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Febraban sobe o tom e ataca pacote de Lula
Federação de bancos reage contra governo, após declarações de Lula de que setor não havia reclamado da alta de tributos
Entidade diz que medidas terão impacto na economia e que "já passou o tempo
de soluções paliativas e unilaterais" do governo
DO COLUNISTA DA FOLHA
Em nota à imprensa divulgada ontem, a Febraban (Federação Brasileira de Bancos) reagiu de forma dura contra o recente pacote econômico do governo elevando as alíquotas do
IOF (Imposto sobre Operações
Financeiras ) e da CSLL (Contribuição Social sobre o Lucro
Líquido).
No texto, a Febraban afirma
que, "se não há como ficar indiferente à necessidade de manutenção do equilíbrio fiscal, há
também que reconhecer que já
passou o tempo de soluções paliativas e unilaterais".
Ouvido pela Folha, o presidente da Febraban, Fábio Barbosa, afirmou que o objetivo da
nota foi o de deixar claro à sociedade que as medidas econômicas terão impacto, sim, na
economia, irá apertar o crédito
e trará reflexos sobre o crescimento do país.
A resposta dura dada por
Barbosa contraria a afirmação
feita pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em seu programa de rádio semanal, na segunda-feira passada, de que os
banqueiros não tinham reclamado das medidas de aumento
dos impostos.
"O governo escolheu o caminho que é politicamente mais
fácil, mas que não é o tecnicamente mais correto, ao aumentar os impostos, porque encarece o crédito no país, justamente o fator que tem sido o
motor do crescimento da economia", afirmou. "A decisão do
governo de limitar as condições de crescimento do sistema
financeiro terá implicação direta no crescimento do país."
Segundo Barbosa, o mundo
inteiro tem a preocupação de
preservar e reforçar o seu sistema financeiro, exatamente
com o objetivo de não prejudicar o crescimento do país. O
Brasil, ao seu ver, está dando
um passo atrás ao taxar a rentabilidade do sistema financeiro, com os aumentos das alíquotas do IOF e da CSLL.
O presidente da Febraban citou os exemplos da China, do
Japão, dos países europeus e
mesmo dos Estados Unidos,
que, neste exato momento, tem
adotado uma série de medidas
com o objetivo de evitar o agravamento da crise no sistema financeiro para não deixar o país
entrar em recessão.
"São as dificuldades que estão enfrentando os bancos
americanos que ameaçam o
crescimento dos Estados Unidos", disse.
Sem poupar críticas ao governo, diferentemente do tom
conciliatório que sempre usou
para comentar as decisões oficiais, Barbosa afirmou que o
país, com essas medidas recentes, está tentando circunscrever o crescimento dos bancos.
Tarifas
Ele inclui nesse pacote, além
do aumento dos tributos, a recente decisão do governo de regulamentar por imposição as
tarifas bancárias.
"Sem um sistema financeiro
forte, o país também não irá
conseguir manter um crescimento forte", afirmou Barbosa.
"Ao criar dificuldades para os
bancos, o crescimento do país é
que pode ser afetado."
O presidente da Febraban se
mostra inconformado também
com o argumento dado pelo governo, ao anunciar o pacote, de
que o sistema financeiro estava
sendo taxado por ser o segmento mais rentável do país. Na nota encaminhada ontem pela
Febraban, ele diz que os bancos
apresentaram taxa de retorno
abaixo de setores como mecânica, siderurgia, comércio exterior e petróleo e gás.
"Não se pode concluir que a
rentabilidade seja mais elevada
do setor bancário; ao contrário,
está na média da economia brasileira", afirmou a nota.
Barbosa disse que o governo
deveria ter partido para a discussão de uma reforma tributária para tentar contornar o problema fiscal, em vez de ter adotado o "caminho mais fácil" de
aumentar os impostos sobre o
setor bancário.
"O sistema tributário brasileiro já é cheio de distorções e,
buscando um remendo aqui e
acolá, torna a economia mais
complexa e cada vez mais difícil
de competir num mercado
aberto", afirmou o presidente
da Febraban.
(GUILHERME BARROS)
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