São Paulo, quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

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BC mantém juros, mas sinaliza alta da taxa em 2010

Comitê diz que taxa de 8,75% é adequada "neste momento", o que foi interpretado por analistas como sinal de elevação futura

Decisão da diretoria do BC foi unânime; mercado aguarda alta na Selic no segundo ou no terceiro trimestre do ano que vem

EDUARDO CUCOLO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Apesar do forte crescimento da economia no terceiro trimestre, que será confirmado hoje com a divulgação dos números do PIB, o Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) decidiu manter a taxa básica de juros inalterada em 8,75% ao ano. A instituição começou, no entanto, a preparar o terreno para uma provável alta dos juros em 2010.
A decisão, unânime, já era esperada pelo mercado financeiro, que estava atento não apenas ao resultado da reunião, mas também ao comunicado divulgado pelo BC para justificar a manutenção dos juros no patamar atual.
A taxa básica de juros está no patamar atual desde julho, quando o BC reduziu a Selic pela última vez e a colocou no menor nível desde a criação do Copom, em 1996. Desde então, o discurso oficial da instituição era que o nível atual dos juros seria "consistente" com um cenário de recuperação não inflacionária da economia.
Agora, o BC avalia que a economia já trabalha com uma margem "remanescente" para crescimento sem inflação. Além disso, acrescentou que a taxa de juros é adequada "neste momento". Essas três novas palavras são interpretadas pelos economistas como uma preparação para mudança no discurso oficial.
Essa foi a última reunião do BC programada para este ano. O Copom só volta a se reunir no final de janeiro para avaliar a possibilidade de mudanças na taxa Selic. A expectativa do mercado financeiro, de acordo com a pesquisa semanal realizada pelo BC, é que os juros comecem a subir em junho de 2010, às vésperas das eleições, para terminar o ano em 10,50%. O comitê se reúne a cada 45 dias, aproximadamente, em oito encontros anuais.
A última vez em que os juros subiram foi em setembro de 2008, pouco antes da quebra do banco Lehman Brothers. A piora na crise financeira que se seguiu levou o BC a reduzir a Selic em cinco pontos percentuais entre janeiro e julho, de 13,75% ao ano para o patamar atual.
De acordo com o economista-chefe da Gap Asset Management, Alexandre Maia, o BC deve aumentar os juros entre o segundo e o terceiro trimestre do próximo ano, já que há uma expectativa de aumento da inflação, alimentada também pela piora na política fiscal do governo. Para ele, isso não vai impedir que a economia brasileira cresça cerca de 5% no próximo ano, já que os estímulos para a recuperação do país ainda terão efeito sobre o PIB em 2010.
"Há uma expectativa de aumento de riscos inflacionários, e a política fiscal também não ajuda. Ao mesmo tempo, os sinais são que [o BC] vai ser paciente e não vai fazer nenhum tipo de ajuste iminente nos juros", diz Maia.
Novas pistas sobre o futuro da taxa de juros devem ser dadas na reunião de janeiro, que pode ser a última sob a direção do atual presidente do BC, Henrique Meirelles. Ele deve se afastar do cargo em março para decidir se será ou não candidato a algum cargo eleitoral em 2010. Meirelles se filiou ao PMDB neste ano e avalia a possibilidade de ser candidato nas eleições do próximo ano.
A reunião de ontem foi a primeira com a participação do novo diretor de Política Monetária, Aldo Mendes, funcionário de carreira do Banco do Brasil que substituiu o ex-diretor Mário Torós no início do mês.
Torós antecipou sua saída do cargo, programada para o fim do ano, após uma entrevista ao jornal "Valor Econômico", na qual falou sobre a atuação do governo durante a crise.


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