São Paulo, terça-feira, 11 de janeiro de 2005

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Para BCs, apetite por risco segue forte

ÉRICA FRAGA
ENVIADA ESPECIAL A BASILÉIA

O apetite por risco continua forte, segundo avaliação dos presidentes de bancos centrais dos principais países desenvolvidos, que formam o chamado G-10 e se reuniram ontem na sede do BIS (sigla em inglês para Bank for International Settlements), na Basiléia (Suíça). Isso deverá significar uma continuação de fluxos de capitais para mercados emergentes como o Brasil que, segundo as autoridades monetárias, têm contribuído para o crescimento global.
Nas palavras do presidente do BCE (Banco Central Europeu), Jean-Claude Trichet, que também coordena o G-10, os dados referentes ao desempenho da economia do Brasil, por exemplo, "são bastante impressionantes".
"O nosso sentimento em relação ao mundo emergente em geral foi que eles se comportaram muito bem em 2004 e nossa expectativa é que se comportarão bem em 2005", disse Trichet, que também ressaltou que os países emergentes têm ajudado, de forma significativa, o bom desempenho da economia mundial.
Na opinião do BCE, a combinação de taxas de juros baixas e pequenos prêmios de risco pagos pelos ativos de países desenvolvidos tem feito com que o interesse de investidores estrangeiros por risco continue grande.
No ano passado, essa busca por lucros já havia levado a fortes fluxos de capital para países emergentes, como o Brasil. E, segundo o presidente do BC brasileiro, Henrique Meirelles, a tendência é que isso se repita neste ano: "[O maior apetite por risco] se traduz em disponibilidade de capital e tendência de queda das taxas de risco, do chamado risco Brasil".
Ao resumir os principais pontos das discussões entre autoridades monetárias ontem, Meirelles ressaltou as conclusões de que a tolerância com inflação mais alta se traduz em redução do crescimento e de que o movimento, nos últimos dez anos, de maior autonomia dos BCs contribuiu para o controle dos preços nos países que adotaram esse modelo.
Coincidência ou não, esses são dois assuntos que têm sido alvo de polêmica no Brasil. Opositores da política do BC defendem a adoção de metas de inflação mais elevadas e criticam o patamar da taxa de juros básica, hoje em 17,75% ao ano. Já o projeto de autonomia da autoridade monetária é defendido pela Fazenda e pelo BC, mas ainda sofre forte oposição de setores petistas.
Em relação à economia mundial, as autoridades monetárias de países desenvolvidos e emergentes anunciaram a previsão de um "substancial crescimento", em 2005, de cerca de 4%, embora deva ocorrer uma desaceleração em comparação a 2004 (4,6%).
Essa avaliação positiva, segundo Trichet, foi compartilhada pelo diretor-geral do FMI (Fundo Monetário Internacional), Rodrigo Rato, que, excepcionalmente, também participou da reunião.
As expectativas de possíveis revezes nesse cenário, de acordo com Trichet, não são negativas. Ao contrário, segundo ele, o G-10 avalia que a oscilação de preços dos ativos no mercado financeiro, a chamada volatilidade, está em um nível bastante baixo. O grupo também ressaltou a percepção de que os efeitos negativos do choque do petróleo, ocorrido no ano passado, já tenham sido absorvidos pelas economias.
A ameaça a essa previsão, para o G-10, é justamente que esses riscos estejam sendo subavaliados agora. É possível, por exemplo, que outras conseqüências adversas da alta dos preços do petróleo em 2004 só se reflitam no desempenho econômico dos países no futuro próximo.
A grande preocupação do momento, no entanto, é com o necessário ajuste dos gigantescos déficits fiscal e em conta corrente dos Estados Unidos. A mensagem oficial passada por Trichet e outros participantes do encontro também teve um viés positivo:
"Temos a melhor oportunidade de um ajuste benigno", afirmou o presidente do BC argentino, Martín Redrado.
Trichet que, na reunião anterior, há dois meses, havia alertado para o perigo das "brutais" oscilações das moedas, elogiou ontem as recentes declarações do secretário do Tesouro dos Estados Unidos, John Snow, de que o país tomará medidas para defender o valor do dólar.
Nos bastidores, no entanto, participantes da reunião revelavam temores. Uma autoridade monetária afirmou, na condição de anonimato, que ajustes da magnitude necessária hoje nunca ocorreram no passado sem gerar crises.


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