São Paulo, sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

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Febraban sobe o tom e ataca pacote de Lula

Federação de bancos reage contra governo, após declarações de Lula de que setor não havia reclamado da alta de tributos

Entidade diz que medidas terão impacto na economia e que "já passou o tempo de soluções paliativas e unilaterais" do governo

DO COLUNISTA DA FOLHA

Em nota à imprensa divulgada ontem, a Febraban (Federação Brasileira de Bancos) reagiu de forma dura contra o recente pacote econômico do governo elevando as alíquotas do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras ) e da CSLL (Contribuição Social sobre o Lucro Líquido).
No texto, a Febraban afirma que, "se não há como ficar indiferente à necessidade de manutenção do equilíbrio fiscal, há também que reconhecer que já passou o tempo de soluções paliativas e unilaterais".
Ouvido pela Folha, o presidente da Febraban, Fábio Barbosa, afirmou que o objetivo da nota foi o de deixar claro à sociedade que as medidas econômicas terão impacto, sim, na economia, irá apertar o crédito e trará reflexos sobre o crescimento do país.
A resposta dura dada por Barbosa contraria a afirmação feita pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em seu programa de rádio semanal, na segunda-feira passada, de que os banqueiros não tinham reclamado das medidas de aumento dos impostos.
"O governo escolheu o caminho que é politicamente mais fácil, mas que não é o tecnicamente mais correto, ao aumentar os impostos, porque encarece o crédito no país, justamente o fator que tem sido o motor do crescimento da economia", afirmou. "A decisão do governo de limitar as condições de crescimento do sistema financeiro terá implicação direta no crescimento do país."
Segundo Barbosa, o mundo inteiro tem a preocupação de preservar e reforçar o seu sistema financeiro, exatamente com o objetivo de não prejudicar o crescimento do país. O Brasil, ao seu ver, está dando um passo atrás ao taxar a rentabilidade do sistema financeiro, com os aumentos das alíquotas do IOF e da CSLL.
O presidente da Febraban citou os exemplos da China, do Japão, dos países europeus e mesmo dos Estados Unidos, que, neste exato momento, tem adotado uma série de medidas com o objetivo de evitar o agravamento da crise no sistema financeiro para não deixar o país entrar em recessão.
"São as dificuldades que estão enfrentando os bancos americanos que ameaçam o crescimento dos Estados Unidos", disse.
Sem poupar críticas ao governo, diferentemente do tom conciliatório que sempre usou para comentar as decisões oficiais, Barbosa afirmou que o país, com essas medidas recentes, está tentando circunscrever o crescimento dos bancos.

Tarifas
Ele inclui nesse pacote, além do aumento dos tributos, a recente decisão do governo de regulamentar por imposição as tarifas bancárias.
"Sem um sistema financeiro forte, o país também não irá conseguir manter um crescimento forte", afirmou Barbosa. "Ao criar dificuldades para os bancos, o crescimento do país é que pode ser afetado."
O presidente da Febraban se mostra inconformado também com o argumento dado pelo governo, ao anunciar o pacote, de que o sistema financeiro estava sendo taxado por ser o segmento mais rentável do país. Na nota encaminhada ontem pela Febraban, ele diz que os bancos apresentaram taxa de retorno abaixo de setores como mecânica, siderurgia, comércio exterior e petróleo e gás.
"Não se pode concluir que a rentabilidade seja mais elevada do setor bancário; ao contrário, está na média da economia brasileira", afirmou a nota.
Barbosa disse que o governo deveria ter partido para a discussão de uma reforma tributária para tentar contornar o problema fiscal, em vez de ter adotado o "caminho mais fácil" de aumentar os impostos sobre o setor bancário.
"O sistema tributário brasileiro já é cheio de distorções e, buscando um remendo aqui e acolá, torna a economia mais complexa e cada vez mais difícil de competir num mercado aberto", afirmou o presidente da Febraban.
(GUILHERME BARROS)


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