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PIB / PERSPECTIVAS
Analistas já esperam retração econômica
Crise global atinge o Brasil com mais força no último trimestre, abalando a confiança de empresários e consumidores
Economistas apontam excesso de cautela dos agentes econômicos e prevêem retração de até 1% no quarto trimestre do ano
DO ENVIADO AO RIO
DA SUCURSAL DO RIO
A fotografia do PIB no terceiro trimestre retrata uma realidade que não existe mais. Desde o estouro mais forte da crise
internacional, no final de setembro, a conjuntura mudou
radicalmente, com queda de
produção, demissões e deterioração de expectativas de empresários e consumidores.
Diante desse novo cenário,
consultorias já revisam projeções e esperam até uma retração do PIB no quarto trimestre.
A MB Associados prevê queda
de até 1% ante o terceiro trimestre. A Tendências projeta
retração de 1,3%. A LCA estima
uma taxa estável.
O otimismo do terceiro trimestre deu lugar à descrença.
"A conjuntura mudou muito a
partir de outubro. E mudou para pior", resume Bráulio Borges, economista da LCA.
Os dados já disponíveis comprovam a deterioração. A produção da indústria caiu 1,7% de
setembro para outubro, segundo o IBGE. A LCA prevê queda
ainda maior em novembro: 3%.
Tal retração é resultado, entre outros fatores, da freada
brusca da indústria automobilística, cuja produção caiu
34,4% em novembro -em outubro, já havia caído 11,6%. Já o
emplacamento de veículos novos caiu 13,4% em outubro e
novembro deste ano em comparação com igual período do
ano passado. "Desde a crise
asiática, não se via uma contração tão expressiva do setor",
afirma Borges.
Leonardo Carvalho, do Ipea,
diz que o setor convive com um
elevado nível de estoques -superior a 300 mil veículos, mais
do que o dobro do normal. Outros ramos, diz, também estão
muito estocados -o que reduz
a perspectiva de reação.
Outro indicador de que este
trimestre será mais fraco que o
anterior é o fluxo de veículos
pesados nas estradas, que caiu
2% em novembro em relação a
outubro e 1% sobre novembro
do ano passado. Em outubro, o
fluxo de veículos pesados nas
estradas já havia caído 0,8% sobre setembro, segundo a ABCR
(Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias) e a
Tendências Consultoria.
A indústria eletroeletrônica,
outro exemplo, vendeu 15%
menos em outubro e novembro
em relação a igual período de
2007, segundo informa um empresário do setor.
"O cenário econômico brasileiro é completamente outro
neste trimestre. Os setores
mais dependentes de financiamento foram os mais afetados",
afirma Júlio Gomes de Almeida, consultor econômico do Iedi (Instituto de Estudos para o
Desenvolvimento Industrial).
Com tal cenário, o emprego industrial estagnou em outubro.
Expectativas
Outro dado preocupante é a
piora rápida e intensa das expectativas de empresários e
consumidores, que atingem os
menores níveis desde 2003.
Segundo a FGV, o índice de
confiança da indústria caiu
19,4% de outubro para novembro. O indicador já havia recuado 9,2% em outubro. Já o índice de confiança dos consumidores cedeu 4,2% de outubro
para novembro. "Os dados
mostram uma excessiva cautela, que pode resultar num recuo
tanto de investimentos como
de consumo, o que certamente
vai afetar a economia", avalia
Ronaldo Souza, do Iedi.
A Associação Comercial de
São Paulo vê redução no consumo desde outubro. As vendas a
prazo, medidas pelo número de
consultas ao SPC, que vinham
crescendo 8,3% de janeiro a setembro, subiram 2,8% em outubro, novembro e início deste
mês sobre igual período de
2007. As vendas à vista caíram
1,1% a partir de outubro sobre
igual período de 2007.
"Isso só muda se a oferta de
crédito voltar a crescer e o consumidor voltar a ter confiança
na economia", diz Emílio Alfieri, economista da ACSP.
Ação
Para o ex-ministro Luiz Carlos Bresser-Pereira, é hora de o
governo agir. "A crise é muito
séria e já atingiu o Brasil. Podemos agora reagir como um coelho, e encostar em um canto, ou
com coragem. Se o governo
conseguir sustentar o dólar valorizado, baixar os juros e tomar medidas para aumentar a
demanda, como mais seguro-desemprego e obras de infra-estrutura, podemos retomar o
crescimento em grande estilo
daqui a um ou dois anos."
Para o ex-ministro Antonio
Delfim Netto, "o Brasil importou a expectativa [de crise] antes da própria doença" e está
pagando um "preço caro por algo que está mais para gripe do
que para pneumonia". Para ele,
não existe "a menor hipótese"
hoje de saber precisamente como será o ano de 2009.
Ana Maria Castelo, da FGV,
diz que os dados indicam o começo de um ciclo vicioso na
economia. "O problema é a profecia que se auto-realiza. A indústria produz menos diante
de uma expectativa de queda de
demanda. Mas não podemos
nos esquecer de que, antes de
começarmos a falar em crise,
havia necessidade de desaceleração por conta da inflação."
Colaborou FÁTIMA FERNANDES,
da Reportagem Local
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