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SISTEMA FINANCEIRO
Alta no preço de serviços nos últimos dois anos ultrapassa IPCA-15; analistas vêem falta de concorrência
Reajuste de tarifas bancárias supera inflação
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
O preço de algumas tarifas bancárias aumentou nos últimos dois
anos numa proporção bem maior
do que a inflação média acumulada no período. Existem casos de
reajustes de até 100% dependendo do serviço e do banco, segundo
levantamento feito pela Folha
com base em dados das próprias
instituições financeiras.
De janeiro de 2003 a dezembro
de 2004, o IPCA-15 (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) teve
alta de 18,13%. Já as tarifas, por
sua vez, subiram mais. No ABN-Real, por exemplo, o cartão magnético aumentou 100% -de R$
4,50 para R$ 9,00. Foi a maior variação apurada entre os sete
maiores bancos do país.
A Folha pesquisou cinco tarifas:
DOC, talão de cheque, cheque
avulso, ficha cadastral e cartão
magnético. Outros bancos também promoveram aumentos acima da inflação média. O segundo
talão mensal no Bradesco passou
de R$ 6,00 para R$ 9,70, com alta
de 61,7% em dois anos. Já o DOC
pela internet, cuja tarifa estava estável até o final de 2004 em R$ 5,40
por operação, saltou para R$ 8, alta de 48,2%.
No Itaú, o segundo talão do mês
subiu 33,3% (de R$ 0,90 para R$
1,20), a maior alta entre as tarifas
do banco que foram pesquisadas.
O cheque avulso no ABN também
subiu acima da inflação: ficou
66,7% mais caro, passando de R$
1,50 para R$ 2,50.
Os aumentos também ocorreram nos bancos públicos. Na Caixa Econômica Federal, o cartão
sofreu um reajuste de 32,7% em
dois anos, indo de R$ 5,20 para R$
6,90. No Banco do Brasil, ele subiu
30% -de R$ 2,30 para R$ 3,00.
O HSBC foi o único do bancos
analisados cujas tarifas subiram
menos que a inflação do período
-o talão, item que mais aumentou, teve alta acumulada de 10%.
Procurados, os bancos informam, de modo geral, que os custos com a confecção de talões e
cartões e outros serviços se elevaram, o que os obrigou a reajustarem suas tabelas. Também informam que os pacotes de tarifas, pelos quais o cliente paga um valor
mensal fixo para ter acesso a vários serviços, são uma opção mais
barata para o consumidor.
Sai inflação, entra tarifa
Já o analista Luis Miguel Santacreo, da Austin Asis, afirma que,
com a inflação em nível baixo, os
bancos passaram a ter nos serviços uma importante fonte de receita: "Houve uma política deliberada de começar a faturar com tarifas, que passaram a ser vistas como uma alternativa de receita. O
ganho com a inflação permitia ao
banco não cobrar por serviços".
Segundo Santacreo, de 1994 para cá foram incorporados novos
serviços, antes prestados gratuitamente, e seus preços aumentaram. Na visão dele, um dos motivos que explica os aumentos é a
falta de concorrência no setor.
"A promessa de que os estrangeiros que vieram para o Brasil seriam capazes de acirrar a competição ainda não se cumpriu. Eles
acabaram se acostumando a operar no cenário de "spreads" altos",
afirma o analista.
Economista do Ipea (Instituto
de Pesquisa Econômica Aplicada,
órgão ligado ao Ministério do Planejamento), Lúcia Helena Salgado diz que falta ao BC dar mais
atenção ao nível de concentração
do setor e as implicações negativas que isso pode trazer ao consumidor.
Segundo a economista, ex-conselheira do Cade, o BC se preocupa principalmente com a questão
de "risco sistêmico" (do banco
quebrar por problemas de liqüidez) ao analisar uma fusão bancária, sem dar a mesma atenção a
questões de interesse do consumidor, como tarifas, por exemplo.
Salgado afirma ainda que o Brasil é o "único país do mundo" onde não há um sistema de defesa da
concorrência completo para o setor bancário. É que o ramo não está sob a responsabilidade do Cade, diferentemente de outros países nos quais o Banco Central e
órgãos de defesa da concorrência
atuam juntos.
Ambos os especialistas afirmam
que os "spreads" bancários poderiam cair se a concorrência fosse
maior. Indagada sobre o tema,
Salgado afirmou: "É o que acontece em qualquer mercado. Se o
cliente está desconte e tem uma
opção, vai procurar uma taxa menor, uma tarifa menor".
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