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Estrangeiras ameaçam subir tarifa aérea
Medida da Anac pode aumentar taxa de permanência de aviões de vôos internacionais em São Paulo em até 5.126%
Agência justifica a medida ao afirmar que em especial
as companhias estrangeiras deixam seus aviões parados
muitas horas em Guarulhos
GUILHERME BARROS
COLUNISTA DA FOLHA
MAELI PRADO
DA REPORTAGEM LOCAL
JANAINA LAGE
DA SUCURSAL DO RIO
Em protesto contra uma medida prevista pela Anac (Agência Nacional de Aviação Civil)
que aumenta a tarifa de permanência de aviões no aeroporto
de Guarulhos (SP) em até
5.126%, as companhias estrangeiras que operam no país
ameaçam promover aumentos
nos bilhetes que podem chegar
a até 200%. Acenam ainda com
reduções significativas de vôos
para o aeroporto paulista.
Por meio de carta à qual a Folha teve acesso e que foi enviada no final do ano, o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva foi informado dessa ameaça pela Iata (Associação Internacional
do Transporte Aéreo, na sigla
em inglês).
Em dezembro de 2007, a
agência reguladora lançou uma
consulta pública, cujo prazo
termina na próxima segunda-feira, propondo o aumento da
tarifa de permanência para
vôos internacionais no aeroporto de Guarulhos.
A tarifa de pouso (que dá direito ao avião ficar três horas
estacionado no aeroporto) não
será alterada. Já a tarifa de permanência do avião no aeroporto, que tem que ser paga após
essas três horas, aumenta de
US$ 0,35 por tonelada a cada
hora para US$ 18,29, um aumento de 5.126%.
Segundo a Anac, especialmente as estrangeiras deixam
seus aviões parados muitas horas em Cumbica, que apresenta
problemas de pátio, o que restringe outras operações que poderiam ser feitas no aeroporto.
Como uma forma de direcionar esse tráfego para o Galeão,
no Rio, a agência propõe a redução da tarifa de pouso no aeroporto de US$ 8,49 por tonelada a cada hora para US$ 1,42.
"Queremos incentivar as empresas a usar os aeroportos da
forma mais rápida e eficiente
possível", afirma Marcelo Guaranys, diretor da Anac. "Aliviamos a demanda em um aeroporto congestionado e melhoramos a situação nos que têm
maior capacidade."
É por isso que as medidas
propostas pela Anac atingem
também o congestionado aeroporto de Congonhas (SP): se as
empresas permanecerem até
45 minutos no aeroporto, pagam a tarifa anterior, de R$ 2,51
por tonelada a cada hora. O valor pode subir para R$ 403,3 se
os aviões ficarem parados por
mais de 166 minutos.
"Congonhas, por onde todos
querem voar, já que é mais perto para os passageiros, tem as
mesmas tarifas de Guarulhos,
de Brasília e do Santos Dumont, por exemplo. Mas o aeroporto está congestionado.
Faz sentido que as empresas
paguem o mesmo para operar
lá?", questiona Guaranys.
Com a medida, a agência mira nas limitações de infra-estrutura aeroportuária em São
Paulo, evidenciadas em 2007,
que concentra boa parte da demanda de vôos do país.
Em reunião ontem na Anac, a
Iata pediu que a agência estendesse o prazo da consulta pública para 1º de março.
Carta a Lula
A consulta pública deixou as
companhias aéreas estrangeiras em polvorosa. A Iata fez coro ao protesto e mandou a carta
a Lula dizendo que a medida
iria representar um custo de
até US$ 90 milhões para uma
única estrangeira, o que inviabilizaria muitas operações.
"A adoção das medidas propostas levará o Brasil a violar
uma série de tratados bilaterais
assinados com outros países.
Desta forma, é possível que
provoquem fortes protestos internacionais, tais como a aplicação de medidas similares
contra empresas brasileiras."
Acionado pelas companhias
estrangeiras no Brasil, o DOT
(Department of Transportation), que fica em Washington,
também informou ao governo
brasileiro que iria aumentar na
mesma proporção as tarifas do
aeroporto JFK, de NovaYork, o
que iria afetar a TAM e a Varig,
que têm vôos regulares para o
aeroporto americano.
Segundo a Folha apurou,
uma das companhias estrangeiras afirma que, para continuar operando em Guarulhos,
teria que aumentar suas tarifas
aos passageiros em 200%. O
governador de São Paulo, José
Serra (PSDB), e o prefeito de
São Paulo, Gilberto Kassab
(DEM), também foram procurados pelas estrangeiras.
Segundo Norberto Jochmann, da Jurcaib (Junta dos
Representantes das Companhias Aéreas Internacionais no
Brasil), o governo já vinha adotando algumas medidas para
reduzir a presença de aviões estacionados em Guarulhos.
"Nos acordos bilaterais, já não
concedem novas freqüências."
As companhias devem se
reunir hoje para delinear uma
estratégia de argumentação.
"Se as medidas forem aprovadas, as empresas vão cortar
parte dos vôos para o Brasil."
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