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Aliados para reduzir a crise do Brasil
ALOYSIO BIONDI
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No momento em que o Brasil
se joga nos braços do FMI e dos
EUA, é essencial uma volta completa pelo mundo para avaliar o
que o ano de 1999 reserva aos
brasileiros. Desde já pode-se dizer que 1999 será um ano marcante na história do planeta Terra, com verdadeiras "revoluções", como a consolidação da
força política e econômica da
Europa, capaz de formar um
"bloco" que colocará em xeque a
hegemonia que os EUA vêm desfrutando há décadas. Essa "revolução" permanente, de mudanças no jogo de poder no mundo,
tem sido insuficientemente avaliada nas análises políticas e econômicas. Vale a pena ir direto
aos fatos:
- Europa: com a eleição de
Schroeder na Alemanha, todos
os principais países europeus
passaram a ser governados por
partidos de "esquerda". Há agora homogeneidade de pontos de
vista entre esses países, trazendo
consequências pouco apercebidas já nos últimos meses. Primeira: com o fim das divergências, a
moeda única da União Européia, o euro, começa a "circular"
agora em janeiro. Com ela, o dólar passa a ter um concorrente,
isto é, deixa de ter o privilégio de
ser a única moeda de aceitação
mundial.
- Neoliberalismo: há menos de
um mês, os chefes de Estado dos
países europeus assinaram documento -pouco divulgado- declarando como prioridade absoluta a retomada do crescimento
econômico e a criação de empregos. Isto é, a Europa rejeita exatamente a política defendida por
Clinton, FMI e porta-vozes neoliberais, de prioridade à "liberdade de mercados" (semente da intensa especulação que "quebrou" países) e, principalmente,
à "estabilidade das moedas"
(que tem levado às fantásticas
taxas de juros que quebram o Tesouro e a economia dos países).
- FMI, Clinton: a ascensão da
Europa no cenário mundial significa, assim, um enfraquecimento para FMI e EUA -e seu
receituário recessivo.
- Banco Mundial: entrou em
confronto com o FMI. Há dias,
novo relatório condenou as políticas do Fundo por agravarem os
problemas dos países ao provocarem recessão, quebrarem empresas, derrubarem a arrecadação, aumentarem a inadimplência e, consequentemente, destruírem os bancos.
²
A vez dos EUA
Essas são as "revoluções" no
campo político que 1999 vai consolidar. E no campo econômico?
A Europa tem condições de fazer
frente aos EUA?
- EUA: ao contrário do que a
opinião pública mundial foi levada a acreditar, os EUA sempre
tiveram imensos "rombos", tanto em suas contas de "negócios"
com o resto do mundo como no
Tesouro. Com importações muito acima das exportações, o
"rombo externo" dos EUA chega
a níveis assombrosos, com déficits que estão chegando a US$ 20
bilhões por mês (por mês, mesmo). Em 1998, até outubro, esse
"rombo" alcançou a fábula de
US$ 220 bilhões (em 12 meses).
- Europa (e Japão): opostamente, a Europa tem saldos positivos
substanciais em sua balança comercial: Alemanha, US$ 75 bilhões; França, US$ 30 bilhões;
Itália, US$ 28 bilhões. E o Japão?
Detém saldo recorde, de US$ 120
bilhões até outubro.
- O dólar: por que é que os EUA
conseguem importar muito mais
do que exportam e ficar com esse
"rombo" de US$ 220 bilhões? Como é que os países "vendedores"
das mercadorias são pagos? É
aqui que entra o "segredo" da
hegemonia dos EUA. A chave de
tudo é o fato de o dólar ser a
"moeda" aceita por todos os países. Assim, os EUA "pagam" seus
"rombos" simplesmente emitindo, imprimindo -dólares ou títulos do Tesouro (para cobrir
também os gigantescos déficits
públicos, que chegam a US$ 100
bilhões, US$ 200 bilhões e até
US$ 300 bilhões por ano). Quem
compra esses papéis? Banqueiros, fundos de investimentos, investidores de todos os países, em
operações do mercado internacional.
- Caloteiro: por simplesmente
"imprimirem" dólares, os EUA
sempre puderam viver com
"rombos". Isto é, não são obrigados a cortar as importações, "esfriar a economia" para reduzi-
las, elevar juros e impostos para
provocar "desaquecimento". Isto
é, os EUA não são forçados a
adotar políticas recessivas, exatamente aquelas que Washington e o FMI impõem a países com
"rombos" -como é o caso do
Brasil.
- A dívida: com a emissão de títulos para pagar seus "rombos",
os EUA acumularam uma dívida
fantástica de US$ 3 trilhões (ironicamente, o Japão, tão criticado
por Clinton/FMI, foi o comprador de 25% desses títulos ao longo dos anos, isto é, ajudou os
EUA a cobrir rombos de US$ 750
bilhões).
- A queda: o "rombo" comercial dos EUA está dando novos
saltos, por causa principalmente
das exportações maciças dos países asiáticos, que já acumulam
saldos fantásticos em dólar
(exemplo: a Coréia, com US$ 35
bilhões até outubro). Ao mesmo
tempo, a produção industrial
cai, as fábricas demitem (250 mil
até novembro), os lucros das empresas recuam. Todos os indicadores mostram que a economia
dos EUA enfrentará problemas
crescentes em 1999. Isso vai provocar novas turbulências na Bolsa de Valores e mercado financeiro norte-americano.
- A liderança: nesse cenário, o
dólar enfrentará quedas no mercado mundial. Desta vez, o fenômeno não será passageiro, porque os "rombos" são crescentes e
o euro estará em cena. Os governos europeus vão questionar os
privilégios que os EUA sempre tiveram, graças ao dólar, no mundo. Uma "revolução", para ficar.
O governo FHC está aceitando
condições inconcebíveis no acordo com FMI/Clinton. O cenário
mundial mostra que é possível
resistir e procurar outros aliados
-na Europa.
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Aloysio Biondi, 62, é jornalista econômico.
Foi editor de Economia da Folha. Escreve às
quintas-feiras no caderno Dinheiro.
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