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Para BCs, apetite por risco segue forte
ÉRICA FRAGA
ENVIADA ESPECIAL A BASILÉIA
O apetite por risco continua forte, segundo avaliação dos presidentes de bancos centrais dos
principais países desenvolvidos,
que formam o chamado G-10 e se
reuniram ontem na sede do BIS
(sigla em inglês para Bank for International Settlements), na Basiléia (Suíça). Isso deverá significar
uma continuação de fluxos de capitais para mercados emergentes
como o Brasil que, segundo as autoridades monetárias, têm contribuído para o crescimento global.
Nas palavras do presidente do
BCE (Banco Central Europeu),
Jean-Claude Trichet, que também
coordena o G-10, os dados referentes ao desempenho da economia do Brasil, por exemplo, "são
bastante impressionantes".
"O nosso sentimento em relação ao mundo emergente em geral foi que eles se comportaram
muito bem em 2004 e nossa expectativa é que se comportarão
bem em 2005", disse Trichet, que
também ressaltou que os países
emergentes têm ajudado, de forma significativa, o bom desempenho da economia mundial.
Na opinião do BCE, a combinação de taxas de juros baixas e pequenos prêmios de risco pagos
pelos ativos de países desenvolvidos tem feito com que o interesse
de investidores estrangeiros por
risco continue grande.
No ano passado, essa busca por
lucros já havia levado a fortes fluxos de capital para países emergentes, como o Brasil. E, segundo
o presidente do BC brasileiro,
Henrique Meirelles, a tendência é
que isso se repita neste ano: "[O
maior apetite por risco] se traduz
em disponibilidade de capital e
tendência de queda das taxas de
risco, do chamado risco Brasil".
Ao resumir os principais pontos
das discussões entre autoridades
monetárias ontem, Meirelles ressaltou as conclusões de que a tolerância com inflação mais alta se
traduz em redução do crescimento e de que o movimento, nos últimos dez anos, de maior autonomia dos BCs contribuiu para o
controle dos preços nos países
que adotaram esse modelo.
Coincidência ou não, esses são
dois assuntos que têm sido alvo
de polêmica no Brasil. Opositores
da política do BC defendem a
adoção de metas de inflação mais
elevadas e criticam o patamar da
taxa de juros básica, hoje em
17,75% ao ano. Já o projeto de autonomia da autoridade monetária
é defendido pela Fazenda e pelo
BC, mas ainda sofre forte oposição de setores petistas.
Em relação à economia mundial, as autoridades monetárias de
países desenvolvidos e emergentes anunciaram a previsão de um
"substancial crescimento", em
2005, de cerca de 4%, embora deva ocorrer uma desaceleração em
comparação a 2004 (4,6%).
Essa avaliação positiva, segundo Trichet, foi compartilhada pelo diretor-geral do FMI (Fundo
Monetário Internacional), Rodrigo Rato, que, excepcionalmente,
também participou da reunião.
As expectativas de possíveis revezes nesse cenário, de acordo
com Trichet, não são negativas.
Ao contrário, segundo ele, o G-10
avalia que a oscilação de preços
dos ativos no mercado financeiro,
a chamada volatilidade, está em
um nível bastante baixo. O grupo
também ressaltou a percepção de
que os efeitos negativos do choque do petróleo, ocorrido no ano
passado, já tenham sido absorvidos pelas economias.
A ameaça a essa previsão, para o
G-10, é justamente que esses riscos estejam sendo subavaliados
agora. É possível, por exemplo,
que outras conseqüências adversas da alta dos preços do petróleo
em 2004 só se reflitam no desempenho econômico dos países no
futuro próximo.
A grande preocupação do momento, no entanto, é com o necessário ajuste dos gigantescos déficits fiscal e em conta corrente dos
Estados Unidos. A mensagem oficial passada por Trichet e outros
participantes do encontro também teve um viés positivo:
"Temos a melhor oportunidade
de um ajuste benigno", afirmou o
presidente do BC argentino, Martín Redrado.
Trichet que, na reunião anterior, há dois meses, havia alertado
para o perigo das "brutais" oscilações das moedas, elogiou ontem
as recentes declarações do secretário do Tesouro dos Estados
Unidos, John Snow, de que o país
tomará medidas para defender o
valor do dólar.
Nos bastidores, no entanto, participantes da reunião revelavam
temores. Uma autoridade monetária afirmou, na condição de
anonimato, que ajustes da magnitude necessária hoje nunca ocorreram no passado sem gerar crises.
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