagem refletida pelo retrovisor", diz Octavio de Barros, diretor de Pesquisas Econômicas do Bradesco.
Os números do PIB do terceiro trimestre são mesmo muito
favoráveis. Trata-se do 27º
crescimento consecutivo na
comparação de trimestre contra trimestre anterior, o que
configura o mais longo ciclo de
expansão da série trimestral do
IBGE, a partir de 1991. Com o
crescimento de 6,8% contra o
ano passado, o PIB acumula
uma alta de 6,3% nos últimos
quatro trimestres, a mais elevada desde 1995.
Segundo Octavio de Barros, a
taxa de Formação Bruta de Capital Fixo (investimento) atingiu seu maior patamar, de
20,4% no terceiro trimestre, o
que favoreceu a elevação do
PIB potencial para 5,3%.
Apesar desses números positivos, ainda é elevada, pelos cálculos de Octavio de Barros, a
possibilidade de recuo do PIB
no quarto trimestre. Sua previsão é de uma queda de 1% no
quarto trimestre em relação ao
terceiro, o que fará com que o
PIB cresça 5,8% neste ano.
Armínio Fraga também acha
que são grandes as chances de
registro de números negativos
do PIB neste e no próximo trimestre comparando trimestre
contra trimestre anterior. Mas
ele diz que não fez as contas.
Octavio de Barros enumera
quatro fatores que corroboram
sua tese da freada brusca na
economia: 1) a queda das exportações (tanto em volume como
em valor), principalmente das
commodities; 2) as restrições
de liquidez; 3) a redução da
confiança dos consumidores e
dos empresários, o que afeta
principalmente os investimentos; 4) os sinais de maior cautela dos empregadores, apesar de
o mercado de trabalho continuar favorável.
Diante dessa nova realidade
e da confirmação de novos sinais de desaceleração mais forte, Octavio de Barros afirma
que será inevitável antecipar a
discussão sobre a redução dos
juros. Para a reunião do Copom
desta semana, no entanto, a
maior probabilidade é de manutenção da taxa no atual patamar, de 13,75% ao ano.
Armínio Fraga prefere não
falar de juros. "Quem passou
por lá não fala." Ele diz, no entanto, que o governo precisa
manter cautela nas decisões a
serem tomadas. A resposta deveria ser gradual, mas segura.
"Se o governo tiver cautela, o
Banco Central vai ter mais espaço para trabalhar", afirma
Armínio Fraga.
O ex-BC diz, no entanto, que
o mundo vive hoje um momento sem precedentes. Ninguém,
a seu ver, consegue prever com
exatidão o que vai acontecer. A
crise econômica é muito grande e a resposta dos governos
tem sido muito agressiva. E,
mesmo assim, a incerteza é
enorme, o que, para Armínio, é
o que mais assusta.
Mantega deve anunciar hoje novas medidas
A exemplo do que fez com
a Fiesp na sexta-feira passada, o ministro da Fazenda,
Guido Mantega, reúne-se
hoje, em Brasília, com as seis
maiores centrais sindicais do
país para fazer um diagnóstico da crise e ouvir as reivindicações dos trabalhadores.
Após o encontro, Mantega
deve anunciar algumas medidas de impacto para tentar
minimizar os efeitos da crise
financeira no Brasil.
Na reunião de sexta na
Fiesp, Mantega tinha afirmado aos empresários que
iria fazer o anúncio nesta semana. Só dependia do sinal
verde do presidente Lula.
As medidas a serem tomadas estavam sendo decididas
ontem à noite. O anúncio das
novas ações pode servir de
contraponto à provável decisão do Copom, que também
será tomada hoje, de manutenção da taxa básica de juros em 13,75%, o que deve
frustrar tanto os empresários quanto os trabalhadores.
Há semanas, a Fazenda estuda a aplicação de um novo
pacote com o objetivo de estimular o crescimento da
economia em 2009.
As medidas compreendem
benefícios fiscais para o estímulo ao crédito, postergação
de pagamento de alguns impostos, aumento das parcelas do seguro-desemprego e
algumas vantagens para determinados setores mais afetados pela crise econômica,
como bens de capital, construção civil, agrícola e automobilístico.
Também estavam na mira
do governo algumas medidas
para incentivar os bancos a
liberarem mais recursos para o crédito. Os bancos públicos podem ser usados nessa
estratégia.
DOU-LHE UMA
O mercado de arte asiática, que entrou para o roteiro dos
leilões mundiais no ano passado, começa a perder força, segundo a agência especializada Artprice. Este ano foi de muita expectativa para os leiloeiros da Sotheby's e da Christie's,
mas acabou em decepção. As vendas, que cresciam a cada
temporada em Hong Kong, caíram com a crise. O número
total saltou de US$ 120 milhões no primeiro semestre de
2007 para US$ 173 milhões no segundo. E, no primeiro semestre deste ano, chegou a US$ 198 milhões. No segundo semestre, a taxa de não-vendidos bateu em 35%. Em abril,
US$ 5,4 milhões foram pagos pelo trabalho "Bloodline: The
Big Family No. 3", do artista chinês Zhang Xiaogang. Seis
meses depois, apenas uma de quatro telas do artista apresentadas pela Sotheby's achou comprador em Hong Kong.
LUXO CANINO
Cachorro dentro de banheira do hotel de luxo Canis Resort, em Freising, na Alemanha; a Canis Resort é a primeira rede de hotéis para cachorros do mundo e abre suas portas no dia 15 deste mês
CONTA DE GÁS
O governador José Serra
não vê com bons olhos o repasse integral da defasagem
na tarifa de gás natural solicitado pela Comgás. O tucano tem dito que, neste contexto de crise econômica, o
Estado não pode autorizar
um reajuste muito forte no
preço do produto. O pedido
da distribuidora, que chega a
46% no caso do GNV (Gás
Natural Veicular), está em
análise pela área de energia
do governo paulista.
MUDANÇA
Andrés Taihei Fuentes
Kikuchi é o novo chefe da
área de pesquisa da Link Investimentos.
RUMOS
Os economistas Alcides
Tápias, Alcides Amaral, Horácio Lafer Piva e Roberto
Troster se reúnem, na sexta,
no evento Bússola dos Negócios 2009, promovido pela
Spread, em SP. Na pauta, o
cenário econômico mundial.
com JOANA CUNHA, MARINA GAZZONI
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